08 DE MAIO DE 2021
MARCELO RECH
Os que falam demais
Com seu doutorado em Chicago, o ministro da Economia, Paulo Guedes, pode dominar as ciências econômicas, mas sua verborragia incontrolável seria reprovada em um cursinho pré-vestibular de comunicação. Na voz de um czar da economia, uma frase mal colocada tem o condão de alterar os rumos do mercado, e Guedes não só fala sem script, pausa para reflexão e respiração: ele inventa analogias ruinosas para tentar vender seu peixe e acaba entregando um produto estragado.
Muitas das bobagens de Guedes teriam sido evitadas se ele soubesse que o sentido da comunicação não é o que se quer dizer, e sim o que se compreende da mensagem. A desastrosa fala sobre empregadas domésticas viajarem à Disney, por exemplo, poderia ter sido substituída pela menção de que, no passado, o real superapreciado tornava de fato mais barato passar férias na Flórida do que no Nordeste, com evidentes prejuízos para a economia brasileira. Ou o mais recente tropeço, sobre filhos de porteiros com nota zerada ingressarem em faculdades mediante o Fies, poderia ter alguma serventia se ele colocasse o dedo direto na ferida, sem referências demofóbicas. É verdade que alguns donos de faculdades ganharam mesmo muito dinheiro abrindo e inchando cursos com baixo nível de exigência porque o governo garantia as mensalidades em dia, mas ninguém assimilou o que o ministro pretendia criticar.
Ministros da Economia e presidentes de Banco Central deveriam ser modorrentos, parcimoniosos e econômicos não só nas despesas, mas principalmente nas palavras. Pedro Malan passou oito anos no Ministério da Fazenda, e enquanto corcoveava no lombo das crises, transmitia sonolência e tranquilidade ao país. E Henrique Meirelles, no Banco Central e na Fazenda, se notabilizou como um bem-vindo soporífero sempre que havia um sobressalto nas finanças. Já Guedes parece encantado com sua própria voz e descarrega a arma contra o próprio pé quando diz coisas como, se fizesse muita besteira, o dólar chegaria a cinco reais.
Ainda que involuntariamente, Guedes emula seu chefe, Jair Bolsonaro, que se vale de disparates para incendiar a audiência e provocar tanto indignação quanto apoios apaixonados. Lula, Dilma e Bolsonaro falam muito e de improviso, o que é uma porta aberta a sandices, gafes e analogias pobres.
O problema é que, na economia, não há margem para manifestações estapafúrdias.
Aliás, é como age o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, calejado pelo comportamento obsequioso dos banqueiros que sabem que a discrição, como o silêncio, vale literalmente ouro.
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