ONDE NASCE A DESIGUALDADE
O tema da desigualdade e preconceitos finalmente ocupa a agenda da sociedade. Aprendi recentemente que raças não existem, nem como biologia. São uma construção social, produtora de desigualdades. A ideia de branco, negro, amarelo só existe porque há racismo. Se não houver racismo, somos apenas pessoas diferentes. Há desrespeito contra quem é diferente do padrão de uma sociedade colonizada por europeus que estabeleceu uma hierarquia: o branco vale mais do que o negro, mulheres valem menos do que homens. O curioso é que os negros são 56% e as mulheres são mais da metade da população do país.
Acabo de fazer dois cursos na sueca Hyper Island e no coletivo paulista The Mind Factor. Escutei de uma mulher negra que ocupa o cargo de executiva de empresa de grande porte: "a porta dos fundos está sempre aberta para mim. A da frente tem chaves, códigos sociais, dificuldades de aceitação." É inegável que existe uma enorme distância social onde o negro precisa lutar muito mais do que um branco para ocupar um cargo de liderança. Recomendo o vídeo Life of Privilege Explained in a $100 Race (YouTube). Marcio Black, executivo, negro, paulista, diz: "as pessoas lidam bem com o racismo da porta para fora. Mas ninguém quer trazer isso para a mesa de jantar. "Ou somos invisíveis, ou somos um jogador de futebol. O meio do caminho não existe. Os negros que conseguiram ocupar vagas de liderança ou cresceram socialmente são tidos como super-heróis". Como sociedade, estamos muito atrasados. O racismo no Brasil é estrutural: está em muitos de nós e nem sequer notamos.
Felizmente, parte desse triste cenário começa a ser revertido. Um dos best-sellers no Brasil hoje é o livro Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro. Temos uma lei que assegura cotas raciais em universidades. Empresas como Bradesco, Vivo, P&G, Magalu, Google, Bayer e Unilever criaram programas de inclusão. Há pouco, a Fecomércio/RS lançou o ótimo guia Racismo Sutil, mostrando as expressões racistas que usamos no dia a dia. Ações como essas ajudam na tomada de consciência. Lendo o guia percebi que ainda uso muitas palavras racistas como, indiada, judiaria, doméstica, fazer nas coxas, lista negra, samba do crioulo doido, negrinho.
Sinto que temos muito para aprender. Já está claro para mim que negar e silenciar é confirmar o racismo. Com pequenos atos, as coisas podem mudar no dia a dia e garantir direitos iguais a todos. Angela Davis diz: "numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista". A porta da frente precisa estar aberta para todos.
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