terça-feira, 31 de dezembro de 2024


31 de Dezembro de 2024
CARPINEJAR

Em 2025

Que você se lembre de procurar a lua no fim do dia, que volte a se sentir no interior, observando as estrelas no céu. Que você ame quando menos esperar, que seja feliz de repente.

Que você dirija cantando as suas músicas prediletas, não sofrendo tanto com os engarrafamentos. Que você possa estar em casa quando chover. Que você possa estar na rua quando houver sol e brisa.

Que você seja surpreendido pela fala de uma criança, renovando a sua delicadeza. Que você engome a sua roupa fantasiando o encontro. Que você namore num jantar segurando as mãos por cima da mesa e encostando os pés por baixo.

Que você dance como se não houvesse amanhã, que converse em botecos numa eterna saideira. Que você frequente os cinemas para recuperar o protagonismo de sua vida. Que você se esforce para reconhecer os seus colegas, sempre chamando-os pelo nome. Que você já demonstre capricho no café da manhã, no primeiro ato de se servir.

Que você nunca passe por um cachorro sem oferecer a ternura da sua infância. Que você durma consciente de dormir, que não desmaie no sofá ainda vestido. Que você abra espaço para plantas em sua residência, que não se veja longe do verde. As mudas melhoram o nosso silêncio e solitude.

Que você descubra algo novo todo mês, que não se restrinja a repetir o que já conhece. Que você seja premiado com dinheirinho perdido nos bolsos dos casacos. Que você reviste as peças antes de colocar na máquina de lavar.

Que você dê mais valor para as moedas e para os 15 minutos que sobram. Que você seja mais alegre torcendo para o seu time do que secando o rival. Que você elogie os amigos e incentive seus projetos de mudança.

Que você respeite a dor da perda e não apresse o luto de ninguém. Que você leia um pouco por vez, algumas páginas, para treinar a memória. Que você invista num esporte, para recobrar o prazer da disputa saudável.

Que você convide os pais para uma viagem, que não se reduza ao mundo do casal. Que você tenha confiança para não se rebaixar, e humildade para não deixar nenhuma pessoa invisível ao seu lado.

Que você esqueça o celular quando estiver frente a frente com os seus afetos. Que você consiga listar os lugares aonde deseja ir, os shows a que pretende assistir, começando a contagem regressiva de seus sonhos.

Que você tenha coragem de enfrentar as amizades quando elas se envolverem em relacionamentos tóxicos, e tenha empatia para socorrê-las sem jogar na cara que tinha razão e avisou antes.

Que você não se constranja ao entrar no elevador ou na sala de espera do médico. Que você saiba diferenciar a teimosia burra da insistência inteligente. Que você se apresente aos seus vizinhos.

Que você não desmarque compromissos com a família em cima da hora, causando frustração e descrédito. Que você faça o bem para depois olhar para quem foi. Que você acredite em si e desconfie das críticas.

Que você seja contente do seu jeito, sem preconceito, usando a gamela para o churrasco ou para as frutas. Que você não seja influenciável a ponto de duvidar de si, nem uma parede a ponto de não escutar ninguém.

Que você jamais subestime seus problemas pensando que não precisa de terapia. Que você aprenda a respirar quando irritado, a se acalmar quando provocado, a se retirar quando o outro não fizer por merecer a sua companhia.

Que você perdoe as suas versões anteriores e agradeça quem se tornou. Que 2025 não traga nada para você, que você mesmo busque. 

CARPINEJAR


31 de Dezembro de 2024
MÁRIO CORSO

Ano novíssimo

Caro leitor, acabas de ganhar, especialmente personalizado para ti, um ano novo em folha. Ele brilha, não tem nenhum arranhão, nenhuma poeira, nem marca de dedos. Está à tua disposição a partir de agora, sem nenhum custo adicional. Dica: não use com moderação.

Repetindo, não use com moderação, pega com as duas mãos e morde com força. Afinal, o fornecimento é limitado, eles não aceitam trocas, tampouco admitem recurso e o que não usares vai fora.

Especialmente, não deixe para depois. Se és desses que só vai abrir a caixa depois do Carnaval, olha que poderá já estar mofado. Saiba que é um artigo muito bom, excelente, mas precisa ser cultivado, arejado, tratado com carinho.

Recém acabou um ano, lembre de quantas vezes já trocaste de ano te perguntando o que fizeste com esse tempo passado. Isso não pode se repetir. O ano de 2025 não é para ficares guardado no armário esperando a hora certa para usar. A hora certa é agora. Promessas e decisões que esperam a segunda-feira nunca dão certo. O que dá certo é a que começas neste momento.

Leia atentamente o manual de instruções do Ano-Novo. Sim, eu sei, é parecido com o dos outros anos. Eles não têm feito atualizações, ou alterações de funcionalidades no produto, desde o reinado de Tutancâmon, mas ninguém o lê com calma. Todas as regras onde dizia que se fizeres X vai dar m*, segue dando m*. E o avesso, se não fizeres Y vai dar m*, seguirá dando m*. Não te faz de tonto. Não me venha com: eu não sabia? Foi só uma vez? Não era minha intenção?

Aceito que as condições não são das melhores para viver um ano novo pleno, mas pensa bem, quando foi diferente? Às vezes, por sorte, tropeçamos em tempos amenos, menos ácidos, mas eles são a exceção, não a regra. Vai te acostumando, não espere o sol, quase sempre a vida é abaixo de mau tempo.

Se existe algo intelectualmente pouco razoável é a esperança. Apesar disso, ela é o combustível da nossa substância. Ela é a palavra que encontramos para o que em nós não desiste. Ela é a simbolização da força da vida. Ela é a própria insistência de querer seguir vivo. Em 2025 escute a esperança, mas não fazendo planos, simplesmente faça, ou te prepare, para o que queres realizar. _

MÁRIO CORSO

31 de Dezembro de 2024
OPINIÃO RBS

O Brasil na virada

Considerados os aspectos marcantes da retrospectiva de 2024 em nosso país - a crise climática representada por cheias, incêndios e estiagens, as dificuldades do governo federal para cortar gastos e controlar a inflação, o indiciamento criminal de políticos e autoridades envolvidos num plano golpista e a crescente animosidade entre os poderes da República -, é perfeitamente compreensível a descrença de muitos brasileiros em relação ao futuro imediato do país. Mas esse desencanto não pode ser encarado como sentença definitiva, até mesmo porque cada virada no calendário representa uma nova oportunidade para a correção de erros pretéritos e para a formulação de planos mais realistas e factíveis.

O aumento do pessimismo não é apenas uma hipótese. É uma realidade mensurável. Pesquisa recente encomendada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e realizada pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) nas cinco regiões do país demonstra que menos da metade dos entrevistados (49%) acredita que o Brasil vai melhorar em 2025. Foram consultadas 2 mil pessoas, entre os dias 5 e 9 deste mês de dezembro. O resultado contrasta com igual levantamento feito em dezembro de 2023, quando 59% dos brasileiros ouvidos confiavam na melhora do país neste ano que está se despedindo.

Num âmbito mais abrangente, essa frustração já tinha ficado evidente nas últimas eleições municipais, com o fracasso inquestionável do partido do governo e o avanço de siglas e candidatos mais identificados com a oposição. A desilusão está diretamente relacionada às dificuldades do governo Lula para implementar o equilíbrio das contas públicas - num cenário em que a arrecadação cresce, mas os gastos públicos são cada vez mais elevados e parecem incontroláveis. 

Em paralelo, percebe-se uma preocupante degradação das relações institucionais entre os poderes da República, evidenciada pela batalha em torno das emendas parlamentares, que inclui chantagem de parcela do Legislativo sobre o Executivo, uso político de verbas orçamentárias e interferência demasiada do Judiciário.

