segunda-feira, 17 de março de 2025


17 de Março de 2025
GPS DA ECONOMIA - Mathias Boni

Respostas capitais - Aloizio Mercadante

Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)

"O BNDES quer ser um dos principais parceiros da reconstrução do RS"

Político de longa trajetória, Aloizio Mercadante já foi ministro da Educação, da Ciência, Tecnologia e Inovação, e ministro-chefe da Casa Civil. Também cumpriu mandatos como senador e deputado pelo Estado de São Paulo.

Desde fevereiro de 2023, atua como presidente do BNDES, que teve papel significativo no processo de recuperação do Rio Grande do Sul após a enchente.

Quais foram as principais ações do BNDES para recuperação do RS?

Sob orientação do governo federal, o BNDES atuou em dois momentos fundamentais. Primeiro, de forma emergencial. Para se ter ideia, em 2024, o BNDES disponibilizou R$ 20 bilhões com recursos do Fundo Social apenas com essa finalidade, além de ter apoiado empresas por meio de crédito garantido no valor de R$ 4,3 bilhões e suspensão de pagamentos de serviços de dívida no valor de R$ 4,8 bilhões. 

Até dezembro de 2024, o banco tinha fechado cerca de 8 mil operações de crédito no Estado, atendendo 469 municípios, ou seja, quase a totalidade. Estamos agora no segundo momento deste apoio, direcionando esforços para tornar o Estado mais resiliente a eventos climáticos extremos com planejamento de longo prazo. Essa é uma agenda prioritária para o BNDES e que nos levou a criar uma área, neste ano, de Enfrentamento de Eventos Climáticos Extremos.

Qual é a importância de um banco como o BNDES participar de um processo de recuperação estrutural e financeira de um Estado?

O apoio do BNDES permitiu, por exemplo, a retomada e a continuidade de serviços essenciais, como energia e transportes. Para se ter ideia, em 2024, o RS foi o primeiro Estado do país em volume de crédito aprovado pelo BNDES para agropecuária, micro, pequenas e médias empresas e serviços, e o segundo no ranking nacional para a indústria. Estamos falando de um volume de R$ 39,3 bilhões, que é 141,7% superior a 2023 e 174% maior que 2022.

Como funciona o projeto RioS, em parceria com o governo do Estado, que busca reforçar a resiliência climática do RS?

Os eventos resultantes dos extremos climáticos já são uma realidade. Nesse sentido, assinamos com o governo do RS um acordo de cooperação técnica para estruturar um plano de resiliência climática de médio e longo prazo que proteja o Estado contra extremos climáticos. O BNDES quer ser um dos principais parceiros da reconstrução do RS. Por meio do projeto RioS, de Resiliência, Inovação e Obras para o Futuro do RS, vamos definir estratégias de resiliência climática e realizar estudos para projetos de adaptação climática e de gestão de risco. Estamos diante de um imenso desafio, que é propor como vai ser a reconstrução com resiliência e adaptação, criando um centro integrado para prevenção aos desastres naturais. Estamos trabalhando para que este seja um projeto que sirva de referência para outras cidades.

O BNDES também tem se envolvido em outro grande evento ligado à sustentabilidade que ocorrerá no Brasil, a COP30. Quais são as ações que o banco tem realizado?

A realização da COP30 em um cenário de crescimento global do negacionismo climático coloca Belém no centro estratégico do mundo. O BNDES tem participado na definição das metas e ambições do Brasil na COP30 e na construção de uma estratégia que tenha impacto global. Vamos realizar, por exemplo, uma audiência pública para avaliar a possibilidade de desenvolvermos uma instituição que possa certificar crédito de carbono.

Qual é a importância para o Brasil de o BNDES se envolver cada vez mais em projetos de desenvolvimento sustentável, como são os projetos de restauração da Mata Atlântica?

Atuar de forma sustentável não é mais uma opção, é uma condição. Quero destacar a contribuição do BNDES na agenda de descarbonização e no enfrentamento da crise climática. No mundo, é o banco que mais financiou a energia limpa e renovável. Essa estratégia está sendo aprofundada com o Fundo Clima, que bateu recorde em 2024 com R$ 10,2 bilhões. O novo BNDES que estamos construindo é um banco comprometido com economia verde, descarbonização e sustentabilidade ambiental.

Após dois anos de presidência do BNDES, como avalia sua gestão à frente do banco?

Na última semana, recebemos a boa notícia sobre o crescimento de 3,4% do PIB brasileiro. E o BNDES teve um papel fundamental nessa retomada do crescimento do país. Em 2024, o banco alcançou recorde histórico de impacto no crédito. São recursos que irrigam a retomada do investimento, a geração de emprego e o crescimento econômico. 

Outro dado muito relevante é o de que a indústria voltou a liderar as aprovações de crédito pelo banco, o que não ocorria desde 2017. Com esse esforço, conseguimos transferir R$ 29,5 bilhões para o Tesouro Nacional em dividendos. É um esforço imenso e foi uma situação excepcional para ajudar no fechamento do arcabouço fiscal. Com mais transparência, também superamos aquele estigma equivocado da caixa-preta e transformamos o BNDES em um aquário.

Como economista e figura histórica do PT, como avalia até o momento os resultados econômicos do governo Lula 3?

O governo Lula fez o Brasil se reerguer, superar dificuldades e ser reconhecido no mundo. Estamos falando de um país que ruma para deixar de ser apenas o maior produtor-exportador de alimentos e de uma economia primarizada, para a retomada de um processo de neoindustrialização, com oferta de empregos de qualidade e renda mais elevada para a população. O combate à inflação segue sendo prioridade absoluta do governo, ainda que estejamos vivendo uma pressão inflacionária conjuntural associada ao preço global dos alimentos, em que o Brasil é muito mais solução do que problema. 

Tivemos ainda uma pressão descabida em relação ao câmbio, fruto da especulação financeira irracional e que também prejudicou, mas que é uma questão superada. Há uma pressão no setor de serviços decorrente do PIB de 3,4%, da retomada da indústria, dos níveis recorde de emprego e do aumento de renda da população. Também não há gastança nem descontrole. O governo Lula herdou um pesado passivo fiscal do governo passado, que nunca cumpriu o teto de gastos e promoveu um populismo fiscal eleitoral sem precedentes. _

GPS DA ECONOMIA

Nenhum comentário: