sábado, 22 de maio de 2021


22 DE MAIO DE 2021
MONJA COEN

O VAZIO INTERIOR

Geralmente falamos de encontros inter-religiosos. Pessoas de diferentes tradições se encontram em momentos específicos e cada representante de uma ordem fala, comenta, ora, medita, abençoa.

Nos dias 14, 15 e 16 de maio, participei do VIII Encontro Zen da América Latina e encontrei praticantes e mestres de vários países. Um encontro singelo, em espanhol. Houve até mesmo gravações de contos zen, filmados como cinema mudo, que todas as três noites nos alegraram com sua inocência e profundidade.

O último professor palestrante foi um padre zen católico que vive a 40 quilômetros de Bogotá. No Mosteiro Salmos.

S de sentar-se

A de atenção plena, presença pura

L de libertação

M de meditação

O de oração

S de silêncio

Padre Victor Moreno Holguin é o guardião desse lugar, onde leva praticantes que para lá se dirigem a abismar-se no silêncio, a encontrar o vazio interior e se perguntar do que é feito esse vazio, esse nada tudo. Ir além das palavras e do discurso para dar um salto no vazio, encontrando a realidade mais profunda no tempo e no espaço. Lançar-se à presença sagrada que é amor, onde este nada, este vazio está repleto de amor.

Em sua jornada espiritual, padre Victor encontrou uma mestra zen, na Europa, e se encantou com as práticas que "me devolveram meu centro. E o centro é a luz, é Jesus".

Houve quem o questionasse, se estava misturando Zen com Cristianismo. Enviaram cartas ao Vaticano. E o jovem padre foi explicar que era 100% cristão e 100% zen.

Como poderia ser isso? Além das dualidades.

No dia 6 de agosto de 2017, ele oficiou parte da celebração da Transfiguração de Cristo na Basílica de São Pedro, em Roma. E lá, fez todos os participantes sentarem-se em Zazen. Aprofundando o silêncio interior e apreciando o encontro, a entrada no que Santa Tereza chamava da quarta morada. O padre citou a santa: "Para entrar no castelo interior, temos de ir além das palavras. A quarta morada é a experiência mística do abismar-se, do maravilhar-se com e através do silêncio".

Ao explicar a seus superiores do seu encantamento com o Zen, lembrou que mais profundos do que os encontros inter-religiosos seriam encontros intrarreligiosos, em que nos abrimos para viver a experiência religiosa de outros grupos e pessoas: "Vivo sua experiência profunda, sem deixar de ser quem sou".

Padre Victor disse que ele é um religioso bilíngue e lembrou que Madre Maria de Nazaré foi quem ensinou seu filho a meditar e a orar. É preciso ir buscar no mais profundo, no mais íntimo do ser - pois ali habita o amor sagrado.

Isso não significa dizer que você é uma pessoa ecumênica e que aceita todos os credos e todas as práticas. O encontro intrarreligioso só pode ocorrer depois de você encontrar seu eu verdadeiro, fazer e manter seus votos através de alguma tradição espiritual. Só então poderá vivenciar outras tradições, sem nunca deixar de ser quem verdadeiramente é e sem abandonar seus votos profundos.

Não é turismo espiritual, curiosidade. É procura e é encontro. Você sabe quem você é?

Mãos em prece

MONJA COEN

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