Quando as autoridades dão mau exemplo, os demais substratos da sociedade se sentem no direito de transgredir. Nesse contexto, fica mais difícil implementar a cultura da integridade de que o país tanto necessita para desconstruir o jeitinho matreiro de contornar regras e abolir a desculpa de que é certo fazer o errado porque todo mundo faz. Ainda assim, como já ocorreu em outras nações, sempre é possível aperfeiçoar condutas individuais e coletivas por meio de instrumentos democráticos reconhecidos como a educação, o regramento e as necessárias sanções sociais para infratores.

A virada de ano impõe esta reflexão. O Brasil pode, sim, superar mazelas históricas e iniciar sua travessia para um futuro mais justo e próspero, desde que comece logo a combater a corrupção em todas as camadas da sociedade, dos governantes aos governados. Como se faz isso? Com prevenção, vigilância, correção, monitoramento permanente e exercício pleno da cidadania, o que inclui exemplo, conscientização política, vigilância e escolha criteriosa de representantes. 



31 de Dezembro de 2024
GPS DA ECONOMIA - Anderson Aires

Reta final realça pressões sobre Galípolo

Os mais recentes indicadores econômicos, divulgados na reta final do ano, reforçam o tom de pressão que deve dominar o início do mandato de Gabriel Galípolo à frente do Banco Central (BC). Assumindo a cadeira da presidência oficialmente a partir desta quarta-feira, Galípolo enfrenta de cara emprego ainda aquecido, câmbio desvalorizado, economia fechando o ano acima do esperado e mercado estressado. Mesmo que contratações em alta e atividade aquecida passem a impressão geral de boas notícias, a união desses fatores pressiona os preços e embaraça a caçada pela meta de inflação por parte do BC.

Divulgado ontem, o último Relatório Focus do ano confirmou a aposta em atividade acima das projeções e juro e inflação persistentes ao longo do próximo ano, mesmo que com um asterisco (veja mais abaixo).

Na última sexta-feira, o IBGE apontou taxa de desemprego recuando para 6,1% - menor índice de desocupação registrado desde o início da série histórica, em 2012. No mesmo dia, dados do Novo Caged, que pega apenas postos com carteira assinada, informaram que o país chegou, em novembro, ao maior estoque de empregos da história: 47,74 milhões vínculos ativos.

Desafios

O avanço do emprego convive com dólar acumulando salto de 27% no ano e economia flertando com alta de 3,5% em 2024. Mercado de trabalho e atividade aquecidos aumentam o potencial de compra das famílias, o que respinga em mais demanda e crescimento da inflação. Tudo isso em ambiente fiscal tenso.

- O grande desafio é trazer essa inflação para dentro da meta, depois continuar reduzindo e equilibrar o tripé, que conta com controle inflacionário, mercado de trabalho e atividade econômica. Então, o principal desafio vai ser esse. Além disso, tem a questão política - avalia o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

Como lembrado por Agostini, além dos pontos técnicos, Galípolo vai precisar transitar de maneira mais harmoniosa entre mercado e governo. Seu antecessor não teve muito sucesso nessa missão. _

Ainda na segunda, Galípolo tratou sobre o termo de posse em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O BC ainda não confirmou algum evento oficial na quarta-feira.

Como confiar nas projeções econômicas para 2025 ?

Um dos principais instrumentos de planejamento no país, o Relatório Focus, chamado informalmente de "consenso de mercado", errou quase tudo em 2024. As primeiras projeções do ano apontavam para PIB de 1,52%, dólar a R$ 5 e taxa básica de juro de um dígito.

Conforme o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, entre o primeiro e o último dia útil de 2024, houve grande recálculo de rota por aumento de gastos com transferência de renda - como os repasses via Benefício de Prestação Continuada (BPC) - e outras áreas. Em tese, isso acelera a economia e facilita o repasse de preços. Em consequência, o BC precisa elevar o juro - ou deixar a taxa básica alta por mais tempo.

A Selic, por outro lado, começa 2025 com viés de alta. A projeção em janeiro era de que o juro básico desceria até 9% em 2024. Nem perto de um dígito, a taxa encerra o ano em 12,25%. Para 2025, o mercado estima taxa em 14,75%.

Segundo Costa, parte da apreciação da moeda norte- americana é consequência da eleição de Donald Trump. No início do ano, o favoritismo estava com os democratas, o que contribuía com o cálculo de cotação mais próxima de R$ 5. A vitória do republicano, com pauta mais protecionista, tende a fortalecer o dólar ante todas as demais moedas.

O menor dos erros veio do IPCA. Mas ainda que a previsão dominante do primeiro Focus de 2024 já indicasse inflação acima da meta, a 3,9%, não previa estouro do teto, de 4,5%. O último Focus de 2024, apresentado nesta segunda-feira, aponta IPCA em 4,90% no ano. Em 2025, 4,96%.

(Interino)

Ano termina bem diferente do projetado por parte do mercado em janeiro

02/01/2024 30/12/2024

Inflação (IPCA) 3,90% 4,90%

PIB 1,52% 3,49%

Câmbio R$ 5 R$ 6,05

Selic 9% 12,25%*

*Dado da última reunião do Copom

Fonte: Banco Central

Dólar fecha em queda após flerte com alta

O dólar chegou a flertar com valores acima dos R$ 6,20 nesta segunda-feira, mas fechou o último pregão do ano cotado a R$ 6,179.

O leve recuo, de 0,22%, ocorreu após o BC realizar novo leilão de dólares à vista ao longo da tarde para frear a guinada.

O desafio do novo presidente do BC e do governo federal será enorme para trazer o câmbio novamente para a casa dos R$ 5 no próximo ano, conforme prevê o mercado. _

R$ 266,8 mi

era o total negociado dentro do Desenrola Pequenos Negócios no Rio Grande do Sul, segundo dado mais recente, de novembro, informado pelo Ministério do Empreendedorismo.

O programa beneficiou 4,2 mil empresas no Estado. Esses números tendem a aumentar com o fechamento do ano.

O programa prevê financiamento diretamente pelo sistema financeiro, com descontos que variam de 20% a 95%.

Oficialmente, o prazo para a realização das transações dentro do programa é até 31 de dezembro de 2024.

Busca por retomada na reta final do ano

Ramos ligados ao turismo no Estado tentam aproveitar esta época do ano para ensaiar recuperação.

Dados do mercado de trabalho reforçam esse movimento.

Com a abertura de 814 vagas com carteira assinada no penúltimo mês do ano, o setor de alojamento e alimentação acumula a criação de 3.458 postos de julho a novembro, período que marca a retomada pós-inundação, segundo números do Novo Caged.

Um dos mais afetados pela enchente, o segmento ainda não superou os 4.495 postos destruídos em maio e junho, no auge da tragédia, mas tenta.

Com o Aeroporto Salgado Filho funcionando a pleno e o aumento da circulação e do consumo das famílias nessa época, negócios como hotéis, bares e restaurantes buscam mitigar parte das perdas.

O setor ainda caminha para fechar o ano no vermelho nas contratações, mas se distanciando, cada vez mais, de uma queda mais brusca. _

GPS DA ECONOMIA

31 de Dezembro de 2024
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Melo ainda está com equipe incompleta

Em mais uma rodada de anúncio de secretários, na tarde dessa segunda-feira, o prefeito Sebastião Melo ainda deixou em aberto duas das secretarias mais importantes do governo: Saúde e Fazenda. A primeira, hoje ocupada por Fernando Ritter, é disputada por diferentes partidos aliados, o que explica o atraso. Já para a Fazenda não existe uma explicação lógica, dado que o titular será um técnico. A única certeza é de que Rodrigo Fantinel não vai continuar.

