
21 de Março de 2025
MARCO MATOS
Desistir antes de começar
Não há nada que identifique mais uma autossabotagem do que desistir antes de começar. A sensação é horrível. Mas o que faz uma pessoa chegar perto de começar a realizar algo e, de repente, perder o interesse?
São muitas as perguntas que surgem nesse momento. Tente imaginar o tamanho da frustração de abandonar um plano, um objetivo, um sonho. É difícil abrir mão do que se quer. Mas o que fazer quando falta motivação? Ou será que é algo que vai além de vontade?
Eu arrisco dizer - até mesmo por já ter tido experiência própria - que o empurrãozinho que nos leva à desistência é a falta de convicção que o fim do processo vá valer a pena. Por muito tempo caí nessa armadilha.
Já quis realizar muitas coisas que, simplesmente, ficaram pelo caminho sem que sequer eu tenha tentado conseguir. Deixei de aprender a tocar instrumentos, aprender mais idiomas, ler alguns livros que comprei e ficaram de enfeite de estante.
Já quis ir em lugares que eram novidade, mas que depois de anos abertos fecharam sem eu ter conhecido. Ouvi por anos discos da Gal Costa e ela morreu sem eu ter ido a um show dela. Meu entusiasmo, muitas vezes, morreu na véspera.
Trouxe aqui alguns exemplos triviais, mas pode acreditar que já renunciei a muitas outras coisas, algumas bem mais importantes. Buscar tranquilidade pode ser um erro.
Mas, afinal, como insistir num sonho? Estou descobrindo que pode ser bem mais simples do que eu imaginava na adolescência: basta começar sem ter a pressão de chegar lá. Curtir a jornada é fundamental para criar coragem de arriscar.
Um outro ponto importante de sabotar a si mesmo é que, em muitos casos, isso está relacionado a priorizar os outros e não o "eu". Eu gosto de agradar - e sei que muita gente que está lendo esse texto se identifica com isso. Mas será mesmo que fazer o que a gente quer é egoísmo?
Realizar algo por nós mesmos é estranhamente prazeroso. E isso pode começar nas pequenas coisas. Ninguém pode cuidar melhor de mim do que eu. Todos nós deveríamos nos orgulhar de comprar um presente que não precisa de embrulho.
É um longo processo. Autoestima? Talvez, sim. Está chegando aí mais um fim de semana. Que bela oportunidade de ir em frente. _
MARCO MATOS
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