16 de janeiro de 2016 | N° 18416
NÍLSON SOUZA
VESTIBULARES
Fiquei muito orgulhoso de ver uma crônica publicada neste espaço referida na prova de redação do vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, juntamente com uma charge do nosso Marco Aurélio e uma obra do monumental Umberto Eco. Espero que nossas visões múltiplas a respeito da sobrevivência do livro no seu formato tradicional tenham estimulado a garotada da era digital a refletir e a escrever sobre o tema proposto. Se alguma eventual contradição entre esses velhos pensadores provocou dúvidas nos vestibulandos, melhor: as dúvidas são mais importantes do que as certezas.
A vida, caros jovens, é um grande vestibular que se desdobra em várias provas, exatamente como o concurso que vocês acabaram de enfrentar em busca de um lugar na universidade. Recebemos ao nascer o dom do livre-arbítrio, que vem a ser a liberdade e a independência para tomarmos decisões sobre tudo. De quem recebemos? Da natureza? De um poder divino? Da nossa carga genética? Eis aí uma questão que cada indivíduo tem que decidir por si mesmo.
E assim ocorre durante nossa curta passagem pelo planeta. Ou pelo universo, pois os avanços da ciência e da tecnologia indicam que em breve os terráqueos terão de decidir se passam as férias em Marte ou Júpiter. Seja onde for, leve um bom livro para ler, pois as viagens são longas. A verdade é que decidimos o tempo todo, desde o que vamos comer (ou não comer) no café da manhã até a sempre difícil escolha da profissão que nos sustentará no futuro.
Entre tantos vestibulares, está o próprio vestibular. Já passei três vezes por isso, na própria UFRGS, uma reprovação e duas aprovações. Foi num tempo em que não existia a dúvida entre leitura impressa e digital, mas nem por isso era menos desafiador. Concluí os cursos de Jornalismo e de Educação Física antes de sair por aí escrevendo sobre minhas tantas incertezas e também sobre algumas parcas convicções.
Uma delas é a de que se sai melhor nos vestibulares da vida quem os enfrenta com sabedoria socrática (“Só sei que nada sei”, ainda que ninguém tenha certeza de que Sócrates realmente disse isso), com humildade e determinação para aprender. E com persistência: se não deu desta vez, sempre haverá uma próxima oportunidade.
Não sei quanto ao Marco Aurélio e ao Eco – que agora trato com intimidade porque, por obra dos organizadores da prova, ele se tornou nosso confrade involuntário –, mas eu me sinto como se tivesse sido aprovado pela terceira vez na UFRGS.
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