sábado, 5 de dezembro de 2020


05 DE DEZEMBRO DE 2020
J.R. GUZZO

Sergio Moro na iniciativa privada

O ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro é um homem multifásico - vale coisas diferentes para pessoas diferentes em épocas diferentes. Quando comandava a Operação Lava-Jato, era um herói nacional. Sozinho, sem outras forças que não fossem a própria integridade pessoal e o seu cargo de juiz numa vara da Justiça Federal em Curitiba, enfrentou e pôs na cadeia um ex-presidente da República, diretores das empreiteiras de obras públicas que costumavam governar o país e grandes estrelas do sistema de corrupção por atacado que deitava e rolava no Brasil de então.

Ao mesmo tempo, era o inimigo número 1 do PT, da esquerda em geral e da nebulosa de juristas amadores e profissionais que se apresentam com a marca de "garantistas". Quando já estava no Ministério da Justiça, foi promovido à categoria de monstro pelos mesmos petistas, esquerdistas e garantistas de sempre, inclusive os internacionais, depois da divulgação de gravações ilegais de conversas que tinha tido com um dos promotores da Lava-Jato.

Tempos depois, Moro pediu demissão do cargo de ministro da Justiça em razão de desentendimentos crônicos com o presidente Jair Bolsonaro sobre nomeações na polícia e outros temas conexos. Transformou-se de imediato num herói da esquerda que o odiava até a véspera - e, ao mesmíssimo tempo, num traíra da pior qualidade para a porção da direita bolsonarista.

Em sua última fase, aberta agora, Moro não é mais a esperança da esquerda, nem dos liberais e nem dos garantistas; por outro lado, tornou-se um satanás ainda mais feio para o bolsonarismo. É o resultado direto do anúncio que ele fez no dia do segundo turno das eleições municipais.

Moro anunciou que vai trabalhar na consultoria americana Alvarez & Marsal - que é, imaginem só, a administradora judicial de ninguém menos do que a Odebrecht, a mais notável de todas as empreiteiras condenadas pelo próprio Moro.

Entre os clientes da consultoria americana estão outras inesquecíveis vedetes da Lava-Jato, como a Sete Brasil e a Queiroz Galvão. Sergio Moro, segundo ele próprio, aceitou o cargo para ajudar empresas como essas a não pecarem mais; vai ensinar como praticar "políticas de integridade e anticorrupção".

Não há dúvida de que Moro tem o direito de ganhar a própria vida e de ficar rico na iniciativa privada, agora que não é mais membro do governo; é muito melhor do que fazer o contrário, como é o caso de tantas estrelas da vida pública brasileira, que decidem enriquecer justo quando entram no time que está mandando.

Mas sempre é bom ficar claro que o antigo santo da luta anticorrupção, bandido para o consórcio PT-Lula-esquerda, traidor para os bolsonaristas e esperança da "oposição", é um homem como qualquer outro. Não é um demônio - nem um mártir. Não é a flor do mal - nem a flor do bem.

J.R. GUZZO*

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