A principal novidade entre os anúncios do dia foi a indicação da vereadora Mônica Leal (PP) para a Secretaria de Transparência e Controle. Na eleição de outubro, Mônica ficou na primeira suplência.

Outro suplente acomodado no governo é Cassiá Carpes (Cidadania), que será secretário de Administração e Patrimônio. A transferência para o PL não garantiu a permanência de André Barbosa, que contava com a indicação do partido.

Melo decidiu manter Liliana Cardoso na Cultura, Adão de Castro Júnior na Mobilidade e Alexandre Aragon na Segurança. Confirmou, também, o que a coluna havia informado em relação à Procempa, que continuará sendo comandada por Letícia Batistela.

O procurador concursado Jhonny Prado, que atuou como chefe de gabinete do prefeito no período eleitoral, assumirá a Procuradoria-Geral do Município (PGM). _

aliás

Os últimos nomes do secretariado de Melo, que já tem 21 titulares confirmados e uma interina, deverão ser anunciados nesta terça-feira, véspera da posse. Ao longo do mês de janeiro serão preenchidos os cargos de segundo e terceiro escalões, de forma a contemplar os 11 partidos e os vereadores da base do governo. Cada vereador terá direito a indicar, no mínimo, 10 afilhados para cargos em comissão.

MIRANTE

A patrulha falou mais alto do que a qualidade técnica: a veterinária Lisandra Ferreira Dornelles caiu antes de assumir. O PL retirou o apoio à indicada pela vice Betina Worm para cuidar dos animais. Interinamente, a própria Betina ficará no Gabinete da Causa Animal.

Lisandra Dornelles foi desconvidada porque em suas redes sociais foram encontradas publicações de cunho esquerdista, como em defesa do empoderamento feminino e no voto em Lula. Outro "pecado": foi casada com o vereador Alex Fraga, do PSOL.

Marido de Leite vai morar no RS e clinicar em Porto Alegre

De maleta, jaleco e estetoscópio, o médico Thalis Bolzan, marido do governador Eduardo Leite, está de mudança para Porto Alegre.

Ele tinha dois empregos em São Paulo, um como gerente médico de uma indústria farmacêutica e outro na Central de Regulação do Estado. Pediu demissão do segundo, que era presencial, e seguirá se dividindo entre o trabalho remoto e o consultório.

- Vou defender meu mestrado no início de 2025 e conseguirei iniciar os atendimentos em Porto Alegre já em fevereiro - contou Thalis à coluna.

Pediatra, ele vem há alguns anos se dedicando a estudar sobre obesidade e suas complicações associadas, além de distúrbios metabólicos e emagrecimento saudável. Já fazia esse trabalho com crianças e adolescentes e agora também atenderá adultos. _

Fantinel e a certeza do dever cumprido

A despeito dos bons resultados obtidos em sua gestão, o secretário da Fazenda de Porto Alegre, Rodrigo Fantinel, foi informado de que não continuará no cargo.

Em carta aos funcionários, Fantinel disse que sai com a certeza do dever cumprido. Na despedida, o agora ex-secretário afirmou que encerrava seu ciclo de quatro anos com superávits e recorde de investimentos em 2022 e 2023.

"A Fazenda não existe mais para arrecadar, hoje ela existe para ajudar Porto Alegre a se desenvolver", escreveu. 

Prefeita de Pelotas assume no Piratini

A atual prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB), não terá férias depois de transmitir o cargo a Fernando Marroni (PT). Paula foi nomeada para o gabinete do governador Eduardo Leite, na função provisória de secretária-executiva de Relações Institucionais. Mais tarde, irá para o secretariado de Leite.

Funcionária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Paula está sendo cedida para o governo do Estado e receberá uma gratificação de confiança correspondente ao valor da FG Superior 13 (R$ 12 mil). _

Sete ex-ministros da Justiça divulgaram manifesto em defesa do decreto do presidente Lula que regulamenta lei de 2014, sobre uso de armas pelos agentes de segurança pública. Governadores do Sul e Sudeste repudiam o decreto.

POLÍTICA E PODER

31 de Dezembro de 2024
INFORME ESPECIAL - Vitor Netto

A agenda mundial que se inicia

Ao olhar para 2024, a agenda geopolítica foi intensa. Internacionalmente, houve mudanças históricas nos poderes, manifestações em diversos países, ascensões e quedas de líderes e novos conflitos.

Olhando para a América do Sul, pode-se destacar as eleições na Venezuela, por exemplo, em que até hoje não foram apresentadas as atas da vitória do ditador Nicolás Maduro. Na Bolívia, uma tentativa de golpe de Estado e de derrubar o presidente Luis Arce. No Uruguai, o pupilo do ex-presidente Pepe Mujica, Yamandú Orsi, foi eleito presidente.

Na América Central, Claudia Sheinbaum foi eleita a primeira mulher na presidência do México. E nos Estados Unidos, já na América do Norte, a eleição do republicano Donald Trump para o seu segundo mandato à frente da maior potência do mundo.

Na Europa, observou-se avanço de partidos de direita. Na França, instabilidade política durante todo o ano. No Reino Unido, um trabalhista assumiu o posto de primeiro-ministro.

Ainda no velho continente, persiste a guerra entre Ucrânia e Rússia.

No Oriente Médio, o conflito entre Israel e os grupos terroristas Hezbollah e Hamas. Também ocorreu, recentemente, um conflito na Síria, que resultou na queda do ditador Bashar al-Assad.

Internacionalmente, acordos multilaterais foram firmados entre países.

O que olhar daqui para frente

Muito do que ocorreu em 2024 seguirá na pauta de 2025.

Haverá eleições presidenciais no Chile e na Bolívia. Novos primeiros-ministros surgirão no Canadá e na Alemanha. Na Argentina, a eleição de meio de ano definirá postos na Assembleia e no Senado. Posses nos Estados Unidos e no Uruguai. O primeiro, conta com relações com todo o planeta, e o segundo com vínculos históricos com o governo brasileiro.

Também haverá desdobramentos do importante acordo comercial entre o Mercosul e União Europeia (UE), firmado ainda em 2024 depois de anos de tratativas entre os países.

No caso do Brasil, por exemplo, o país vai liderar pela segunda vez a presidência rotativa do Brics, grupo de países emergentes. Belém, capital do Pará, será sede da COP30 e irá debater importantes assuntos sobre mudanças climáticas.

Além destas, outras agendas se formarão. A coluna reuniu abaixo 10 pautas que merecem atenção a partir do ano que se inicia. _

Principais pautas da geopolítica de 2025

Donald Trump assume, pela segunda vez, a presidência dos EUA. Entre as medidas que prometeu implementar, estão deportação de imigrantes ilegais, aumento do protecionismo, taxação de produtos chineses, saída do Acordo de Paris, entre outras.

Em outubro, terá eleições no Canadá. O primeiro-ministro, Justin Trudeau, mira a sua quarta disputa. Hoje, o país vive uma crise política e econômica.

De 1º de janeiro a 31 de dezembro, o Brasil exercerá a presidência rotativa do Brics. A última vez que o país presidiu o grupo foi há seis anos.

Belém (PA) será a sede da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30, prevista para novembro. São esperados mais de 40 mil visitantes.

Em fevereiro, a Alemanha definirá o próximo chefe de governo. A disputa será, basicamente, entre o bloco conservador de centro-direita e o atual chanceler Olaf Scholz, que tenta reeleição. A candidata da ultradireta Alice Weidel, por exemplo, defende sair da UE.

