05 DE DEZEMBRO DE 2020
FLÁVIO TAVARES
E agora...?
Jornalista e escritor
Findas as eleições municipais, acabam os sonhos e ficam as promessas como testemunhas de um futuro que ninguém sabe como será. Sim, pois na caça ao voto promete-se tudo, até o que jamais foi (ou é) atribuição de prefeito.
No Brasil, em qualquer âmbito, os candidatos prometem muito mais do que o cargo pretendido pode dar, num estelionato eleitoral, talvez inconsciente, mas concreto. Assim, deixo a cada qual o exame da situação ao longo dos próximos quatro anos, sem esquecer que nenhuma das promessas vagas de hoje se concretizará por magia.
Em Porto Alegre, o prefeito eleito prometeu priorizar o saneamento básico e levar água potável à periferia, mas silenciou sobre a preservação do Rio Guaíba. Na TV e no rádio, calou-se sobre o perigo de que, em poucos anos, a pretendida mina de carvão a céu aberto, à beira do Jacuí, a tão só 12 quilômetros, transforme nosso manancial em líquido pestilento.
Não basta realçar a beleza da nossa orla, mas - sim - evitar que o rio seja vítima da doentia imundície da mineração. Ou a tragédia de Brumadinho (MG) não serviu para nada?
Volto a sublinhar o perigo da tal "mina Guaíba" porque nunca é demais alertar para o horror. Se, por exemplo, déssemos atenção às causas que geraram e alastraram a covid-19 pelo mundo, não teríamos a catástrofe atual, com hospitais lotados e mortes a granel.
Já dizia o sábio jargão: combate-se o mal pela raiz!
Para falar também de flores, desloco o olhar para a posse de Joe Biden na Casa Branca, em 20 de janeiro de 2021. Nunca, como agora, dependemos tanto do futuro presidente dos EUA para salvar o planeta da hecatombe que nós mesmos construímos.
Uma verdadeira revolução já começou com o anúncio de que John Kerry será ministro do clima. A perigosa mudança climática terá abordagem direta e concreta, pois a vida do (e no) planeta depende de medidas profundas que evitem o desastre previsto pela ciência.
Como secretário de Estado de Obama, Kerry costurou o Acordo de Paris sobre o clima, mas a miopia de Trump retirou os EUA do tratado, por considerá-lo "sem interesse".
No Brasil, a desastrosa política ambiental de Bolsonaro faz passar "a boiada" do ministro Ricardo Salles e desconhece as mudanças climáticas. Nem por curiosidade buscam saber as causas de secas brutais alternando-se com destrutivas chuvas de temporais. Nosso governo leva a sociedade inteira a ignorar o perigo fundamental do século 21 - o clima, ou a própria vida do planeta. Assim, como órfãos, só nos resta a ação de Biden e Kerry como tentativa de salvação.
Ou não haverá amanhã.
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