segunda-feira, 18 de janeiro de 2016



18 de janeiro de 2016 | N° 18418 
MARCELO CARNEIRO DA CUNHA

A JUSTIÇA MÍOPE

Vocês devem ter ouvido falar em Making a Murderer, o mais novo terremoto da incrível Netflix. Nos Estados Unidos, essa série documental conseguiu estragar as festas de mais gente do que a Simone cantando Então é Natal, dizem. E com razão. Making a Murderer é dinamite misturada com óleo de fígado de baleia, aquele que estragava a nossa infância, lembram? A série arruinou a minha semana, sinal de que é mais do que boa, ótima.

Basicamente, uma dupla de cineastas resolveu acompanhar o drama de Steven Avery, um habitante das áreas pobres da sociedade americana que passou 18 anos preso por um crime que não cometeu. Ao ser libertado, e quando começa a processar o estado de Wisconsin, pedindo milhões de indenização pelos anos perdidos, pimba. É acusado de assassinato, de um jeito mais do que esquisito e levado de volta à prisão.

O documentário é uma pancada no estômago que dura 10 episódios e nos deixa perplexos na maior parte do tempo, e chocados ao final. O próprio ritmo com que a história é contada, um avanço em forma de espiral, nos deixa ao mesmo tempo informados e confusos. Se o que estamos vendo é verdadeiro, o resultado é mais do que insano, absurdo. A sociedade americana, ou seu sistema de Justiça, pode operar a partir de uma visão de mundo que inclui penas cruéis e sentenças duríssimas, especialmente, ora vejam, se você for pobre e desengonçado como Steven.

A série chocou os americanos, e centenas de milhares deles assinaram uma petição para que Steven seja libertado, ou tenha novo julgamento. E se o que foi feito com ele parece injusto, o que acontece com o sobrinho de Steven, de apenas 16 anos, é brutal.

A Netflix superou o SBT em faturamento no Brasil, sabiam? E superou a si mesma nessa série que é, acima de tudo, um show de bola e uma demonstração definitiva do poder das séries no mundo de hoje.

Veja, sinta e tente dormir o sono dos justos depois de Making a Murderer. Eu não consegui.

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