05 de janeiro de 2016 | N° 18405
CARPINEJAR
Pato ou camarão: o enigma masculino do filtro solar
Homem confunde filtro solar com pomada. O que tem de pato, ganso, cisne na praia, com camadas e camadas mal espalhadas. Ou ele passa demais, ou passa de menos. Ou exagera, ou se omite. Não existe meio-termo (e nem menciono o spray, no qual as borrifadas são engolidas pelo vento). Ou exibe uma plumagem branca, ou aparece camarão-rosa, escandalosa carne viva em alguns trechos do corpo que exigem maior elasticidade, como as costas e atrás das axilas.
O mais cômico é o macho peludo, onde o creme fica eriçado na capa do peito, dê-lhe a cantar Roberto Carlos: debaixo dos caracóis dos seus cabelos.
Há uma incompetência inata masculina que deveria ser estudada. Metade do protetor permanece entre os dedos da rapaziada. Certo que o que não queima é a palma da mão.
O problema é a má vontade que vem da infância. Não conheço amigo que comemore o uso do protetor solar – faz obrigado, contrariado, de qualquer jeito, tateando a pele às pressas, longe do espelho. A mulher já considera o ato familiar e natural, está acostumada aos mais variados cremes de pequena: antes do banho, no banho, após o banho, desde as unhas até a raiz do penteado. Não há região de que ela não cuide com perseverança e afinco.
O modo desengonçado do varão começa na pouca intimidade que tem com a retirada do produto do pote, feito na base das cuspidas esporádicas, violentas e esforçadas. O creme é espirrado no chão, na cama, nas paredes e, inclusive, no teto.
A mulher, diferentemente, vira antes o pote fechado, dá umas palmadas na bunda e retira o volume que deseja com a maior tranquilidade do mundo. Diante da facilidade, a impressão é de que trapaceou e desenroscou a tampa do furo para pegar uma quantidade generosa.
As explicações no rótulo também terminam desprezadas pelos marmanjos, escolhem o número do filtro como se fosse jogo do bicho. Não se fixam em detalhes tais UVA e UVB, essenciais na prevenção de rugas e manchas solares.
Homem é genérico, mulher é farmácia de manipulação. Homem é remédio vencido, mulher é projeto de dermatologista.
Com uma resistência ancestral, o homem coloca uma vez protetor e pensa que está protegido por todo o veraneio. Não compreende que o protetor precisa ser renovado seguidamente, que sai com o mergulho no mar e na piscina, que dura duas horas em média. Botou de manhã e confia que estará valendo no dia inteiro. Não é que confie na infalibilidade dos laboratórios farmacêuticos, é preguiça mesmo, infantilidade irreversível.
O homem é uma criança grande, imediatista, na expectativa da reprimenda materna, que não quer perder o sol lá fora e, ao mesmo tempo, vive reclamando de que não consegue dormir com as queimaduras.
No juízo final, que as esposas perdoem a nossa chatice no verão.
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