26 de janeiro de 2016 | N° 18426
CAPA
Melhor do que a ficção
DOCUMENTÁRIOS INDICADOS ao Oscar são filmes de qualidade que estão acessíveis ao público brasileiro
Dez anos atrás, críticos costumavam dizer que era preciso ver os documentários nacionais mais do que o cinema de ficção produzido no país para entender o Brasil. Hoje a sentença vale em escala global: com tanta ou mais competência do que a ficção, o documentário tem investigado e aprofundado praticamente todos os grandes temas do mundo contemporâneo.
Primavera árabe, violência policial, imigração europeia, colapso econômico, os gênios e os injustiçados – são as pautas dos melhores filmes recentes do gênero. Com suas idiossincrasias, a Academia de Hollywood tem selecionado algumas dessas preciosidades para o Oscar. O problema é conseguir vê-las: as distribuidoras não raramente ignoram os documentários, que só estreiam nos cinemas quando têm apelo pop – caso de filmes de diretores como Michael Moore ou sobre personalidades como Amy Winehouse.
Uma novidade de 2016 é que quatro dos cinco indicados ao maior prêmio da indústria poderão ser vistos, no Brasil, antes da entrega dos troféus. São eles os excelentes Winter on Fire e What Happened, Miss Simone?, ambos produzidos pela Netflix, e Cartel Land e Amy, duas produções independentes adquiridas para exibição pela gigante do streaming (este último chegou a ganhar sessões nas salas de Porto Alegre).
O outro concorrente, O Peso do Silêncio, passou no Festival do Rio (por isso tem título em português). E é, também, sobre um universo já conhecido do público, à medida que volta ao tema do impressionante O Ato de Matar (2012), exibido na capital gaúcha na edição de dezembro de 2013 da Sessão Plataforma, na Sala P.F. Gastal.
Por seu naturalismo na abordagem de episódios reais, Spotlight e A Grande Aposta são representantes de um cinema próximo do documental selecionados para o Oscar de melhor filme. Mas não têm o impacto de Winter on Fire, com suas imagens duras e poéticas dos assassinatos cometidos pela polícia à serviço do presidente ucraniano Viktor Yanukovich entre 2013 e 14.
Se há um favorito em meio à ótima safra dos indicados à estatueta de melhor documentário, talvez seja essa produção da Netflix. Caso vença, será o primeiro Oscar da gigante do streaming, revolucionária na televisão e, pode-se ver desde já, também no cinema.
daniel.feix@zerohora.com.br - DANIEL FEIX
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