sábado, 15 de maio de 2021


15 DE MAIO DE 2021
CARTA DA EDITORA

O papel do GDI

Quando veio a público, no dia 19 de março, a informação de que seis pacientes vítimas da covid-19 haviam morrido por asfixia no Hospital Lauro Reus, em Campo Bom, os experientes e premiados repórteres do Grupo de Investigação da RBS (GDI) Adriana Irion e Humberto Trezzi passaram a se debruçar sobre o caso e a acompanhar as sindicâncias e investigações oficiais para tentar entender o que levou a essa tragédia. Por que falhou o fornecimento de oxigênio? Houve omissão? Quem são os responsáveis?

Nesta edição, nas páginas 16 a 19, Adriana e Trezzi fazem um inventário da Associação Beneficente São Miguel (ABSM), que administra o hospital. Para chegar a esta reportagem que aponta um histórico de problemas envolvendo a ABSM, Adriana e Trezzi leram trechos de ações judiciais que têm a entidade como ré, cobrada por antigos parceiros ou por hospitais por onde passou. Conversaram com pessoas que conhecem os sócios, examinaram contratos, buscaram documentos da própria ABSM. Também rastrearam junto a órgãos de controle (polícias Civil e Federal, Ministério Público Estadual, Ministério Público Federal e MP de Contas) a situação da associação. Em Campo Bom, mergulharam em atas de reuniões do Conselho Municipal de Saúde, que já mostravam que o hospital estava endividado e sendo cobrado por problemas de atendimento, falta de pessoal e sobrecarga de trabalho. Entrevistaram funcionários de hospitais por onde a entidade passou. Por fim, ouviram o presidente da própria ABSM, que por duas horas explicou os problemas e defendeu a entidade.

- A atuação de entidades que administram os serviços de saúde é cada vez mais frequente. Só que algumas delas deixaram, Brasil afora, um rastro de fraudes e desvios, prejudicando o atendimento em hospitais - diz Adriana, explicando o que a levou a investigar a ABSM, nascida há pouco mais de quatro anos, no RS.

Para Trezzi, a terceirização dos serviços surgiu como grande alternativa para o poder público, que costuma não ter dinheiro sequer para pagar a folha do funcionalismo. Porém junto vieram problemas como os relatados na reportagem:

- A terceirização atrai tanto entidades sérias quanto organizações sem tradição e expertise necessárias para tocar algo complexo como o gerenciamento da saúde.

Desde que foi criado, em 5 de dezembro de 2016, o GDI já abriu mais de uma centena de novas frentes de apuração. Sempre que um repórter investiga uma denúncia, o objetivo não é só trazer à tona a irregularidade. É também fazer com que autoridades e órgãos responsáveis corrijam o erro. Esperamos, com esta reportagem, colocar mais uma peça no quebra-cabeça deste triste episódio de Campo Bom.

DIONE KUHN

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