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sábado, 2 de fevereiro de 2008
02 de fevereiro de 2008
N° 15498 - A Cena Médica | Moacyr Scliar
O ouro dos ingênuos
No filme Piratas do Caribe, Johnny Depp vive o papel de um bucaneiro cuja boca é adornada com três belos dentes de ouro.
Recentemente, com as filmagens já encerradas, o ator anunciou que pretendia oferecer os tais dentes no E-Bay, site de leilões on-line "Eu tinha pensado em guardar os dentes para os meus filhos", explicou. "Mas depois achei que eles poderiam ficar meio enojados com essa coisa."
Johnny Deep está certo em sua suposição. Uma enquete feita pelo site Yahoo mostrou que a maioria das jovens entrevistadas sentiria "nojo" se tivesse de beijar alguém com dentes de ouro.
E isso mostra como a cultura é uma coisa que muda, às vezes rapidamente. Médico recém-formado, atendi uma jovem paciente que tinha uma dentadura perfeita - à exceção de um canino, que era de ouro.
Quando lhe perguntei a razão, disse, muito orgulhosa, que, aos 15 anos, tinha ganho o dente como presente de aniversário do pai. E ela não era exceção. Durante muito tempo, dentes de ouro foram, no Brasil e em outros países (sobretudo os da Ásia Central e Cáucaso), símbolo de status. O que, aliás, aparece na literatura.
Uma das mais famosas peças de Nelson Rodrigues (transformada em filme pelo grande Nelson Pereira dos Santos, com Jece Valadão no papel principal) é Boca de Ouro, história de um bicheiro de Madureira que manda trocar todos os dentes brancos e perfeitos de sua boca por pivôs de ouro puro (e que também cultiva o sonho de ser enterrado num caixão de ouro).
A idéia ocorreu a Nelson por causa do chofer de um ônibus que tomava habitualmente. Esse homem tinha 27 dentes na boca, todos de ouro, coisa de que se orgulhava muito.
E a coisa pode ir além: um dentista bósnio colocou em seu cachorro um dente de ouro como forma de recompensar a lealdade do bicho.
O uso do ouro em odontologia faz sentido. Trata-se de um metal praticamente imune à corrosão, maleável o bastante para ser trabalhado, mas duro o bastante para triturar o alimento. Mas ouro também é metal precioso, e daí o apelo à imaginação e à cobiça.
Por volta de 1992, espalhou-se pelo país a notícia de que um estranho fenômeno estaria ocorrendo em templos de várias seitas: dentes de ouro apareciam milagrosamente na boca de fiéis, criando o que na época foi chamado de "Teologia da Prosperidade". Por outro lado, dentes de ouro podiam representar uma fonte de renda.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas trataram de reforçar suas finanças desta maneira. Um dos prisioneiros de campo de concentração, o médico Miklos Nyiszli descreveu o sinistro trabalho coordenado pelo médico Joseph Mengele, "o anjo da morte".
Ele tinha sob suas ordens um grupo conhecido como "comando da extração de dentes", formado por oito homens que, com pés-de-cabra, abriam a boca dos mortos e, com alicates, removiam os dentes de ouro, que depois eram colocados numa solução ácida de modo a remover a matéria orgânica e deixar só o metal.
Uma outra moda é a de diamantes nos dentes. "Você pode ter um sorriso de um milhão de dólares", promete uma joalheira americana, e a letra de um rap pede: "Roube a joalheria, quero enfeitar meus dentes/ Diamantes nos de cima e ouro nos de baixo".
O simbolismo dos dentes é mais do que evidente. Quando um carnívoro mostra os dentes, ele está ameaçando um inimigo.
Quando uma pessoa sorri, está estabelecendo um elo emocional. Daí o cuidado com a estética dentária, algo que já se tornou uma verdadeira especialidade, à qual recorrem sistematicamente atores e atrizes de Hollywood.
Dentes brancos, parelhos, são essenciais num belo rosto. Mas é bom não esquecer que, afinal, a melhor maneira de ter uma dentadura sadia ainda é pela higiene oral: a escovação, a limpeza do tártaro, o uso de flúor, a visita regular ao dentista.
Em matéria de saúde bucal, o ouro é símbolo de fracasso, não de vitória. Sua cotação pode ser elevada na Bolsa, mas nos dentes ele vale muito pouco.
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