sábado, 23 de janeiro de 2016



23 de janeiro de 2016 | N° 18423 
NILSON SOUZA

NOSSOS GRINGOS

Essa não perco de jeito nenhum.


Nos primeiros dias de fevereiro, Radicci e Genoveva saltarão das tirinhas inspiradas de Iotti para o palco do Teatro do Sesc como protagonistas de um espetáculo dirigido pelo talentoso Dilmar Messias. Os dois célebres personagens da Gringolândia criada pelo cartunista de Zero Hora serão interpretados pelos atores Jonas Piccoli e Aline Zilli, que também são cassienses, como se diz em sotacón, a linguagem inventada pelo desenhista, além de muito divertidos.

Radicci é meu ídolo (e das torcidas do Flamengo – agora Cassias –, do Grêmio, do Inter e até do Zuventude, acho). É um gringo grosso, machista, preguiçoso e beberrão, mas autêntico e engraçado. Às vezes, é tão politicamente incorreto, que incomoda – especialmente a quem não se dá conta de que se trata de uma caricatura, e não de uma representação fiel do colono italiano que ajudou a construir o Rio Grande. 

Aqueles que chamamos carinhosamente de gringos, em sua maioria, são trabalhadores, empreendedores, honestos e educados. Mas todos, em algum momento de suas vidas, têm alguma coisa de Radicci. Não é por acaso que o nome do personagem, em italiano, significa “raízes”.

Amo a italianada, mas não tenho a legitimidade do Iotti para a autogozação. Sou de origem açoriana. No máximo, talvez pudesse contar alguma piada de português, o que também evito fazer para não ferir suscetibilidades. 

Mas tenho pelo menos dois fortes motivos para me identificar com o personagem de Iotti: minha mulher é de origem italiana – não chega a ser uma Genoveva, mas sabe impor a sua vontade –, e meu primeiro carro foi uma Rural Willys. Cada vez que vejo Radicci na direção da caminhonete de duas cores, me dá saudade do tempo em que os colegas da Fabico me ajudavam com a gasolina, para que pudéssemos dar umas voltas pela cidade.

O universo de Radicci/Iotti é rico em situações familiares que nos levam a muitas outras identificações, especialmente quando o casal de gringos discute a sua relação.

Nas tirinhas, tudo é engraçado. No teatro, deve ser mais divertido ainda. Minha dica para fevereiro, portanto, é essa. Assista e gargalhe. Mas cuidado: não é incomum que voem pratos e sapatos.

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