terça-feira, 18 de maio de 2021


18 DE MAIO DE 2021
NÍLSON SOUZA

Escola acolhedora

Em plena pandemia, recebi um convite para participar da festa de aniversário de minha antiga escola. Encontro online, nada de aglomeração. Pensei que seria apenas mais uma dessas reuniões virtuais cansativas, com discursos nostálgicos e formalidades. Ledo e ivo engano: acabou sendo um emocionante ato de amor à educação, protagonizado por diretores comprometidos com a gestão, professores apaixonados pela profissão, alunos, ex-alunos e pais agradecidos pelas lições e oportunidades recebidas.

Por isso, neste momento em que se debate o retorno às aulas presenciais e o valor da relação professor/aluno, faço questão de compartilhar com os leitores minha experiência nessa escola pública da periferia da Capital.

Estudei na Escola Municipal de Educação Básica Doutor Liberato Salzano Vieira da Cunha, situada no bairro Sarandi, na zona norte de Porto Alegre, no tempo em que se chamava Instituto Municipal. Lá, no pretérito perfeito da minha juventude, completei o curso de Técnico em Contabilidade, alternativa de Ensino Médio e habilitação profissional. O Liberato, como é conhecido, acaba de completar 67 anos de existência como uma das principais referências da rede municipal e única que oferece formação completa, da Educação Infantil ao Ensino Médio.

Milhares de vidas passaram pelo prédio mágico da Rua Xavier de Carvalho - e todas foram transformadas para melhor. Os depoimentos apresentados na celebração online, que arrancaram lágrimas até mesmo dos mais distraídos, revelam imensa gratidão a uma escola acolhedora, encantadora, inclusiva e formadora de cidadãos, graças principalmente a professores conscientes, aguerridos e humanitários.

Sou testemunha ocular dessa história. Filho de um entregador de leite, como tantos trabalhadores daquele bairro de operários, eu nem sonhava em chegar à universidade porque não tinha sequer como pagar a inscrição para o vestibular. Então, com todo o cuidado para não me constranger, o inesquecível professor de História Harry Bellomo me procurou e disse:

- Recebi um dinheiro extra que não estava esperando e gostaria de saber se tu aceitas como presente para o vestibular.

Como não amar uma escola movida até hoje por gente assim?

NÍLSON SOUZA

Nenhum comentário: