04 DE JULHO DE 2020
CLAUDIA TAJES
De live presencial à internet
Uma vez por ano, no começo de julho, a multicomunicadora Katia Suman e o multiprofessor Luís Augusto Fischer se olham, apertam as mãos e dizem: é nois. Ou isso ou algo mais culto, mas com esse significado. A cada começo de julho, os dois não deixam de se espantar com a longa vida do evento que criaram em 1999. Sem imaginar que, na Porto Alegre em que as coisas surgem e desaparecem com igual velocidade, passariam tantos aniversários do Sarau Elétrico juntos.
É nois. É eles - como se diz no dialeto que o próprio profe Fischer colocou no mapa com o seu seminal Dicionário de Porto-Alegrês.
O que é, quase todo mundo sabe. Antes da pandemia, na alegria e na tristeza (foram algumas), em noite de Libertadores ou com um megashow na cidade, no bafo de Forno Alegre ou na friaca de renguear cliente, o Sarau Elétrico não falhou sequer uma terça-feira em 21 anos de apresentações no bar Ocidente. Sentados nos banquinhos, com convidados e diante de um público fiel que comparecia para ouvir literatura e música boa no final, a Katia e o Fischer resistiram a mudanças de governo, a oscilações econômicas e a crises pessoais sem jamais fechar a lojinha. Muito antes de "vai passar" virar o mantra de 2020, era o que os dois diziam cada vez que algum problema ameaçava o Sarau.
E assim se passaram esses 21 anos.
O primeiro companheiro de bancada da dupla foi Frank Jorge, el Grande, que daqui a pouco lança um superdisco novo - e aqui vai um recado particular para ele: não esquece do nosso clipe, seu maldito. Em seguida entrou o professor Cláudio Moreno, e o Sarau Elétrico ganhou a Coluna Grega, com Zeus, Hera e grande elenco fazendo misérias no palco do Ocidente. Quando o Frank precisou sair - porque não é fácil ir aonde o povo está e não faltar ao trabalho na terça -, e reconhecendo que o público perdeu, eu entrei. E lá fiquei por sete anos, até mudar de cidade, mais ou menos na mesma época em que o profe Moreno também precisou sair. Foi quando chegou o terceiro elemento perfeito, o poeta Diego Grando, lirismo e picardia na medida.
É assim que o Sarau Elétrico chega aos 21 anos.
Diz o Diego: "Entrar para o Sarau foi uma grande sorte minha. Primeiro, enquanto espectador, por ele ter participado da minha formação de leitor (os primeiros anos do Sarau coincidem com minha entrada no curso de Letras), me mostrado outras formas de ver, ouvir e encarar a literatura. Segundo, enquanto integrante, pela diversão que é poder fazer as coisas que eu mais gosto (ler, ler em voz alta, ler em voz alta para o público) com dia e hora marcada, e sem perder a ternura jamais. Ou seja, tenho o privilégio de assistir ao Sarau Elétrico sempre da melhor posição e ainda dar os meus pitacos".
E o professor Fischer: "Meus últimos 21 anos se confundem com o Sarau. Não sei dizer o que seria da minha vida se não tivesse tudo isso, toda essa experiência de, a cada terça, fazer uma live ao vivo - a legítima. Se não tivesse, o tempo todo, essa ideia de conversar sobre literatura de uma maneira franca e aberta, sem frescura e, pelo contrário, tirando a frescura do cenário. Eu convivi nesse tempo todo com a Katia, já há vários anos convivo com o Diego, com os ex-integrantes, com os vários convidados, gente bacana. Tem sido rigorosamente isso, um aprendizado enorme, porque todas as semanas eu preciso pensar no que eu vou dizer lá, e eu sempre digo pensando em coisas, e pensando em apresentar livros, promover gente interessante, oferecer experiências de leitura bacanas. É um negócio sem tamanho de tão bom tudo isso que foi, que tem sido".
Com o isolamento social, o Sarau Elétrico trocou momentaneamente (espera-se) o bar Ocidente pela internet. Todas as terças, às 21h, é transmitido pelo YouTube.com/katiasuman25 e pela radioeletrica.com. E é pela internet que vai rolar a comemoração de 21 anos no próximo dia 7 de julho, uma edição especial de aniversário com muitos dos que participaram do bololô todo reunidos, via zoom, para celebrar a vida, a literatura. Ser feliz por uns instantes.
E bora lá ser feliz por mais muitos e muitos anos.
CLAUDIA TAJES
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