quarta-feira, 12 de dezembro de 2007


Dora Kramer - O Estado de S. Paulo - 12/12/2007

Missão impossível

Enquanto não se materializar no painel eletrônico de votações do Senado, a derrota do governo na CPMF continua sendo uma hipótese das mais remotas, quase inacreditável. Tipo da missão impossível.

Luiz Inácio da Silva tem tudo para ganhar: é bom na conversa popular, usa todas as armas à disposição - legítimas e ilegítimas -, leva o Senado a fazer acertos de absolvição a custo altíssimo, tem experiência de combate, dispõe da mais acachapante maioria de que um governo jamais dispôs no Congresso,

tem tempo e espaço de sobra para fazer discurso, conta com as manchetes à sua disposição, é dono da mística do bom negociador, é desprovido de constrangimentos verbais e tem avaliação acima da média por parte de 50% da população.

Isso sem falar na posse de toda a máquina da administração federal e na colaboração da Câmara, paralisada a fim de não atrapalhar o governo no Senado.

Ah, e o dado fundamental: nem de longe conta com uma oposição parecida com aquela que comandou durante anos e era capaz de mobilizar os movimentos sociais em favor de suas causas.

Hoje o cenário é inverso: os oposicionistas não reúnem meia dúzia nas esquinas e a situação, experiente no ramo, conta com a sustentação dos movimentos de sindicatos, estudantes e uma intelectualidade tímida e reverente.

Nesse quadro, como perder um combate onde estão em jogo R$ 120 bilhões, considerados os três próximos anos de mandato de Lula?

Parece impossível, pois não?

Pois é. Por incrível que pareça, não é. E quem diz isso, quem fala a respeito da possibilidade premente de uma derrota é o próprio governo, quando adia (já por duas vezes) a única votação que verdadeiramente lhe interessa.

Hoje, mais uma vez, está tudo certo quanto à votação. Ontem, ao que consta, faltavam dois ou três votos a serem conquistados em 24 horas. Se não o forem, haverá novo adiamento, o que, considerando todas as vantagens expostas acima, já significa por si só uma derrota política como nunca antes se viu neste país.

Para ela, o presidente Lula não tem Plano B. Sua única e já arquitetada saída será responsabilizar a oposição pela perda, seja dos R$ 40 bilhões em 2008, seja de parte deles, seja da totalidade da CPMF nos próximos três anos, seja só da exposição da fragilidade de sua coalizão partidária para lhe garantir o essencial no Congresso.

Lula dirá, como já tem dito, que todos os males são devidos à inveja, à irresponsabilidade e à vocação golpista da oposição. Pobre diaba, essa não consegue acertar um passo sem que o governo lhe ofereça, na forma de sua inépcia e inabilidade, as armas para tal.

Se perder ou se ganhar pagando um preço muito acima do previsto, conviria, a fim de se prevenir para eventuais planos futuros, que o governo olhasse para todos os seus equívocos e tomasse ciência de que a ele cabe garantir os meios para levar adiante os planos que foi eleito para executar e não à oposição, que nas urnas recebeu o (indesejável) ofício de se opor.

Rede de proteção

O advogado-geral da União, Antonio Toffoli, socorre o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, sugerindo que a Comissão de Ética Pública da Presidência suspenda sua orientação para que Lupi decida entre o ministério e a presidência do PDT até que um parecer da AGU a respeito esteja pronto.

As questões da Comissão de Ética não são atinentes às leis, mas às condutas. E, neste aspecto, os conselheiros vêem conflito de interesses entre as duas funções.

Pelas mãos de um presidente de partido passam, por exemplo, milhares de reais do fundo partidário, quando não milhões de fundos não contabilizados.

Toffoli sabe bem das funções da comissão. Tanto que já a consultou, e obedeceu, assim como os ministros Gilberto Gil, Franklin Martins, Henrique Meirelles, Luiz Fernando Furlan e Márcio Thomaz Bastos.

A condescendência com Lupi provavelmente deve-se ao apoio que recebe das centrais sindicais.

De foice

José Eduardo Cardozo, que disputou e perdeu a presidência do PT, não é santo da devoção do presidente Lula. Ainda assim, seu grupo apoiará Ricardo Berzoini no segundo turno.

É que o oponente é Jilmar Tatto, representante de Marta Suplicy, com quem Cardozo rompeu quando ela era prefeita e ele presidente da Câmara de São Paulo.

Espectadora engajada

Cronista aguda dos costumes da vida como ela deveria ser e observadora perplexa da vida como ela é, Danuza Leão olha para o Congresso e raciocina:

“O Sarney só será candidato a presidente do Senado se for para ganhar, o governo só vota a CPMF se for para ganhar. Então, a gente podia fazer o mesmo com eleição: se não for para o Lula ganhar, adia-se a eleição.”

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