terça-feira, 18 de março de 2025



18 de Março de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Vem aí maior juro em oito anos. E mais

Bons tempos aqueles - não faz nem três meses - em que o "consenso do mercado" previa juro básico em 14,75% no final do ano. Ainda havia perspectiva de que o Banco Central (BC) executasse o choque monetário anunciado em dezembro e parasse.

Conforme o Relatório Focus publicado ontem, a expectativa da maioria dos economistas consultados pela instituição segue em 15%, embora alguns economistas prevejam até 16,25% no final do ano.

Amanhã, o Comitê de Política Monetária vai elevar a Selic em mais 1 ponto percentual, para 14,25%, a maior taxa desde outubro de 2016, portanto há oito anos e sete meses. Isso é considerado praticamente certo, por ter sido reafirmado na decisão de janeiro. Depois, o consenso se dissolve.

Surpreendente, mesmo, no Focus de ontem, foi uma nova redução nas projeções de inflação, mesmo depois do resultado acima da expectativa da semana passada. É um pouco com essa hesitação que o BC parece pretender contar a partir da decisão de quarta-feira.

O Copom vem sinalizando que não voltará tão cedo a anunciar os próximos movimentos, fazendo o que o mercado chama de "forward guidance" (orientação à frente, na tradução literal). Já não o fez na reunião anterior, deve repetir a estratégia.

O choque foi uma decorrência da combinação da decepção com o pacote de corte de gastos do governo Lula com a troca no comando do BC, que costuma cobrar um prêmio de incerteza.

Sinais de "calibragem" devem aparecer no segundo semestre

A de quarta-feira será apenas a segunda reunião do Copom liderada por Gabriel Galípolo, que assumiu formalmente a presidência do BC em janeiro. Dado o choque, que não teve aprovação unânime em termos de estratégia, agora o BC quer apostar no oposto: ter alguma liberdade de ação para verificar se o juro na estratosfera vai ou não moderar a atividade econômica.

Se os sinais de "calibragem" no crescimento se confirmarem, a mão do Copom poderá ser menos pesada. Mas hoje, isso não significa qualquer perspectiva de redução do juro. Só, mesmo, de uma Selic abaixo de 16% no final do ano. _

Os bons resultados da safra nacional devem ser novo alerta para o RS, que enfrenta estiagem depois de enchente: há muito caminho pela frente na busca de um sistema sustentável de irrigação para evitar perdas cíclicas de colheita.

ainda acelerada

O resultado do IBC-Br de janeiro, de 0,89%, veio acima do esperado. Havia expectativa de um primeiro trimestre forte, seguido de um segundo mais moderado, com o segundo semestre de estagnação, se não de alguma queda de PIB. Indústria, comércio e serviços deram sinais de desaceleração, mas economistas já projetavam um bom resultado na agropecuária. Janeiro não é um mês de colheita, mas já registra movimento com preparativos.

onde tirar R$ 27 bi

A conta oficial da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil diminuiu de R$ 32 bilhões para R$ 27 bilhões, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Mas para transformar promessa de campanha em lei, ainda é necessário encontrar uma forma de "achar" essa quantia.

XP sobe o tom contra alegação de pirâmide

Em comunicado a investidores, a XP complementa - em um tom acima - o que já havia afirmado quando acusada pela casa de análise americana Grizzly Research de operar um "esquema Ponzi", comparável a uma pirâmide financeira - quem chega primeiro ganha, os demais pagam o pato.

A XP agora declara que a Grizzly Research é "pequena e desconhecida, com credibilidade duvidosa e envolvida em polêmicas". E ainda acusa a consultoria americana de lucrar "derrubando preços das ações e títulos das empresas que supostamente analisa".

A empresa ainda esclarece dúvidas sobre os fundos Gladius e Coliseu, alvos da Grizzly Research: "São veículos exclusivos da tesouraria da XP Inc., nos quais a própria companhia é a única cotista. Não captam recursos de clientes, tampouco dependem da entrada de novos participantes".

Os certificados de operações estruturadas (COEs), tópico central do relatório da Grizzly Research, "representam somente 3% dos investimentos sob custódia da XP", afirma empresa com raiz gaúcha. A consultoria americana havia dito que "são produtos predatórios" e que o Gladius paga "indevidamente prêmios que recebe da venda de produtos COE para a XP como lucros". _

Dólar tem a menor cotação de 2025

O dólar manteve o ritmo de baixa da sessão de sexta-feira e fechou em nova queda ontem, de 0,99%, para R$ 5,686, menor cotação de 2025, abaixo da de R$ 5,689 em 18 de fevereiro. É também a menor desde 7 de novembro de 2024.

Dados que mostram recuperação da economia da China e a informação de que o país adotará medidas para impulsionar renda e consumo ajudaram a recuperar valor de moedas de países emergentes, como o Brasil. Ao contrário do que se previa, a política errática de Donald Trump enfraquece o dólar. _

Risco de recessão com Trump ensaia cruzar o Atlântico

Os reflexos das decisões econômicas e estratégicas de Donald Trump podem levar a recessão a outras longitudes, além dos Estados Unidos. Na semana passada, o Parlamento Europeu aprovou aumento de gastos com armamento, diante das evidências de que não podem mais contar com o parceiro estável dos últimos 80 anos. É tão polêmico que provoca divergências internas na direita e na esquerda.

A medida ainda precisa ser aprovada pelos congressos nacionais, mas já provoca inquietação. É bom lembrar que os países da União Europeia seguem com endividamento elevado para seus padrões habituais depois dos gastos com a pandemia e da grande crise de 2011. Agora, precisam elevar despesa que não se traduz em melhora imediata no nível de vida da população.

O valor total previsto é de 800 bilhões de euros, dos quais 150 bilhões viriam de um fundo de financiamento para os governos do bloco se rearmarem. O virtual próximo primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, defendeu até um "furo no teto" para executar o plano.

A Alemanha tem uma espécie de teto de gastos - Schuldenbremse, ou literalmente "freio na dívida" - que Merz admite afrouxar ainda mais. As regras que limitam investimentos em defesa no país já haviam sido flexibilizadas logo depois do ataque da Rússia à Ucrânia, mas agora as cifras se multiplicaram.

No plano, esses gastos não serão considerados para fins de metas fiscais. Mas tanto no Brasil quando na UE, o fato de não afetar a métrica não significa que não haverá desembolso, que precisará ser compensado.

E o dia depois de amanhã será uma dívida pesada, a mesma que expôs a Grécia, há uma década, enfrentar todo o rigor da austeridade europeia. Como nem em países desenvolvidos dinheiro nasce em árvore e será necessário quitar esse financiamento, o risco de recessão espreita.

Yanis Varoufakis, ex-ministro de Finanças da Grécia que renunciou ao cargo no dia seguinte a uma vitória de Pirro - do tipo que "ganha, mas não leva" de seu governo - já avaliou o movimento como "a próxima grande loucura da UE". Pode ser. Ou não. Mas é resultado claro de outra loucura. 

GPS DA ECONOMIA

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