Em agosto, a Bolívia vai às urnas para decidir o próximo presidente. Evo Morales ratificou sua candidatura, porém a Justiça proibiu que um presidente cumpra mais de dois mandatos. No mesmo partido, está Luis Arce que tentará a reeleição.

Em novembro será a vez do Chile escolher seu novo presidente. Os principais nomes: Antonio Kast, do Partido Republicano, e Evelyn Matthei, da União Democrática Independente. Gabriel Boric não disputará, pois no Chile não existe reeleição imediata.

O foco da Argentina para 2025 é com as chamadas eleições de meio de ano, que irão eleger os próximos integrantes do Congresso. Atualmente, Javier Milei não conta com a maioria do parlamento e seu grande desafio será fortalecer o número de aliados, tanto no Senado quanto na Câmara.

Yamandú Orsi toma posse como presidente do Uruguai em março. Ele substituirá o atual líder Luis Alberto Lacalle Pou. Orsi é apoiado pelo ex-presidente Pepe Mujica e promete ações sociais e econômicas.

Em 2024, o Mercosul e a União Europeia (UE) chegaram à conclusão de um acordo comercial. Porém, a entrada em vigor depende de etapas formais. Diante da burocracia, o processo não deve finalizar antes da metade de 2025.

INFORME ESPECIAL

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024


30 de Dezembro de 2024
CARPINEJAR

Casa cheia

Se analisar a sua linha de tempo, perceberá que é extremamente curto o período em que você teve a família inteira reunida. Do alto dos seus 50 anos, dos seus 60 anos, dos seus 70 anos, dos seus 80 anos, descobrirá que não passou nem uma década com todos juntos.

Trata-se de um ciclo efêmero. Não nos damos conta desta raridade na nossa existência: quando os parentes se mostravam pontuais, lado a lado, sem nenhuma baixa, sem nenhuma perda, sem nenhum luto, sem nenhum divórcio, sem nenhum litígio.

São alguns anos em que você teve o direito de desfrutar da presença dos avós, o direito de conviver com os tios e primos longe de brigas e dissidências, o direito de acompanhar os pais como casal, o direito de ter os irmãos querendo brincar com você.

Depois, encontraria a família em partes, em porções, em trechos isolados, em eventos com alguns representantes, em celebrações com o quórum pela metade, em aniversários com alta abstenção. Jamais ela estaria completa como outrora, na mesma foto, na mesma mesa, na mesma casa. Jamais haveria aquele rebuliço na cozinha, aquele almoço usando o sofá e o prato no colo para comportar uma multidão na sala, aquela algazarra com as pessoas gritando para impor sua versão dos fatos.

O som do ambiente diminuiria consideravelmente até ser compreensível cada diálogo, os abraços rareariam até sobrar espaço, as piadas e implicâncias cairiam no vácuo e no esquecimento.

Os avós morreriam, os pais iriam se divorciar, os irmãos iriam crescer, trabalhar e formar o seu lar, os tios e primos seguiriam seus destinos e só manteriam o sobrenome em comum. Nada mais seria como antes. Nada mais estaria repleto como antes. Nenhum contato voltaria a ter igual e fértil facilidade.

Veja o parto que é, na vida adulta, tomar um café com um irmão, fazer coincidirem as agendas, localizar um intervalo para confissões e cumplicidade. Naquela época, você dividia o quarto, você puxava conversa sem pedir licença, você chamava e era atendido, você nem sequer conhecia o medo da distância.

Não sentíamos saudade porque permanecíamos próximos, rentes, acessíveis. A saudade só surgiu depois, para apagar a luz. Se eu soubesse que iríamos nos dispersar pouco a pouco, que a residência cheia não duraria para sempre, eu teria sido mais intenso, mais atento, mais participativo, mais entregue ao momento.

Como eu poderia vislumbrar que o melhor de nós não era eterno? Embora o Natal agrupe a nova geração de sobrinhos e filhos, as ausências ainda serão notadas, as cadeiras vazias dos antecessores não serão preenchidas. Haverá sempre um porta-retratos na estante ou na parede lembrando quem partiu mais cedo.

Do total da minha história, experimentei apenas sete anos do apogeu familiar, com os troncos materno e paterno entrelaçados, com os galhos se acarinhando, com os pássaros construindo os seus ninhos. Apenas sete anos dos meus 52!

Por que ninguém me avisou antes? Eu pensava que árvores não voavam. _ O som do ambiente diminuiria até ser compreensível cada diálogo, os abraços rareariam até sobrar espaço

CARPINEJAR

A produção tinha pelo menos dois grandes desafios. O primeiro era ser fiel à imaginação do autor. O segundo era conseguir ser infiel na medida certa, admitindo-se que é impossível transformar palavras em imagens sem arriscar-se para além dos limites da obra original. Em se tratando de uma plataforma de streaming global como a Netflix, o maior perigo era Macondo ficar mais parecida com um hotel temático de Las Vegas do que com Aracataca, povoado no norte da Colômbia onde García Márquez nasceu. 

Não foi o que aconteceu. Da escolha do elenco à direção de arte, passando por cada detalhe do figurino e dos cenários, tudo contribuiu para que o espectador ficasse com a sensação de que a alma colombiana da história estava sendo respeitada.

Com relação à adaptação do romance, o resultado me pareceu não apenas respeitoso, mas de certa forma até mesmo complementar. Em geral, onde a literatura toma todo o tempo necessário para contar uma história, séries e filmes costumam pisar no acelerador, sem se preocupar muito com o que se perde pelo caminho. Neste caso, me parece ter acontecido o contrário. 

Se Cem Anos de Solidão é um romance que se lê quase perdendo o fôlego a cada página, tantas coisas acontecem e tão poucos intervalos para observar a vida interior dos personagens a trama oferece, a série, em comparação, se desenrola em câmera lenta, dando oportunidade para o espectador demorar-se um pouco mais em cada desdobramento da história.

Para quem, como eu, gostou da série e mal pode esperar pela segunda e última temporada (ainda sem data de estreia definida), minha sugestão é aproveitar o momento "soy loco por ti, América" para assistir à adaptação de outro clássico latino-americano que estreou há pouco no catálogo da Netflix, ainda que sem tanto alarde: o filme Pedro Páramo, baseado na obra do escritor mexicano Juan Rulfo. Um livro que inspirou, entre tantos outros autores, o próprio García Márquez.

CLÁUDIA LAITANO 


30 DE DEZEMBRO DE 2024
OPINIÃO RBS

À espera de um lar no ano novo

Se a chegada de um ano novo é sinônimo de renovação, mudanças e realizações, a expectativa de dias melhores é ainda maior para as cerca de 1,2 mil pessoas que perderam suas casas na enchente de maio e permanecem em alojamentos públicos no Estado. São sete meses de aflição, no aguardo do cumprimento das promessas do poder público de um lar definitivo, onde poderão recuperar a dignidade e recomeçar as suas vidas. Espera-se que, ainda nos primeiros meses de 2025, tanto os que estão nos centros humanitários de acolhimento (CHAs) como em outros abrigos espalhados pelo Rio Grande do Sul ou em residências de familiares possam celebrar essa conquista.

Foram tocantes os relatos de pessoas deslocadas que, com suas famílias, incluindo filhos pequenos, tiveram de passar a noite de Natal nas acomodações provisórias. Por maior que seja o esforço para assegurar uma boa refeição e um mínimo conforto aos atingidos pelo infortúnio da enchente, é angustiante continuar em um local provisório tanto tempo depois da tragédia climática e não ter a certeza de quando os compromissos assumidos pelos governos federal e estadual, de assegurar uma moradia permanente, serão honrados. Na véspera de Natal, voluntários vestidos de Papai Noel distraíram meninos e meninas, mas o presente aguardado de forma unânime, por crianças e adultos, era uma casa nova. O Ano-Novo, outra vez, será sob um teto transitório.

