sábado, 22 de maio de 2021


22 DE MAIO DE 2021
MARCELO RECH

Já estamos em 2022?

"Irresponsável", "monstrengo", "genocida", "lambebotas", diz Lula sobre Bolsonaro. "Bandido", "ladrão de nove dedos", "criminoso", "só ganha na fraude", diz Bolsonaro sobre Lula.

Com um ano e meio de antecedência, o Brasil foi colocado na antessala do que pode vir a ser o segundo turno da eleição presidencial. Baixarias, campanhas de desinformação e ataques pessoais, sem nenhum espaço para discussão de projetos, são os ingredientes do aperitivo que está sendo servido ao Brasil no confronto dos líderes das pesquisas para 2022.

À primeira vista, mesmo em um país exausto por denúncias de corrupção e devastado pelo coronavírus, a hipótese de o eleitorado se decidir de novo entre a extrema-direita e a velha esquerda pareceria um desfecho inexorável diante do carisma e das paixões evocadas por Bolsonaro e Lula. Mas, olhado mais de perto, o duelo antecipado entre o atual e o ex-presidente tende a levar a um longo embate sangrento que pode deixar a candidatura de pelo menos um deles vitimada pelo tiroteio.

De tanto se xingarem e se autodestruírem, Bolsonaro e Lula podem fazer o eleitor refletir que nenhum dos dois presta mesmo e passar a dar atenção a uma terceira ou mesmo quarta via. Um dos mais espertos e hábeis políticos da República, Lula já se deu conta da armadilha e vem recolhendo a artilharia e a exposição prematura, além de tentar se mimetizar em candidato da moderação.

Para Lula e Bolsonaro, o ideal seria que ambos passassem ao segundo turno e dividissem o eleitorado cansado de guerra. Se um candidato de centro deslocar Lula ou Bolsonaro, a tendência é de que os eleitores do excluído migrem para o novo nome, derrotando tanto esquerda quanto direita. É por isso também que as forças de centro andam quietas. Quanto mais a disputa parecer agora que se resume a Lula e Bolsonaro, mais chance terá um candidato moderado de despontar no momento apropriado - daqui a um ano -, navegar entre os polos e aportar no segundo turno com real chance de vitória.

O Rio Grande do Sul, cuja tradição de polarização antecede em décadas o atual lulismo x bolsonarismo, já foi testemunha de um fenômeno do gênero. Em 2002, Antônio Britto, então no PPS, e Tarso Genro, pelo PT, eram tidos como candidatos imbatíveis para o segundo turno ao governo do Estado. Em janeiro daquele ano, uma pesquisa do Ibope indicava míseros 2% de intenção de votos ao deputado Germano Rigotto, do PMDB. Enquanto Britto e Tarso se atacavam sem parar, Rigotto escolheu um coraçãozinho e mãos dadas como símbolos de campanha, manteve o discurso conciliador que sempre o caracterizou, saltou para o segundo turno e varreu o eleitorado com os votos em massa dos moderados, da direita e dos anti-PT.

MARCELO RECH

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