quarta-feira, 20 de janeiro de 2016



20 de janeiro de 2016 | N° 18420 
MARTHA MEDEIROS

Por que falamos tanto?

Que aflitivo é falar. Através da fala, tentamos nos comunicar com aqueles que nos cercam, desde desconhecidos até pessoas que amamos. Com os estranhos é menos difícil, basta que a distância se mantenha. Os sentimentos não se infiltram no diálogo. Quanto custa? Xis. Este lugar está vago? Não. Onde fica a rua tal? Seguindo reto, terceira à direita.

Mas é só haver alguma intimidade, mínima ou máxima, para que as conversas se desenvolvam através de frases entrecortadas, de subentendidos e de resumos que nunca atingem a exatidão do que queremos dizer.

Pobres de nós. Nós, que somos povoados por fantasias, atrações, pavores, carências, entusiasmos, tudo tão, tão indizível. No entanto, é imperativo se comunicar, e lá vamos nós, impulsionados por expressões que vêm à mente sem nenhum rigor, sem nenhuma poesia, às vezes até sem nenhum sentido. São tantas as palavras à nossa disposição, tantas. E, ao mesmo tempo, tão poucas. Como não falhar diante das tentativas de oralidade?

Eu não quis dizer isso (mas ao mesmo tempo, quis). Não é isso que sinto (mas um pouco, é). Eu estava brincando (mas no fundo, não).

É angustiante estar à mercê de mal-entendidos e de tudo que tentamos expressar com alguma sensatez, mas que soa tão bobo diante da grandiosidade da nossa emoção. Quais são as palavras certas? Existem palavras certas? Como é que eu me traduzo? Como traduzo o humano em mim?

Não basta eu estar presente. É preciso que eu me manifeste, que eu opine, que eu responda às perguntas, mesmo as automáticas, principalmente elas. Eu não sei como verbalizar meus medos, não sei como dar voz à criança que ainda sou, não sei como reagir diante de uma ironia, não sei pedir para que os outros se calem para que eu me escute. Tudo tem um som: nossa tristeza, nossa excitação, nossa respiração, nossa dor. Mas insistimos em falar, em ser mais eloquentes do que o silêncio.

Viver é uma tarefa para gigantes, não para seres frágeis como nós.

Eu não estou escrevendo esta crônica sozinha. Toda essa divagação foi inspirada pela peça Os Realistas, que está em cartaz no Rio – se você passar por lá, programe-se. No palco, quatro atores espetaculares, que honram o teatro com T maiúsculo. Debora Bloch, Emilio de Mello, Mariana Lima e Fernando Eiras são os quatro protagonistas que interpretam nossa grandeza e nossa pequeneza, esse antagonismo que nos constitui e que nos exaspera. 

Como fazer para que o tanto que somos (tão dúbios, tão sensíveis, tão bem-intencionados, tão confusos) encontre correspondência no tanto que articulamos (tão verborrágicos, tão sedutores, tão ríspidos, tão enrolados)? Na maioria das vezes, estamos apenas falando por falar.

Não estará mais do que na hora de nos aquietar?

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