O programa de maior vulto, o de compra assistida, do governo federal, tinha a estimativa de atender até 20 mil pessoas no Estado. Até a sexta-feira, dia 20 deste mês, porém, a Secretaria de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul contabilizava apenas 3,9 mil famílias atingidas habilitadas para receber um imóvel. Dessas, são aproximadamente 2 mil em Porto Alegre. Em vez de construir moradias, um processo demorado, a iniciativa permite aquisição de imóveis de até R$ 200 mil para famílias enquadradas nas faixas 1 e 2 do Minha Casa Minha Vida. 

É, de fato, uma saída em tese mais ágil, mas que também pela complexidade do processo ainda não tem a velocidade de entrega de casas adequada. As queixas de possíveis beneficiários têm sido recorrentes. Na Capital, prefeitura e Caixa farão, no próximo mês, mutirões nos bairros Sarandi e Humaitá, dois dos mais afetados pela cheia de maio, para agilizar os cadastros. Espera-se que produzam resultados. Afinal, o número de chaves entregues permanece no patamar de poucas dezenas, resultado tímido para um drama comum a milhares de pessoas.

O governo gaúcho pretende, em um prazo de seis meses, desmobilizar os três CHAs, dois em Porto Alegre e um em Canoas. São estruturas montadas pelo Estado e geridas pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), agência vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU). O planejamento do Palácio Piratini prevê que, nesse período, os abrigados recebam moradias próprias ou sejam amparados por outras alternativas oferecidas pelos municípios, como estadia solidária e aluguel temporário. É mais uma razão para os Executivos federal e estadual acelerarem os seus programas de residências permanentes. A promessa de que nenhuma família atingida ficará desassistida deve ser alvo de constante cobrança. _

A promessa de que nenhuma família atingida pela enchente ficará desassistida deve ser alvo de constante cobrança



30 de Dezembro de 2024
ACERTO DE CONTAS - Giane Guerra

Esta coluna contém informação e opinião

Varejo e serviços puxam largada

A atividade econômica gaúcha começou o último trimestre de 2024 com avanço, crescendo em outubro pelo segundo mês consecutivo. O Índice de Atividade Econômica Regional do Rio Grande do Sul (IBCR-RS), calculado pelo Banco Central e considerado uma prévia do PIB, subiu 0,20% na comparação com setembro. O patamar de 143,86 pontos, porém, ainda fica abaixo de julho.

Em um ano com previsão de safra cheia após estiagens, mas em que se enfrentou uma enchente no Rio Grande do Sul, como os setores econômicos começaram o último trimestre? Veja os dados:

Indústria

A produção industrial no Rio Grande do Sul teve queda de 1,4% na comparação com o mês anterior, setembro. Alternando resultados positivos e negativos nos últimos quatro meses, a indústria gaúcha registrou em outubro a queda mais intensa do país. Produtos do fumo; químicos; e celulose, papel e produtos de papel contribuíram. Com os dados de outubro, a produção industrial está 1,1% acima do pré-pandemia (fevereiro de 2020), mas 13% abaixo do recorde, de setembro de 2008. Em 12 meses, o acumulado fica em -0,9%.

Varejo

Já o volume de vendas do comércio varejista gaúcho subiu 0,2% na comparação com setembro. Com esse resultado, o setor renova o recorde da série histórica no Estado. O acumulado de 12 meses traz alta de 7%. No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças; material de construção; e atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo, o volume de vendas subiu 1,8% em outubro e 7,3% em 12 meses.

Serviços

O volume de serviços no Rio Grande do Sul cresceu 5,1% frente a setembro. Com o resultado, o setor se encontra 9,1% acima do nível de fevereiro de 2020 (pré-pandemia) e 11% abaixo de abril de 2014, que foi o ponto mais alto da série histórica. O acumulado dos últimos 12 meses fica negativo em 6,4%. _

Restauro do Chalé

Funcionando como bar e restaurante desde 1911, o Chalé da Praça XV, no Centro Histórico, passará por uma grande reforma de R$ 6,854 milhões. O orçamento foi liberado pelo governo federal pela Lei de Incentivo à Cultura (LIC) e já publicado no Diário Oficial da União (DOU). As empresas interessadas investem e, depois, abatem nos impostos, com contrapartidas, com a exposição da marca no local.

- Já temos 28 interessadas em patrocinar o restauro. A região tem muita visibilidade - diz Edemir Simonetti, que está na gestão do negócio desde 2001.

O complexo do Chalé da Praça XV é tombado pela prefeitura de Porto Alegre como patrimônio histórico. Sua estrutura foi bastante atingida pela enchente. A ideia é retomar atividades culturais no espaço, como exposições, apresentações e manifestações artísticas.

O empresário quer fazer o projeto em janeiro, iniciar a obra em março e finalizá-la em seis meses. Já busca por ideias novas.

- Vou viajar, pensar o que podemos criar. Penso em ampliar o mix de produtos, colocar uma hamburgueria e uma pizzaria no complexo. O Centro mudou, mudou o público. Tem muito turista - diz, com a intenção de aumentar o movimento no final de tarde e à noite.

Dos outros empreendimentos de Edemir Simonetti, que também é diretor do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e Região (Sindha), o 360 Poa Gastrobar, que fica acima do Guaíba, tem recebido bastante dedicação do empresário.

- Fiz um jardim para encantar os clientes. Temos que estar vivos, até para compensar como ficou a Orla. A obra da prefeitura vai demorar, mas logo tem a reabertura da Usina do Gasômetro e já ajuda - avalia.

O Guapo Gastronomia também vai bem, com a retomada do movimento dos hotéis. Já o Bistrô do Margs aguarda a reforma do Museu de Artes do RS (Margs) para buscar patrocínio. Quanto ao Baruno, quase destruído na Orla, dependerá da obra da prefeitura para reabrir. _

Ainda em reestruturação, a cooperativa Piá, de Nova Petrópolis, quer elevar dos atuais 82 mil para 200 mil litros de leite captados por dia em 2025 para fabricar derivados como queijos e iogurtes. Antes da crise, eram 240 mil litros. Para isso, é preciso reconquistar fornecedores que perdeu por falta de pagamento. A Piá tem 160 produtores, mas já teve 800, diz o presidente Jorge Dinnebier.

Entrevista - Írio Piva - Presidente da CDL POA - Indústria gaúcha de borracha duplica fábrica no ES

O objetivo é atender encomendas com mais rapidez. A ida para o Estado foi para estar mais perto dos clientes das regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O quadro de funcionários sobe para 50 pessoas, informa o executivo de Marketing Jandrei Goldschmidt.

Fundada em 1975, a Unique fabrica produtos de borracha e atua na recapagem de pneus. Tem as marcas próprias Tipler e Borex. _

ACERTO DE CONTAS

30 de Dezembro de 2024
IMPASSE ENTRE PODERES

IMPASSE ENTRE PODERES

Impasse entre poderes

Em nova decisão, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino liberou ontem o pagamento de parte das emendas parlamentares.

A decisão autoriza a execução de emendas de comissão empenhadas até o dia 23 de dezembro, data em que Dino bloqueou os pagamentos. Além disso, também fica autorizada, até o dia 10 de janeiro, a movimentação dos recursos de emendas já depositados nos fundos de saúde.

