segunda-feira, 17 de maio de 2021


17 DE MAIO DE 2021
+ ECONOMIA

"Nunca tivemos intenção de vender nem a Ritter nem a Fadergs"

Daniel Castanho, Presidente do conselho de administração da Ânima

Após muitas reviravoltas, UniRitter e Fadergs passam a integrar a Ânima Educacional, rede de Ensino Superior. É resultado da venda das operações da americana Laureate, que chegou a ser contratada com a Ser Educacional do empresário José Janguiê Diniz. Nesta entrevista, Daniel Castanho, presidente do conselho de administração e acionista com maior fatia da Ânima, diz que nunca houve intenção de vender as duas instituições gaúchas. Também explica os vaivéns do negócio de R$ 4,4 bilhões que inclui 47 campi em sete Estados e mais de 500 polos de ensino a distância (EaD).

Quando UniRitter e Fadergs passam a integrar a Ânima?

Era para ser na sexta-feira. O Cade aprovou o negócio há 15 dias, mas publicou só na quarta à noite. Está fechado e aprovado, agora é entre nós e a Laureate. Estamos fazendo os ajustes financeiros finais. Por decisão da Laureate, o pagamento será no dia 28, mas já estamos conversando com os times. No dia 28, é o TED (referência à transferência bancária).

Como será a integração?

Tenho palestra no dia 20 para todos os professores da Laureate sobre o futuro da educação, para que conheçam nosso modelo de pensar. Nesse período, tivemos conversas com líderes, fizemos um processo bem detalhado, contratamos a Heidrick & Struggles (consultoria americana em liderança empresarial), que avaliou 94 líderes sem saber quais eram da Ânima e quais os da Laureate para ver os perfis e definir quem fica e quem sai. Mais 338 pessoas foram avaliadas para ver quem deve ficar em cada lugar para que tenhamos um dream team. Também teve ajuda da McKinsey. Levamos cinco meses nisso, vai ser o estado da arte na integração.

Por que houve tantas reviravoltas com as duas universidades gaúchas?

Quando a Ser anunciou a compra, com cláusula de "go shop" (que permitia à vendedora buscar proposta melhor), vimos que seria difícil os americanos aceitarem e fizemos nova proposta. A Ser tinha 15 dias para cobrir. Em vez disso, questionou na Justiça, tentando um acordo. O que aceitamos foi, em vez de pagar multa (pela quebra do primeiro contrato), repassar duas instituições que ficam no quintal da Ser, em Pernambuco e Paraíba. Depois, a Ser queria comprar outras, mas não estavam à venda. Colocamos um valor para a opção que sabíamos que não iriam exercer. Nunca tivemos intenção de vender nem a Ritter nem a Fadergs. Quando a Laureate comprou a Ritter, fiquei 48 horas sem dormir, porque teria adorado fechar aquele negócio. Tenho uma admiração pelas duas instituições que você não tem ideia. Era uma paixão anterior, platônica, não ia abrir mão. O Rio Grande do Sul é um Estado sempre à frente em diversas áreas. É conservador para algumas coisas, mas ético, com princípios. A Ânima é muito ética, com princípios e valores. Posso estar enganado, mas tenho um sentimento de que vai ser muito bem-vinda.

O que muda em termos de projeto pedagógico?

Ritter e Fadergs são reconhecidas. A Laureate tem como base o professor como artífice da qualidade acadêmica. Na Ânima, também é assim. Em outras instituições, não. O conteúdo é que é importante, como nas décadas de 1980, 1990, na lógica do telecurso de segundo grau: entrega conteúdo, faz prova e entrega certificado. Esse é um modelo obsoleto. A Ânima tem flexibilidade maior de currículo, deve haver maior integração. A Ânima não é um sistema de ensino, é um ecossistema de aprendizagem. O aluno de Engenharia, Administração, Direito da Ritter vai ter acesso a professores de São Paulo, Belo Horizonte, Bahia. E alunos de fora do Rio Grande do Sul terão o privilégio do acesso aos professores incríveis da Fadergs e da Ritter. Hoje, os professores têm acesso a vagas de trabalho mais locais, passam a ter acesso no Brasil inteiro. Existe uma integração sempre conversada, negociada, em que defendemos sempre o uso da autoridade do argumento em vez do argumento da autoridade.

A Ânima vai focar em EaD?

No Brasil, o EaD é baseado na entrega de conteúdo. Os polos de EaD são um grupo de quatro, cinco salas com internet rápida. O que importa agora não é mais se o ensino é presencial ou a distância. Importa se é síncrono (professores e alunos reunidos ao mesmo tempo) ou assíncrono (alunos com acesso a conteúdos a qualquer momento). Temos uma biblioteca de conteúdos. O momento síncrono é de discussão, provocação, participação, brainstorming (exposição de ideias sem preocupação com sua exatidão). Não faz sentido usar o tempo juntos fazendo algo que cada um poderia fazer sozinho. Falar em presencial e EaD é mindset (modelo mental) antigo. Uma videochamada com poucas pessoas proporciona convívio mais direto do que uma palestra presencial com duas mil pessoas. Temos de pensar qual será o futuro dos polos. Talvez seja tudo o que existe em um campus, menos a sala de aula.

MARTA SFREDO

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