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sábado, 2 de fevereiro de 2008
02 de fevereiro de 2008 | N° 15498
Paulo Sant'ana
O embate dos chatos
O campo ideal para os chatos é uma pequena roda. Aí então eles atacam demolidoramente.
Chato não perturba comício ou show artístico, justamente porque ele não consegue desviar da ribalta a atenção para ele.
Outra coisa: os chatos são chatos porque têm bastante tempo disponível. Você, leitor, nunca vai ver um chato apressado. Chato gasta tempo como um perdulário.
Outra coisa: uma prova de que os chatos são chatos por não terem nada que fazer é que uma característica básica do chato é a insistência.
Ou seja, o chato é rechaçado em tudo que tenta ou faz. E após o primeiro rechaço, quando a gente pensa que o descartou, o chato volta olimpicamente. E, para surpresa nossa, ele volta sempre com o mesmo assunto.
Insiste o chato porque tem tempo. Quem não tem tempo não insiste. Muda de assunto ou vai embora.
E chato só vai embora se houver um apagão no recinto.
Por que os chatos andam pelas ruas ou pelos recintos à cata de pequenas aglomerações? Exatamente porque todo o chato é um exilado do seu lar.
O lar do chato sempre decreta que a sua casa lhe servirá somente de prisão- albergue: a mulher do chato ou seus filhos determinaram, depois de não agüentarem mais o chato, que ele só pode estar em casa à noite, assim mesmo depois que todo mundo estiver dormindo ou prestes a tal.
Como é indesejável em casa, o chato se atira à prospecção das ruas durante o dia inteiro. E salvem-se as suas vítimas que puderem.
Num coquetel, por exemplo, o chato chega e logo elege umas quatro rodas como preferenciais para seu ataque predatório.
Ele começa a sua rapinagem pela primeira roda. Começa a chatear seus integrantes, um a um ou coletivamente. Às vezes ele é obrigado a chatear a roda inteira, se for aplicar tratamento individual, perde tempo e vê dissolvidas, antes de seu contágio viral, as outras três rodas.
Podem ver que na primeira roda que o chato ataca, que tinha originalmente cinco pessoas, com a chegada do chato fica com seis.
Aos poucos, examinem bem, a roda vai encolhendo. Pronto, o chato está impossível hoje: a roda que tinha seis só resta agora em três integrantes. Dali a pouco restará só o chato e um último desgraçado da roda em companhia do chato.
O chato já esgotou e desintegrou a primeira roda. O coquetel continua se desenvolvendo só no bate-papo e nas bebidas, o que o chato adora. Chato detesta discurso em coquetel.
Ele quer todo mundo conversando, este é o ambiente ideal para sua tara persuasiva e insinuante.
Ele aborda a segunda roda e vê com felicidade que dois dos integrantes já tinham fugido dele na primeira roda.
Interessante é que por mais talentos que haja numa roda, quando um chato se introduz nela, em segundos ele toma conta da palavra. Sim, porque nunca passou pela cabeça de um chato integrar uma roda sem ser o centro de atração.
Nessa altura do campeonato, o nosso chato já demoliu três rodas. E parte para a última roda que escolheu para infernizar.
Estou escrevendo isso porque fui testemunha realmente deste fato no último coquetel a que compareci.
O chato foi chateando a última roda, um por um dos integrantes, que foram saindo de fininho.
Até que, de longe eu espiava, o chato ficou sozinho na roda. Só que então aconteceu o incrível. O que remanesceu na roda com o chato era um outro chato.
E de longe eu pude ver a irritação e a raiva que foram tomando conta dos dois chatos, à medida em que discutiam.
Todos os outros convidados já tinham se retirado ou subido um andar do prédio, por onde se estendia o coquetel. Saíram ou se afastaram, apavorados com os dois chatos.
E no centro do salão ainda se travava o embate do século entre os dois chatos, a finalíssima do campeonato mundial de náusea verborrágica.
Ganhou o chato que defendia a tese de que está correto que as fábricas de papel higiênico tenham diminuído o tamanho do rolo.
Ainda o escutei pronunciando a frase com que pôs a nocaute o seu adversário: "Para que vai querer mais papel higiênico um povo que se queixa de que, em razão do custo de vida e do desemprego, cada vez come menos?"
(Crônica publicada em 26/08/2001)
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