Em decisão anterior, Dino havia exigido a abertura de contas bancárias específicas para cada emenda, o que facilitará a fiscalização dos recursos. A partir de 11 de janeiro, as transferências só poderão ocorrer por meio dessas contas.

O bloqueio se deu a partir de pedido do PSOL e sob alegação de que os critérios de transparência e rastreabilidade previstos em lei para as emendas de comissão não estão sendo cumpridos.

Na sexta-feira, a Câmara respondeu a questionamentos de Dino para tentar liberar o pagamento de R$ 4,2 bilhões que estava previsto para ocorrer até o fim do ano.

Ao decidir pela liberação parcial dos recursos, de maneira excepcional, Dino justificou com a necessidade de "evitar insegurança jurídica para terceiros", como Estados e municípios, empresas e trabalhadores.

"Balbúrdia"

O ministro, porém, criticou a resposta da Câmara, alegando ser "inviável a sua acolhida e seguimento".

"Ao examinar as petições apresentadas pela Câmara dos Deputados no dia 27 de dezembro, às 19h50min), verifico o ápice de uma balbúrdia quanto ao processo orçamentário - certamente inédita", escreveu.

Ainda segundo Dino, a manifestação da Câmara contêm "incoerências internas", "contradições" e "confronto com a ordem jurídica pátria".

O impasse se dá porque, no modelo atual, os líderes dos partidos assumem a autoria das emendas, ocultando os parlamentares que fizeram as indicações. Dino classificou o sistema como "anômalo". _

Dino libera parte das emendas, mas volta a criticar a Câmara dos Deputados

Ministro afirma que falta transparência nas verbas indicadas por comissões


30 de Dezembro de 2024
INFORME ESPECIAL -

A escala do conflito político em Moçambique

O ano ainda não acabou para Moçambique, no sul da África, e vai começar 2025 também agitado. Há uma semana, a população vive cenário de intensas manifestações nas ruas diante do resultado das eleições presidenciais, ocorridas em outubro. É considerada por ativistas locais como a pior violência desde o fim da guerra civil, há 32 anos. Organizações da sociedade civil apontam que mais de 250 mortes.

Na última segunda-feira, o Conselho Constitucional - o tribunal superior do país - confirmou a vitória de Daniel Chapo, da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), mesmo que observadores internacionais apontem irregularidades no processo.

Manifestantes acusam o partido, que está no poder no país desde a independência, em 1975, de fraude. Do outro lado, o opositor Venâncio Mondlane, do Partido dos Otimistas para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), alertou que um "caos" poderia ser instaurado no país caso a Frelimo continuasse no poder.

Como se chegou neste cenário?

O descontentamento popular não começou agora. A insatisfação teve início nos últimos anos com denúncias de corrupção e escândalos de dívidas, que quase colapsaram a economia do país, considerado um dos mais pobres do mundo. Ligado a isso, há um aumento da pobreza e do desemprego.

Recentemente, Mondlane acusou as forças de segurança do país de permitirem saques e vandalismo para dar ao governo pretexto de declarar estado de exceção e reprimir protestos. Na sexta-feira, Chapo apelou a "não violência" e à "unidade".

Como o Brasil acompanha?

O país é um ponto estratégico que conecta o sul da África com outras partes do mundo. Além disso, há reservas de gás natural, que atraem investimentos estrangeiros.

O Brasil e Moçambique fazem parte do chamado "Sul Global", termo utilizado pelo presidente Lula e que refere-se a países situados principalmente no hemisfério sul e que contam com desafios semelhantes nas esferas de desenvolvimento econômico e social. Ambas nações também têm economias baseadas na exportação de commodities.

Diante da escalada de conflitos, o governo brasileiro, por meio do Itamaraty, emitiu uma nota na última sexta-feira que acompanha com "preocupação" a repercussão do anúncio e dos conflitos. Historicamente, há laços culturais e econômicos do Brasil com o país africano.

O temor agora se direciona para 2025, já que as manifestações nas ruas de diversas cidades, como na capital Maputo, tende a crescer e persistir até o dia 15 de janeiro, quando ocorre a posse de Chapo na presidência do país. _

RS em destaque em jornal internacional

Dias antes do grave acidente aéreo de Gramado, um dos mais tradicionais jornais do mundo, o americano The New York Times, divulgou uma extensa reportagem de uma incursão realizada pelo interior do RS. Entre os locais visitados: Gramado, Antônio Prado, Garibaldi, Teutônia, Lajeado e Coronel Pilar.

Na reportagem, o jornal escreveu que buscou "explorar a herança italiana e alemã do Rio Grande do Sul, o Estado mais ao sul do Brasil, para maximizar a culinária dos imigrantes, vinícolas desconhecidas e vilas com charmosos edifícios de madeira".

Destaques gaúchos

Um destaque ficou para o Natal de Gramado, que, nas palavras do repórter Seth Kugel, lembra "uma cidade de esqui alpina, enfeitada com estátuas de Papai Noel e enormes bastões de doces". Também falou da "graspa", bebida alcoólica de origem italiana e a famosa música dos imigrantes Mérica Mérica.

Com fotos de Gabriela Portilho, o jornal também destacou a reconstrução de cidades que foram afetadas pela enchente de maio. "Achei a área próspera e em grande parte segura, embora ainda esteja a se recuperar das cheias de maio, com a construção de estradas em curso a exigir por vezes atrasos e desvios". _

Lula alimenta jabutis na Granja do Torto

A primeira-dama Janja Lula da Silva publicou, na manhã deste domingo, uma foto em suas redes sociais em que mostra o presidente Lula alimentando jabutis na Granja do Torto, em Brasília.

Na imagem, o presidente aparece agachado onde oferece fatias de melancia para os animais. Lula ainda usa chapéu, onde esconde as cicatrizes da recente cirurgia na cabeça.

A Granja do Torto é a residência de campo do presidente e desde sexta-feira Lula despacha do local, onde recebeu visita de parlamentares e ministros.

A previsão é de que passe as comemorações de Réveillon por lá, acompanhado de Janja. _

Instituto IMCP encerra ano com foco social e educacional

O Instituto CMPC, braço social da gigante companhia de celulose, encerra 2024 com atuação e foco em iniciativas sociais e educacionais. Segundo a empresa, a intenção é de que as ações sigam em atividade em 2025.

Em dezembro, por exemplo, ocorreu a formação da primeira turma de alunos do programa Criando e Crescendo. O projeto tinha o objetivo de fortalecer vínculos entre pais e filhos de dois a três anos e contemplou 14 famílias de alunos de duas escolas municipais de educação infantil: Cantinho da Alegria e Tia Romana, ambas de Barra do Ribeiro.

Outra iniciativa foi o programa Fibra do Bem, que auxiliou vítimas das enchentes do Estado. Ao todo, foram destinados R$ 30 milhões, tanto nos atendimentos imediatos quanto no pós-enchente.

No fechamento do ano do Instituto, a entidade também destaca a entrega de mochilas e kits escolares para a rede municipal de educação de Guaíba. _

Alerta aos alunos estrangeiros

Universidades dos EUA estão aconselhando estudantes estrangeiros a retornarem mais cedo das férias de inverno em meio a promessas de novas políticas migratórias e anúncios de deportações em massa de Donald Trump, que toma posse em 20 de janeiro.

A coluna conversou com um professor de uma universidade de Washington, capital americana, que confirmou o alerta aos alunos, caso que já ocorreu em 2017. _

INFORME ESPECIAL

sábado, 28 de dezembro de 2024


Martha Medeiros
22/11/2024 - 09h00min

Aceito com serenidade as derrotas mínimas, a fim de me poupar para as derrotas máximas. Minha disposição para o bate-boca é zero. Quem dirige um carro, busca um espaço destinado aos carros, mas há quem subverta a norma.

