segunda-feira, 6 de julho de 2020


06 DE JULHO DE 2020
INFORME ESPECIAL

Os brasileiros que testaram positivo para outro vírus



É fácil culpar apenas políticos pela corrupção que grassa no país e por decisões temerárias de alguns gestores públicos que acabam aumentado mortes e casos de coronavírus no Brasil. Mas a propensão a se apropriar de recursos do Estado não surge do nada quando se assume um cargo eletivo. Tampouco atitudes irresponsáveis de um presidente, governador ou prefeito deixam de encontrar amparo em atos de cidadãos comuns.

Os centenas de milhares de brasileiros com condições financeiras acima da média ou de famílias privilegiadas que conseguiram o auxílio emergencial de R$ 600, criado para ajudar apenas os mais necessitados, provam que não são poucos os que não desperdiçam uma vantagem indevida quando a oportunidade aparece. Mesmo que, vez por outra, protestem contra a roubalheira em redes sociais. Se os maus exemplos vêm da base da sociedade, como ter uma classe política mais comprometida com a moralidade?

As cenas de aglomerações em bares reabertos no Leblon, no Rio, com quase todos os clientes sem máscaras, ilustram da mesma forma o comportamento de uma parte dos brasileiros que, em primeiro lugar, é egoísta pelo desdém ao risco de contaminar outras pessoas. Apenas a cidade do Rio tem quase 7 mil mortes pelo novo coronavírus, número superior ao Chile, 15º colocado no ranking global. O negacionismo e a falta de empatia não estão apenas em gabinetes. Estão soltos nas ruas.

Porto Alegre e o RS estão em situação comparativa melhor, mas agora atravessam uma fase de aumento das restrições. As flexibilizações podem até ter sido prematuras. Mas a pressão também veio de baixo. E desde o início não faltaram alertas de que, se o isolamento social não fosse levado a sério, a travessia seria ainda mais dura e longa. Não deu outra. A miséria e a informalidade, típicas do Brasil, explicam parte do quadro. Mas a falta de colaboração de quem tem acesso à informação e a condições materiais, também.

O país parece ter normalizado mil mortes por dia, o que causava comoção quando era na Itália. Além da tragédia de 1,5 milhão de infectados, o Brasil tem 620 mil cidadãos que receberam o auxílio emergencial sem ter direito. Dificilmente, os vírus da covid-19 e da falta de princípios poderiam encontrar outro lugar com tantos seres humanos com baixa imunidade ética a colaborar para o seu ciclo exitoso. No segundo caso, o Portal da Transparência ao menos levou muitos que queriam manter a aparência assintomática a testar positivo.

CAIO CIGANA - INTERINO

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