segunda-feira, 24 de março de 2025


24 de Março de 2025 
INFORME ESPECIAL- Rodrigo Lopes

Um Papa diferente

Ao longo dos 37 dias de internação do Papa, o que mais ouvi de interlocutores no Vaticano era que Francisco, caso sobrevivesse a seu pior calvário de saúde, voltaria diferente. De fato, o Pontífice que retorna à Casa Santa Marta não será o mesmo que a deixou pelo período mais longo de convalescença desses 12 anos de pontificado.

O Papa, como vimos ontem, está muito frágil. Terá de reaprender a falar devido ao tratamento com alto fluxo de oxigênio, a voz está ofegante, e ele quase não consegue fazer o sinal da cruz com a mão direita. Embora tenha sido considerado um paciente exemplar nesses dias no Hospital Gemelli, sabe-se que Francisco é teimoso: suas traquinagens, em geral, têm como objetivo quebrar a sisuda tradição da Santa Sé e aproximá-lo do rebanho. Apesar desse perfil, terá de cumprir recomendações estritas para que "permaneça entre nós mais dois, três anos ou mais", como diz um cardeal.

Mesmo no leito, Francisco ampliou o trabalho do Sínodo dos Bispos, que discutiu reformas como a possibilidade de mulheres servirem como diaconistas católicas e uma melhor inclusão de pessoas LGBT+ na Igreja.

Francisco não pode encontrar-se com multidões por enquanto, para evitar exposição a vírus. Ficará restrito a seus aposentos. Com a recuperação, poderá voltar a fazer as refeições no térreo, com os demais religiosos, e receber visitas nas salas daquele piso.

Embora um Papa em condições diferentes, Francisco dá mostras de que sua mente está excelente. Reconheceu, da sacada da Gemelli, uma mulher, Carmela, com flores amarelas, sempre presente às quartas-feiras na Praça de São Pedro. Pediu para descer do 10º para o 5º andar para que o povo pudesse avistá-lo melhor. Insinuou um sorriso quando alguém gritou algo lá de baixo. Nesses 37 dias internado, fez questão de reverenciar os profissionais de saúde, como fizera no auge da pandemia. E quase todos os dias telefonou para Gaza para saber da guerra. Na maior parte do tempo, escreveu. Será provavelmente assim, talvez tenhamos de nos acostumar a um Pontífice que se comunicará mais por textos do que pela voz. _

As diferentes culturas na escola

Dificilmente há, em Porto Alegre, uma escola com tantas nacionalidades em suas dependências quanto a Pan American School (PAS). São 17 entre os estudantes - além dos professores, um deles originário do Quirguistão.

Para celebrar essa multiculturalidade, a instituição realizou no sábado o International Day. Nas dependências do colégio, os visitantes conheceram peculiaridades dos países de diferentes continentes, provaram a culinária e aprofundaram conhecimentos sobre as culturas.

Um dos convidados, o cônsul-geral dos EUA, Jason Green, contou que adorou a festa e que está encantado pela Capital. Outro representante diplomático, o cônsul-geral da Itália, Valerio Caruso, festejou o carinho dos estudantes com o seu país. _

Entrevista - Raul Jungmann - Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram)

"O Brasil não sabe o que o seu subsolo contém"

Diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann diz que os minerais críticos são atualmente "a galinha dos ovos de ouro" de grandes líderes mundiais. Utilizados na defesa, na geração de suprimentos e como insumos, por exemplo, para carros elétricos, os minérios estão, principalmente, no radar do presidente americano, Donald Trump, que, em troca de encerrar a guerra na Ucrânia, deseja o acesso ao subsolo do país europeu.

Quais os minerais críticos estão no radar de Trump?

É o caso das terras raras, do lítio, do níquel, do cobalto, aproximadamente 15 minerais que não existem no subsolo dos EUA. Uns são mais críticos do que outros. Isso tem os levado a adotar posições extremas. Não apenas nos EUA, mas também na Europa, a segurança do suprimento dos minerais críticos passou a ser uma questão de soberania nacional. 

Passou a ser um assunto da geopolítica. Como o próprio nome diz, eles são fundamentais para a segurança alimentar, para a inovação tecnológica, para a defesa nacional e, particularmente, para a transição para a economia de baixo carbono. Não há possibilidade de a humanidade superar a emergência climática sem a contribuição dos minerais críticos.

? Quais são os principais minerais críticos encontrados no Brasil?

É um número relativamente grande. São 14, pelo menos. Entre outros, está o nióbio. Temos praticamente 100% das reservas globais de nióbio. Em termos de terras rasas, somos os terceiros. Temos reservas muito importantes de níquel, de cobre e de cobalto, com enorme condição de sermos um fornecedor para o mundo. 

Porém, tão importante quanto ter essa disponibilidade no nosso subsolo, é que esses minerais em estado bruto sejam processados para agregarem valor, e a gente não fique meramente na condição do passado, de colônia, de ser um exportador de commodities. Precisamos industrializar as nossas reservas. 

Temos, segundo alguns cálculos, 10% das reservas de minerais críticos do mundo. Então, o nosso potencial é muito grande. Exportamos pouco. Se considerarmos o volume de reserva, nossa exportação fica ao redor de R$ 5 bilhões. Quanto às exportações totais de minerais do Brasil, pelo menos de 2024 até novembro, somamos R$ 43 bilhões. É um percentual ainda pequeno. Temos muito a crescer.

? O que falta para alavancar, e o Brasil se tornar uma potência da exploração desses minerais críticos?

Temos pelo menos quatro obstáculos a serem superados: o primeira é o licenciamento ambiental. Isso é crucial para a exploração. Porque o mineral, pela Constituição, é da União, pertence ao povo brasileiro. Portanto, é exatamente uma atividade realizada pelo Estado. Isso significa que, para você fazer uma pesquisa, abrir uma lavra, precisa de autorização do Estado. Esses licenciamentos podem demorar cinco, seis ou sete anos. Isso destrói o capital. 

O segundo aspecto a ser superado é do financiamento do crédito. Uma atividade mineradora de nível industrial exige infraestrutura. Muitas vezes, envolve construção de portos, de dutos, de ferrovias. É uma atividade de longo termo e que precisa de financiamento. No Brasil, esse financiamento inexiste. Por conta dos juros, por conta de diversas outras coisas. Não há apetite, agora é que começa a despertar. O terceiro aspecto, também muito importante, é a questão do mapeamento do território nacional. O sistema geológico brasileiro conseguiu mapear 27% do território nacional, o que é pouco. 

O Brasil não sabe o que o subsolo do Brasil contém. E por último, a questão ausência de uma política nacional para minerais críticos. Nós fizemos o melhor estudo para servir de fundamento para uma política nacional. Além disso, com a Frente Parlamentar da Mineração Sustentável, apoiamos o lançamento de um projeto que se encontra tramitando no Congresso para uma política nacional de minerais críticos. Então, é um esforço que nós estamos fazendo. A situação hoje do lítio é boa. Hoje somos o quinto maior exportador mundial em termos de lítio. _

INFORME ESPECIAL

Nenhum comentário: