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"Se efetivar tarifas, a variável nova é risco de recessão nos EUA"
Cristiano Oliveira - Diretor de Pesquisa Econômica do Banco Pin e, mestre em economia pela Fundação Getulio Vargas (FGV)
O mercado está mais calmo com Donald Trump?
É o contrário. Durante o Carnaval, aumentaram as incertezas globais. Se Trump efetivar as tarifas, os EUA vão colher inflação maior e provável recessão. Para evitar, o Fed (Federal Reserve, banco central americano) terá de cortar o juro. É o que está fazendo o dólar perder valor globalmente. A variável nova é risco de recessão nos EUA.
O real pode se fortalecer?
Não dá para assumir o momento atual e extrapolar para o ano inteiro. Para mim, Trump vai voltar atrás em quase tudo. São medidas inconsistentes economicamente. Mas o mercado acredita que vai ocorrer uma retração maior do PIB americano. A tendência é de um dólar mais fraco do que se supunha há sete semanas. Tenho visão diferente do mercado há algum tempo já. O que estava errado era dólar a R$ 6,30. Dólar perto de R$ 5,70 parece mais próximo da realidade.
Por quê?
Não tenho a ideia de que o real necessariamente vai sofrer com as tarifas americanas. O Brasil deve continuar exportando para os mercados emergentes. Talvez a valorização do real neste ano tenha sido até rápida demais, não esperava. Mas o que estava errado era o real do ano passado, com efeito manada, exagero descolado de fundamento. Uma parcela da melhora vem do Exterior, mas 60% é correção do exagero do ano passado.
Por que há percepção de que a economia não vai bem, apesar de o PIB ter fechado 2024 com alta de 3,4%?
A economia real, que inclui emprego, indústria, serviços, comércio e agropecuária, vai muito bem. A percepção é que continue indo bem. Mas o mercado tenta antecipar o movimento da economia global, é bastante volátil. A principal locomotiva do mundo pode desacelerar em ritmo maior e afetar os outros vagões, como o Brasil.
Para onde vai a economia brasileira em 2025?
O juro está subindo para um patamar mais restritivo. A política fiscal tende a ser menos expansionista, e a demanda deve desacelerar. São muitos vetores baixistas para a atividade, incluindo o global. E tem um vetor altista neste momento que vem da agropecuária, que deve crescer 7% neste ano. O crescimento esperado pelo Banco Pine para 2025 é perto de 2%.
Em que medida o risco fiscal preocupa para 2025?
O risco fiscal continua elevado. É legítima a preocupação de que o governo pode gastar mais pensando nas eleições, mas o que precisa ficar claro é que o Brasil já paga um prêmio de risco fiscal há 30 anos.
Qual a principal agenda econômica para este ano?
Não acreditamos em ajuste fiscal em final de mandato presidencial. Deveria ser a agenda do país, mas não sei se será. _
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