sábado, 4 de julho de 2020


04 DE JULHO DE 2020
CORONAVÍRUS

Ação germicida do sol tem baixo poder


Estudo chinês indica que clima quente e radiação solar não influenciam as taxas de contágio. Um grupo de pesquisadores que usou dados de mais de 200 cidades chinesas não encontrou efeito da temperatura ou da radiação solar na eliminação do coronavírus ou na diminuição do contágio. A descoberta contraria artigos publicados nos últimos meses que apresentaram essa possibilidade com base em cálculos teóricos e experimentos em laboratório.

A ação germicida do sol existe porque a estrela emite radiação ultravioleta. O raio ultravioleta do tipo C (UVC) é o mais potente, e pode eliminar mais de 90% dos coronavírus alojados em superfícies em poucos segundos, de acordo com experimentos em laboratórios com lâmpadas especiais. A radiação ultravioleta age no material genético do vírus, causando um dano que impede a multiplicação do micro-organismo. Mas o UVC emitido pelo sol fica retido na atmosfera antes de atingir o solo. Ainda bem: a exposição direta por um período prolongado pode causar de queimaduras a câncer.

Aparelhos que usam o UVC artificial emitido por lâmpadas especiais para desinfecção de ambientes já são vendidos no Brasil para a eliminação de micro-organismos no transporte público e em ambientes fechados.

Pesquisadores de universidades chinesas cruzaram dados de disseminação do Sars-Cov-2, temperatura e radiação solar de mais de 200 cidades da China. Os resultados, publicados na revista científica European Respiratory Journal, indicam que radiação solar e temperatura não influenciaram nas taxas de contágio. "É prematuro contar com o clima mais quente para controlar a doença", escreveram os autores.

Ainda que os banhos de sol possam estimular a produção da vitamina D, que tem potencial benéfico para o sistema imunológico, os cientistas descartam uma suposta função terapêutica para a covid-19, pois a radiação atua apenas na superfície sobre a qual incide e os vírus se multiplicam dentro das células, no interior do corpo.

Para Caetano Padial Sabino, doutorando na USP e pesquisador das aplicações da luz para a saúde, uma afirmação que circula nas redes sociais de que o risco de infecção pelo coronavírus é menor em dias ensolarados é perigosa.

- O Brasil tem uma taxa de incidência solar que está entre as maiores do mundo, e mesmo assim somos o epicentro da pandemia - diz o cientista, fundador de uma empresa que produz equipamentos de raios UVC para desinfecção.

EVERTON LOPES BATISTA

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