sexta-feira, 22 de janeiro de 2016




22 de janeiro de 2016 | N° 18422 
MOISÉS MENDES

Chico x Pedrosa

Chico Buarque não caiu na conversa de que seria um homem magnânimo, se perdoasse o sujeito que agrediu sua família pelo Facebook. João Pedrosa, dono de antiquário e jornalista, publicou em dezembro uma foto de Chico com as filhas Sílvia e Helena, quando as duas eram crianças, e escreveu: “Família de canalhas!!! Que orgulho de ser ladrão!!!”.

Pedrosa foi avisado de que seria processado, acovardou-se e pediu desculpas. O tipo mais calhorda de agressor é o que ataca e se programa para pedir desculpas. É o falso valente e falso arrependido. Hoje, é um tipo que predomina na direita raivosa.

O pedido de desculpas faz parte da estratégia para que desfrute de dois momentos consagradores – o da agressão, quando passa por valentão, e o do pedido de perdão, quando tenta capitalizar a imagem da grandeza.

O agressor arrependido deve sair contando vantagem entre os parceiros, como talvez pretendesse esse João Pedrosa.

Perdi tempo e li seu pedido de desculpas. Como antiquário, Pedrosa é um péssimo jornalista. O texto dirigido a Chico é mal enjambrado, quase colegial. Fica claro que ele não quer se arrepender de nada. Pretende, com o formalismo, livrar-se do processo.

Chico decidiu que não tem trégua e está certo. Nem com Pedrosa, nem com o fazendeiro Guilherme Gaion Junqueira Motta Luiz. Esse outro estava no grupo de rapazes que cercaram Chico na saída de um restaurante no Leblon. Depois do episódio, o fazendeiro foi para a internet e disse o quê? Que Chico é ladrão.

Revela-se nesses e em outros casos uma idiotia represada que decidiu saltar da internet para as ruas. Por que Chico seria ladrão? O antiquário e o fazendeiro são incapazes de formular outra acusação menos simplista.

Há uma certa frustração geral com o perfil dos interlocutores. Antes do golpe de 64, Chico poderia, quem sabe, enfrentar a ira do jornalista Carlos Lacerda, um reaça brilhante. Hoje, se vê numa briga de rua com o João Pedrosa. Caiu muito o padrão dos gladiadores no Brasil.

Fermenta na cabeça dessa gente a convicção de que o momento é propício à impunidade. A massificação dos ataques faz com que qualquer um se sinta no direito de convocar Chico para um duelo, se estiver passando por ele numa rua do Leblon. E assim prolifera a mediocridade opinativa.

É um fenômeno a ser estudado mais adiante. Daqui a pouco teremos milhares de imitadores do Bolsonaro e do Kim Kataguiri espalhados por toda parte. A velha direita não merece.

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