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terça-feira, 11 de dezembro de 2007
11 de dezembro de 2007
N° 15445 - Paulo Sant'ana
Amada e desprezada
Quem queria ver sangue (a maioria dos leitores) na entrevista de Rosane Collor para a revista Veja decepcionou-se rotundamente.
Ela não fez nenhuma denúncia de corrupção passiva contra seu ex-marido.
Mas, sob o ponto de vista de revelação de segredos do relacionamento conjugal, a entrevista foi sensacional.
Um dos momentos mais espetaculares da entrevista é quando Rosane Collor declarou que seu ex-marido, enquanto foi presidente, movido por ciúme doentio, dava ordem a ela que, nas solenidades e encontros sociais, cumprimentasse os homens, nos apertos de mão, com o braço esticado, a fim de não permitir a nenhum deles que dela se aproximasse para beijar-lhe as faces.
Ciúme mórbido.
Continua ela: "Num certo dia, ele chegou em casa à noite e me disse que havia uma fita na qual eu aparecia falando com um rapaz. Lidei com esse problema com a verdade. A tal fita nunca apareceu. Não havia condições práticas de eu manter um caso extraconjugal. Eu era vigiada 24 horas".
Ciúme mórbido.
Chega a ser quase incrível que um homem que tenha amado assim doentiamente a sua mulher, anos depois a tenha largado em troca de uma mulher mais jovem.
Só a fadiga dos metais, só o fastio que toma conta dos casais com a passagem do tempo, tema em que me ocupo com afinco, pode explicar que Fernando Collor tenha se separado de Rosane.
Com certeza ele e ela configuram os versos imortais de Guilherme de Almeida ao se separar de sua musa: "Agora que te tenho em minhas mãos e sei/ que teus nervos se enfeixam todos em meus dedos/ e teus sentidos são cinco brinquedos/ com que brinquei /agora que não mais me és inédita, agora/ que compreendo que tal como te vira outrora/ nunca te verei./
Agora que de ti por muito que me dês/ já não me podes dar a impressão que me deste/ a primeira impressão que me fizeste/ louco talvez/ tenho ciúme de quem não te conhece ainda/ e cedo ou tarde te verá pálida e linda/ pela primeira vez".
Centenas de chefes de Estado recorreram a bruxarias, feitiços, magia negra e outras superstições exercitadas nos porões de seus palácios.
Não foi diferente com Collor. Rosane contou na entrevista que ela e ele participavam de trabalhos espirituais. No último ano de governo, diz ela, a magia negra se intensificou em sua casa a tal ponto que foi obrigada a transferir os trabalhos para a casa de um vizinho amigo. Fez isso porque lhe repugnava o sangue dos animais sacrificados durante as sessões e não queria sujar sua casa.
Paixão, ciúme e magia negra em um casal que era católico praticante!
Como se desatinam os casais!
Essa rainha, no trono ou já destronada, essa boneca-escrava, era tratada com prodigalidade e luxo: "Sempre achei que o Fernando era rico, quando moramos em Miami ele me deu um Porsche (!) de presente.
Tínhamos uns dez cartões de crédito. Também guardávamos dinheiro em um cofre de casa. Quando voltamos ao Brasil, continuamos vivendo maravilhosamente bem.
A minha mesada era de R$ 40 mil. Passávamos o réveillon em Angra dos Reis com ilha (!) alugada, com seguranças, mordomos e até helicóptero. Também costumávamos esquiar em Aspen. Com a nossa separação descobri que Fernando tem uma renda mensal declarada de apenas R$ 28 mil".
Como pode agora uma mulher que foi assim amada e mimada viver apenas hoje com pouco mais de R$ 5 mil de pensão, enquanto não se decide na Justiça a separação civil e patrimonial?
Como pode possuir agora apenas um carro velho com pneus carecas uma mulher que teve uma vida opulentamente principesca?
As voltas que a vida pode dar!
Rosane se negou a dar sequer um pio sobre o patrimônio evidente ou oculto do ex-marido.
Visivelmente, deu a entrevista para ameaçar o ex-marido, afetando remotamente que guarda munição para o caso de sair-se mal na partilha judicial.
Que poder de destruição guardam muitos casamentos terminados em separação!
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