sábado, 15 de maio de 2021


15 DE MAIO DE 2021
BRUNA LOMBARDI

ADEUS, TANGO

Recentemente o Tango, meu querido companheiro, virou estrelinha. Resgatei ele na rua, deixaram a mãe e seis filhotes na esquina e ninguém chegava perto nem para dar água, porque a mãe, uma cadela de porte médio, parecia muito brava. Na verdade, ela estava apenas com muito medo e queria defender os filhotes. Fui chegando devagar e finalmente, quando ela sentiu confiança, Ri e eu conseguimos pegar todos e levar para casa. De repente tínhamos sete cachorros. Eles estavam tão exaustos, que dormiram dois dias e duas noites sem levantar. Era a trégua de finalmente ter um lugar seguro. Amora, nome que demos para a mãe, aos poucos passou a se sentir acolhida e mesmo assim levou um bom tempo pra relaxar sua tensão. Era bem traumatizada e deve ter passado coisas duras. Demorou bastante pra ficar tranquila, até que começou a parecer feliz. Passou a sorrir.

Ficamos com ela, é quase impossível arranjar um lar para cachorros adultos. Amora não era aquele protótipo de beleza, mas para a gente ela era tão linda e querida. Ficamos com três e os outros foram doados para amigos.

Tango era o mais estressado de todos, aquele que só conseguia relaxar sentado no meu colo, minha mão tampando seus olhos, como se o mundo não existisse. Foram meses desse cuidado, era como se ele precisasse parar de ver tudo o que tinha vivido. Tinha tremores, e levei muito tempo pra conseguir acalmar o Tango. Deu certo e ele se tornou um lindo cachorro, tranquilo, todo creme, com expressão mais aliviada. Foi ficando um bicho contente, mesmo não sendo muito de brincar. Como tanta gente que luta muito pela sobrevivência, Tango era sério e precocemente responsável, sem o lado lúdico da brincadeira. E muito carente, vivia grudado em mim.

Teve uma vida linda e extraordinariamente longa. Depois que todos se foram, ele continuava perto e cada vez mais feliz. Foi uma sobrevida.

Desde criança, achei que tinha vindo ao mundo para cuidar dos bichos. Na minha rua, minhas amigas e eu íamos de casa em casa até achar quem pudesse ficar com os gatinhos abandonados que a gente sempre descobria em algum lugar. Todos os bichinhos que tive foram resgatados da rua e viveram muito felizes. Pensar nisso me faz muito bem.

Quem me ensinou esse amor foi minha mãe, que sempre resgatou todos os animais abandonados que encontrou. Tive uma infância linda por isso, sempre rodeada dos meus bichinhos. Cresci com eles e com eles aprendi o cuidado e o amor incondicional.

Posto sempre nas minhas redes sociais campanhas para adoção de animais abandonados e tanta gente manda lindas fotos dos seus pets que foram resgatados. É a nossa corrente do bem.

Falo disso para dizer como é importante ensinar as crianças a amarem os animais. E como os animais fazem bem para a vida das crianças e de todos nós. Ninguém no mundo sente solidão quando tem um bichinho perto.

E quando eles viram estrelinhas, eles vão sabendo que foram amados e a gente fica com o coração sereno de ter conseguido dar uma vida feliz para quem nos trouxe tanto amor.

BRUNA LOMBARDI

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