segunda-feira, 31 de maio de 2021


31 DE MAIO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

EMERGÊNCIA HÍDRICA

O agravamento das dificuldades hídricas no Brasil, que chegaram a um nível sem paralelo em um século, impõe à sociedade ações urgentes e reflexões que apontem um futuro energeticamente sustentável. A situação não chegou a este patamar da noite para o dia, mas a luz de alerta amarela, ao que tudo indica, se transformou em vermelha. Um dos fantasmas que ressurgem da seca é a ameaça de racionamento de energia em boa parte do território nacional, pelo baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas da Bacia do Rio Paraná. Cinco Estados - Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná - tiveram emergência decretada para o período de junho a setembro. As consequências, no entanto, serão sentidas pelas populações de todas as regiões.

Em um momento de inflação alta e desemprego elevado, os brasileiros serão confrontados com mais um desafio. O resultado imediato da baixa produção das hidrelétricas é a necessidade de se acionar usinas que operam a custos mais elevados, como as térmicas. Assim, é certo o aumento na conta da luz. Será inevitável um grande esforço para economizar energia em cada unidade consumidora. Mas vislumbra-se um quadro ainda mais grave se hipótese de racionamento se fizer real, colocando em risco também os sinais de reaquecimento da economia, que apareceram de forma mais nítida nas últimas semanas. O panorama mais drástico nos remete à crise de 2001, no final do governo Fernando Henrique Cardoso, que escancarou o planejamento deficiente do setor energético nacional.

Há pontos obscuros que ainda precisam ser mais bem esclarecidos, como a demora do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para informar sobre a situação crítica, que pode ter inclusive reflexos na falta de água para irrigar plantações nas regiões onde a seca é mais severa, pela necessidade de preservar os reservatórios para a geração de energia. Abastecimento para o consumo humano e transporte hidroviário, da mesma forma, tornam-se incógnitas nas zonas mais afetadas. Mas a nova crise também abre a possibilidade para uma série de reflexões mais amplas.

O baixo nível dos reservatórios, obviamente, é consequência em primeiro lugar da falta de precipitações substanciais. Culpa-se, circunstancialmente, o fenômeno recorrente do La Niña. Mas sabe-se que o planeta vive um período de mudanças climáticas que pode inclusive afetar o regime de chuvas. A reversão desse cenário passa, por exemplo, pela política ambiental. Manter a floresta amazônica de pé, proteger nascentes e matas ciliares são ações essenciais, de longo prazo, para não tornar ainda mais incertas as chuvas e manter os rios brasileiros saudáveis. Há, por outro lado, a necessidade de repensar a grande dependência do Brasil em relação às hidrelétricas, exatamente pela incerteza quanto à regularidade futura das chuvas, apostando em fontes mais promissoras, como a eólica e a solar.

Em outra frente, se reforça a premência de avançar ainda mais na racionalização do uso dos recursos hídricos, como no caso da agricultura, que já teve evoluções notáveis graças à tecnologia e ao espírito empreendedor de seus protagonistas, e mesmo na conscientização das populações urbanas para evitar o desperdício.

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