Eu precisava estacionar em um quarteirão onde raramente havia vaga disponível, então saí de casa com antecedência: imaginei que teria que dar voltas e voltas até conseguir encaixar meu carro entre outros dois. Porém, contrariando minha expectativa, logo encontrei um espaço perfeito para meu veículo, só que havia uma senhora em pé, plantada bem ali, sobre o asfalto, no espaço da vaga, olhando ansiosa para os lados. 

Dei uma buzinadinha sutil para avisá-la que ocuparia a vaga e que ela deveria subir até a calçada. Ela não me deu bola. Dei ré até me aproximar dela, abri o vidro: vou estacionar, a senhora poderia dar licença? Ela respondeu: estou guardando o lugar para meu marido, ele logo vai chegar.

A mulher estava em pé, no meio da rua, entre dois carros estacionados, guardando a vaga, impedindo que qualquer outro carro – no caso, o meu – se apropriasse daqueles cinco metros que seu marido viria a ocupar quando chegasse. Ela parecia um cone.

Absurdo, eu sei, mas minha disposição para o bate-boca é zero. Dei mais umas voltas no quarteirão e depois de 10 minutos encontrei outra vaga. Esqueci da mulher e do seu papel impróprio de bloqueador humano. 

Até que escutei de um amigo uma história similar. Ao entrar no estacionamento de um shopping lotado, em meio às voltas que se dá no subterrâneo, ele visualizou uma vaga livre, com um homem ali em pé, parado. Meu amigo fez sinal de luz. O cara não se mexeu. Meu amigo abriu o vidro e pediu licença. 

O cara se fez de surdo. Até que a situação ficou insustentável e o homem “estacionado” disse que não sairia dali até que o carro do seu filho chegasse. Estava guardando o lugar. Não há nenhum cartaz nos postes ou nas garagens públicas que diga que não se pode colocar um corpo humano guardando o lugar de uma vaga. 

É questão de bom senso, porém o bom senso anda desprestigiado. Quem dirige um carro, busca um espaço destinado aos carros, mas há quem subverta a norma: vence quem tiver a empáfia de se declarar dono do pedaço. 

É assunto de importância? Nenhuma. Importam as queimadas, as mudanças climáticas, as guerras estúpidas. Mas é no dia a dia que a gente enfrenta o mundo. Eu aceito com serenidade as derrotas mínimas, a fim de me poupar para as derrotas máximas. Mas meu amigo, aquele que tentava estacionar no shopping, não foi tão benevolente. Não desistiu. Brigou pela sua vaga. 

Minutos depois, o garoto aguardado pelo pai apareceu com seu veículo e, petulante, gritou para meu amigo: vaza!! Ele não vazou. Chamou os seguranças. E estacionou. Perdeu um tempinho, mas fez o que devia. É o super-herói de pessoas como eu, desabilitadas para as disputas prosaicas. Só ocupo vagas que não me obriguem a me exaltar.  



Martha Medeiros
29/11/2024 - 09h32min

Essa crônica é um tutorial sobre conversar

A graça está em dar seu recado com clareza e depois, elegantemente, passar a chance ao outro de mostrar seu talento

Essa crônica é um tutorial sobre conversar. Me inspirei nos garotos que, na praia, não costumam ficar deitados sobre uma canga, se bronzeando. Eles querem movimento, e quando enxergam uma bola, se reúnem com quem estiver em volta e montam ali mesmo um time de cinco ou seis contra ninguém: passam a bola um para o outro pelo prazer da troca. A bola é a metáfora perfeita para este assunto.

Talvez você conheça um homem que, mesmo sendo generoso e inteligente, não entendeu direito como funciona o mecanismo de dar uma, duas, três embaixadinhas com a palavra e passar a bola adiante. Ele retém a bola e dá 12, 20, 35 embaixadinhas, enquanto os parceiros aguardam de braços cruzados, e por vezes até desistem da brincadeira, se dispersando. A roda só se mantém quando todos têm o mesmo protagonismo, a troca precisa ser ágil.

Falo de conversas em grupo. Cinco pessoas, dois casais, três ímpares, um par, não importa. Ninguém pode reter a bola por muito tempo, ou o jantar desanda, a conversa entedia. 

A graça está em dar seu recado com clareza e depois, elegantemente, passar a chance ao outro de mostrar seu talento. Alguns segundos são suficientes, daqui a pouco a bola volta para você. Vai à praia hoje? Observe.

Tenho absoluto fascínio pelos garotos que batem bola em círculo à beira mar. São os mestres da diplomacia, adolescentes já manifestando o adulto que serão. Todos com domínio de suas habilidades, sem a compulsão de reterem a bola a ponto de desprestigiarem os parceiros. Todos têm a mesma oportunidade de mostrarem seus dotes, sendo que o principal deles nem é a destreza, e sim a arte de conviver.

Mas e se você for um Gabigol entre amadores, um Vini Junior entre pernas de pau? Maior será sua dignidade ao se igualizar e manter a bola por pouco tempo em seus pés. O encontro nunca serve para projetar um só, e sim para confirmar a disponibilidade do grupo em repartir os holofotes e permitir que a verdade sobressaia: somos todos iguais, mesmo aqueles que parecem mais iguais do que os outros.

Meninas são craques em bate-bolas com tempo repartido, observe-as em bares e cafés: elas sabem que têm muito a dizer, e todas mantêm-se interessadas umas nas outras. Duas, três embaixadinhas falando de si mesmas, e passam a bola. Às vezes com uma ligeireza que induz a achar que falam todas ao mesmo tempo – ainda assim, todas têm a sua vez.

Meninos, não retenham a bola com exagero, não se concentrem tanto em si mesmos e em suas histórias prolongadas, aprendam a repartir. A bola logo voltará a seus pés. Joguem-na para frente com paciência e desprendimento, assistam a habilidade de quem está jogando junto e permitam que a vida seja divertida para todos. 



28/12/2024 - 15h21min
Martha Medeiros

Meus votos para o seu 2025

Retire os obstáculos que te paralisam: preguiça, pudor, medo do fracasso, medo do sucesso, procrastinação, falta de autoconfiança

Que você mantenha a orquestra tocando, não importa o drama ao redor.

Que você tenha dezenas de novas primeiras vezes. Que saiba diferenciar um influencer de um nonsenser.

Que continue sabendo escrever à mão.

Que envelheça sem perder o borogodó.

Que receba outra chance (você ainda não estragou tudo).

Que saiba diferenciar o que é excessivo do que é essencial.

Que em vez de prestar tanta atenção nos milhares de seguidores, você responda com mais presteza a mensagem privada que alguém te enviou.

Que a maturidade te dê experiência no combate (entra ano, sai ano, e a vida continua difícil).

Que quando se sentir muito angustiado, perceba logo que a saída é mudar de ponto de vista.

Que você não ria do que não é engraçado. Não precisa ser simpático com idiotas.

Que você encontre o amor que mereça.

Que você saiba ser adorável com quem está conversando. Uma dica: faça perguntas.

Que você consuma coisas boas. Livros, comida, música, pessoas, postagens. Seja exigente.

Quem almeja algo, seja o que for, não pode ser tão preguiçoso

Quem almeja algo, seja o que for, não pode ser tão preguiçoso

Que descubra a solução para a maioria dos problemas de relacionamento: controlar o ego.

Que você se recuse a confrontos. Gaste sua energia dançando.

Que seja sempre franco, assim nunca terá medo de ser desmascarado.

