sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008



08 de fevereiro de 2008
N° 15504 - David Coimbra


A chatice da mulher


Li, consternado, a notícia sobre o sapateiro de Santa Catarina que, para escapar ao aborrecimento que lhe infligia a mulher, cometeu uma infração a fim de ficar preso na cadeia. Pobre homem. O que ele fez para ser tão barbaramente importunado?

Esqueceu o aniversário da mulher. Só. Bastou para ela passar o fim de semana reclamando, apoquentando-o, falando, falando, falando o dia inteiro. Falava também no carro, enquanto ele dirigia ao entardecer, os filhos perplexos no banco de trás.

E tanto falou que o infeliz estacionou em frente à delegacia de polícia, mandou que ela e as crianças descessem e, estando apenas ele no Chevette, que era um Chevette, arremeteu contra a porta de vidro da delegacia, quebrando-a. Feito isso, permaneceu atrás do volante, esperando a volta do plantonista, para quem apresentou os pulsos:

- Me prende, por amor de Deus!

Detido, avisou para que não aceitassem dinheiro da mulher, se ela tentasse pagar a fiança.

- Só aqui posso ficar longe dela e em paz - desabafou.

Imagino-o deitado no catre, no fundo de uma cela infecta, tendo um penico como banheiro e 12 bêbados como companhia, a suspirar:

- Aaaah, o paraíso...

Qualquer homem conhece a dor desse triste sapateiro catarinense. Qualquer homem já experimentou o poder que as mulheres têm de chatear alguém até a morte. De onde vem essa faculdade feminina?

Do instinto maternal.

Toda mulher é uma mãe em potencial e, como mãe, anseia não apenas por cuidar, mas também por "corrigir". Eis uma das razões por que os cafajestes fazem sucesso com as mulheres, além da notória competição existente entre elas. Endireitar um cafajeste é uma nobre tarefa de mãe. É uma missão.

Um homem, ele pode enxergar o suposto defeito no próximo, mas não tentará saná-lo por várias razões, inclusive por preguiça. A mulher, não. A mulher tem esse desprendimento, esse altruísmo.

Ela se debruça sobre o que acredita estar errado, e insiste na emenda por ela proposta, e insiste, e insiste, e insiste, até que a vítima queira se refugiar na paz dos presídios. Ou dos cemitérios.

Agora, claro, há infinitas variações na aplicação do instinto maternal. Duas páginas depois da matéria do sapateiro que se homiziou na cadeia está impressa a notícia a respeito de um brigadiano que, ao sair para o trabalho, só vestiu o colete à prova de balas por insistência da mulher.

Deu-se que, justamente na ação daquele dia, o brigadiano foi alvejado e salvou-se porque o colete aparou a bala. Na foto que ilustra a matéria, o soldado sorridente oferece um frondoso buquê de rosas à mulher, em agradecimento.

Ora, o que motivou a mulher a fazer o marido de sair de colete foi o mesmo instinto maternal que certamente a leva a tentar corrigi-lo a todo momento, irritantemente.

Em resumo: ela chateou o brigadiano até ele concordar em sair de colete. Ele decerto só saiu de colete para escapar à aporrinhação. E assim se salvou! Ou seja: precisamos admitir: às vezes, o instinto maternal acerta.

Às vezes.

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