sábado, 29 de maio de 2021


29 DE MAIO DE 2021
BRUNA LOMBARDI

ADEUS, VIVINHA

Num momento de grandes desafios e perdas, uma das nossas maiores estrelas vai para o firmamento. Vai se tornar parte de uma grande constelação de gente do bem que já está lá, brilhando no céu, piscando para nós.

Eva Wilma, Vivinha querida de todos, no meio de tantas discordâncias, é uma unanimidade. Uma mulher apaixonada, amiga sincera, grande atriz. Sempre foi coerente em sua vida. Mostrou aqueles valores e princípios verdadeiros que nos fazem seres humanos de dar orgulho.

Vivinha trabalhou com meu pai, Ugo Lombardi, antes de eu nascer, num filme da Vera Cruz chamado Uma Pulga na Balança.

Ela gostava de me contar histórias dele, meu pai sempre foi o queridinho das atrizes.

Muitas décadas depois, ela trabalharia num filme nosso, O Signo da Cidade, com roteiro meu e direção do Riccelli.

Quando a convidamos, ela me disse que o papel era lindo e delicado, e durante as filmagens, ficou muito sensível e usou isso para trazer tantas nuances ao personagem.

Fiquei pensando nos ciclos da vida, nas nossas conexões e em como, muitas vezes sem saber, podemos afetar as pessoas que cruzam nosso caminho. Quantas vidas ela terá influenciado? Quanta gente fazia dela uma referência?

Tantas histórias, segredos, confidências se foram com ela pra nunca mais?

Os tempos andam difíceis para todos. Muitas mortes e sofrimento, tantos precisando de um alento, uma esperança, a sensação de que não estamos sozinhos.

A arte tem sido companheira de muita gente. Entra dentro das casas e se torna um refúgio, um lugar que nos ajuda a viver. Livros, filmes, séries, músicas, pinturas, dentro deles não há isolamento.

Fazemos um tour por cidades que nunca fomos, entramos em museus e exposições inspiradoras, cantamos junto com alguém como se fosse nosso melhor amigo. Vivenciamos cenas de amor de cinema, sem sair de casa. Vivemos perigosamente na ação de uma série de suspense. Mergulhamos profundamente em histórias, ideias e personagens que fazem nossa imaginação viajar.

Quem já não se apaixonou por um artista, não fantasiou um beijo, não se deixou seduzir por suas palavras perfeitas?

Nós, artistas, vamos ficando íntimos de tantas pessoas que não conhecemos, pertencemos a inúmeras famílias que talvez nunca tenhamos chance de visitar, entramos sem saber dentro de sonhos e naquele instante somos reais, mesmo sem estar presentes. E quando algum de nós parte, para tanta gente é como perder alguém extraordinariamente próximo.

A melhor coisa das redes sociais é essa troca constante, essa possibilidade de compartilhar ideias, pensamentos e sentimentos com milhões de pessoas. E ler o quanto estamos perto, unidos, juntos, mesmo sem presença física.

Todos os dias leio milhares de comentários no meu Insta, Face e na Rede Felicidade. Ouço suas vozes, vejo suas fotos, agradeço as coisas lindas que me escrevem com tamanha generosidade.

Fazemos campanhas para ajudar os mais vulneráveis e preservar o meio ambiente. Lutamos por ideais, assim como a Vivinha fez nos anos setenta. A vida tem seus ciclos.

Juntos prestamos homenagem aos que se foram. Em muitos de nós eles continuam presentes.

BRUNA LOMBARDI

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