sábado, 22 de maio de 2021


22 DE MAIO DE 2021
FRANCISCO MARSHALL

A VERDADE

O elemento que ora nos governa (!), atormenta e expõe à morte, aos milhares e ainda impunemente, adora fundamentar-se na passagem bíblica, do evangelho de João (8:32), que diz: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". A frase foi escrita em grego, idioma dos evangelhos, e conecta-se tanto ao contexto doutrinário desta literatura religiosa quanto ao da história e dos significados desse idioma edificado por poetas e filósofos, muito antes do advento do cristianismo. Vale ler a frase e refletir sobre as questões: o que é a verdade? Como se conhece a verdade? Quem será libertado? Do que ou de quem a verdade liberta? É pauta atual, quando apuramos verdades sobre a tragédia que ora flagela brasileiros.

Para o evangelista João, a verdade está em Cristo ("Eu sou o caminho, a verdade e a vida", 14:6) e no conhecimento de que ele é o filho de deus, mas especialmente na mensagem religiosa e na potência divina, apresentadas como as verdades que devem ser reconhecidas. O personagem atual, cioso de seu eleitorado crente, faz alusões ao seu nome Messias, e escora-se em João para simular ser núncio de verdades, malgrado sua pregação de intolerância, ódio, armas e morte, em tudo oposta à mensagem evangélica. Parece, nesse caso, referir-se à ambição do tirano, de ser o senhor e juiz daquelas verdades que querem se impor como poder e violência.

A palavra grega para verdade, todavia, diz muito mais, e João, o autor que começa falando de arché e logos ("No princípio era o verbo", 1:1), não pode desconhecer o sentido clássico do conceito, cimentado na filosofia de Platão. Alétheia, em que o alfa (a) privativo antecede aquilo que é negado, léthe, o esquecimento: alétheia significa recusar que algo fique esquecido ou abandonado e desvelar, porque este algo tem a sua essência de realidade e se manifesta como fenômeno, quando desocultado. Logo, a verdade decorre de se eliminar o esquecimento. É o que fazemos ao pesquisar e evidenciar o passado (verdades do direito e da história), ou ao investigar e descobrir as causas (verdades da filosofia e da ciência), ou ao adquirirmos consciência de que algo é soberanamente real (verdades da vida e da política).

Eis-nos, pois, diante de senda que pode levar a verdades que libertam. Jazem hoje finados mais de 440 mil concidadãos. Todos assistimos a uma sequência de atos malignos e irresponsáveis que ampliaram o poder letal do vírus e que agora podem ser arrolados como provas de uma verdade que tem que ser formulada com toda a clareza; há autoria e culpa, causa e consequências, fim da vida e colapso da pátria: genocídio brasileiro. Pior: segue atuante a dupla força letal que provoca tanto luto, o coronavírus e seu promotor, e projeções já indicam números ainda mais assombrosos para os próximos meses. Urgem remédios: impeachment, saber e vacina.

A verdade que nos liberta vem da força de fatos que não podem ser esquecidos e exigem um caminho que nos devolva a luz à vida. Então os que sobrevivermos, já libertos, gozaremos do mais verdadeiro alívio, a vitória do amor e a graça da vida.

FRANCISCO MARSHALL

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