Que você ria com seus amigos até quase explodir.

Que você retire os obstáculos que te paralisam: preguiça, pudor, medo do fracasso, medo do sucesso, procrastinação, falta de autoconfiança.

Que compreenda que felicidade não significa a mesma coisa para todos.

Que você busque mais conhecimento e menos crenças.

Que você aceite que agora você é assim, não importa como você era antes.

Que você não leve nenhum tombo. Quebrar a cara, acontecerá às vezes, mas quebrar uma perna, evite a qualquer custo.

Que não se preocupe tanto com o que não lhe diz respeito (mas política, diz).

Que não seja irritantemente bonzinho, boazinha. Ninguém vai para o céu. Ninguém.

Que você procure entender o mundo em que vive antes de julgar os que são diferentes de você. Se for imprescindível julgar, julgue pelo conjunto da obra, e não pelo que aconteceu hoje de manhã.

Que não caia naquele ditado enganoso, “quem vê cara, não vê coração”. O coração está na cara, sim: o olhar e o sorriso entregam tudo.

Que você encontre o que não estava procurando, e passe a considerar os acasos como bênçãos.

Que você não tenha vergonha de perguntar onde é o banheiro.

Que se deixou sua vida ser conduzida pelos outros, reassuma o volante.

Que você saiba contabilizar o que tem a perder e o que tem a ganhar diante de qualquer situação.

Que você siga seu faro.

Que sua solidão seja repleta de acontecimentos.

Que você mantenha a orquestra tocando, não importa o drama ao redor.

Que quando as coisas estiverem desmoronando, você lembre que é apenas uma fase.

Que você deseje, mas sem intransigência, sem fazer questão absoluta de nada. Deseje sem obsessão.

Que você não fique contra você em 2025. 


Dominique Wolton

Sociólogo e especialista em Ciências da Comunicação francês recebeu o título de Doctor Honoris Causa da PUCRS no início de dezembro. "Fazer mais rápido a mesma coisa não é um progresso humano"

Com 50 anos de produção acadêmica e 77 de vida, Dominique Wolton vê com preocupação movimentos recentes de flexibilização das formas de trabalho. Segundo ele, essa nova divisão gera uma falsa liberdade e implica perda de autonomia e iniciativa individual.

Isabella Sander

O senhor acompanha as mudanças tecnológicas e políticas e sua relação com a comunicação desde os anos 1970. Quais as principais transformações nesse período?

A evolução técnica favoreceu dois movimentos contraditórios. O primeiro é que cada um pode trabalhar sozinho, onde quiser, em qualquer lugar do mundo. É a individualização. O segundo é que existe uma economia de massa, onde tudo é padronizado e racionalizado. Essa é a principal contradição: podemos trabalhar em qualquer lugar do mundo, mas tudo é organizado e estruturado com muito menos liberdade do que antes. Menos liberdade porque tudo está integrado em redes e sistemas organizados.

De que forma esse movimento se manifesta mais?

É uma nova forma de divisão do trabalho. É como dizer: fique em casa, trabalhe em coworking, seja mais livre. Mas é liberdade dentro de um quadrado. E, como se pode fazer muitas coisas dentro desse quadrado, não percebemos que, na verdade, é uma prisão. Portanto, há um verdadeiro problema de empobrecimento da iniciativa individual. Perdemos em liberdade o que ganhamos em eficiência. Dizem que é maravilhoso, que é mais rápido. Sim, mas o ser humano perdeu.

Quais as especificidades no Brasil nessa transformação, na comparação com outros países?

Há apenas uma especificidade, que é haver menos indústria. Há muita agricultura. Mas a tendência é a mesma. Sempre que apresentamos a individualização do trabalho como algo que traz mais liberdade, não explicamos que essa individualização se faz dentro de um contexto de racionalização. Essa é a verdadeira tragédia do capitalismo. Tudo o que está acontecendo, chamado de racionalização do trabalho pela tecnologia, na verdade é uma perda de autonomia. Porque todos estão, digamos, separados pelo computador. Todos se acham mais livres, mas para ele todos são, na verdade, dependentes.

Com a internet e avanços tecnológicos, como a inteligência artificial, o que mudou na comunicação?

Com os computadores e, hoje, com a internet, houve um progresso técnico. Significa que muito mais operações podem ser processadas em muito menos tempo. Em última análise, um trabalhador pode fazer mais coisas na mesma unidade de tempo. A falsa narrativa consiste em dizer que isso gera liberdade no trabalho. Não é porque alguém pode trabalhar a qualquer hora da noite que isso é um avanço humano. O ser humano tem necessidade de dormir, de ficar com os seus filhos, de sair. A questão mais complicada é: qual é o trabalho humano e qual é a felicidade no trabalho humano?

O que o senhor considera como progresso humano?

Fazer mais rápido a mesma coisa não é um progresso humano. Um progresso humano é quando as pessoas decidem o que querem fazer juntas, como vão dividir e organizar o trabalho. Se queremos o progresso no trabalho, é preciso trabalhar sobre a divisão do trabalho, sobre a organização do trabalho, sobre as condições do trabalho, sobre as propostas dos próprios trabalhadores, sobre as negociações entre as direções. Senão, será uma espécie de tirania silenciosa com trabalho 24 horas por dia.

Como essas mudanças afetam o jornalismo e a educação?

Os jornalistas são os primeiros afetados. Vai se dizer que não há necessidade de jornalistas, porque todo mundo tem todas as informações por conta própria. Então, cada um vai se tornar um jornalista, o que é estúpido. Aos professores se dirá que não vale a pena dar aulas o tempo todo, que basta fazer videoconferências. Cada um fica na sua casa e não teremos mais do que 10% do curso juntos. E todas as atividades serão assim. Nós iremos dessocializar os indivíduos e vamos remetê-los aos parques tecnológicos. E vamos chamar esses parques tecnológicos de socialização. É uma mentira.

? Mercosul e União Europeia anunciaram um acordo de livre comércio. De que forma isso pode incrementar a comunicação entre os blocos?

Mesmo que os mexicanos ou os brasileiros estejam muito felizes, isso não é tão bom para eles. E tampouco é bom para os europeus. Nós não teremos sucesso na agricultura mundial se ficarmos uns contra os outros. A solução é desenvolver uma agricultura que seja muito mais ecológica. E nesse aspecto, a Europa está evidentemente à frente. Como resultado, há um conflito entre a Europa e o Sul, e isso é um problema. É preciso renegociar, o que é terrível no mundo da comunicação.

Se a comunicação envolve compartilhar, negociar e conviver, como é possível se comunicar dentro de uma realidade de polarização e bolhas sociais? Se queremos uma boa comunicação e uma boa negociação, isso leva tempo. E o capitalismo detesta o tempo, ele quer velocidade para especulação. Essa é a batalha.

Como evitar que essa segmentação da sociedade aumente? Ou, se não for possível evitar, como lidar com ela?

Posso estar enganado, mas penso que segmentação é a questão mais grave, politicamente, do século 21. Com os recursos tecnológicos, com o modo de vida, tudo caminha para a singularização e a segmentação. E todo mundo acha que isso é formidável. Acho que a principal ameaça que temos nos países ricos - e que não há nos países pobres, porque nos países pobres há uma solidariedade familiar e agrícola - é a segmentação das sociedades, na qual todos adoecem nas suas interações. Li uma frase há 30 anos que repito o tempo todo, porque chama a atenção para a solidão das pessoas interativas: todo mundo está sozinho, mas existe a interatividade. Então, precisamos reconstruir totalmente o coletivo. A sociedade é a mistura de todo mundo e a invenção da política para se criar uma forma de coabitar.