10 de janeiro de 2016 | N° 18410
MOISÉS MENDES
Os outros
José Maria Marin, o mafioso sorridente da CBF, desfrutava de poder e dinheiro desde o tempo da ditadura. Nunca foi incomodado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público nem pela Justiça. Talvez tenha sorrido impunemente por tanto tempo porque parecia ser apenas um ajudante de gângsteres.
Marin só foi levado a sério como mafioso e preso, em maio, na Suíça, porque o FBI pediu que a polícia de Zurique o enjaulasse. O antecessor dele, Ricardo Teixeira, era graúdo. Todo mundo sabe de suas atividades como herdeiro do sogro, João Havelange. Mas também andava solto e continuará solto em 2016, porque aqui não corre riscos.
Teixeira só não viaja muito. Teme acabar em prisão domiciliar (como aconteceu com Marin, em Nova York)? O sucessor de Marin na CBF, Marco Polo Del Nero, também não sai do Brasil. Aqui, ele não leva nem susto.
Todos esses e outros suspeitos similares de corrupção continuaram seguros no Brasil em 2015. Integram um time inabalável. Por quê? Pergunte ao promotor seu amigo, a um juiz ou a um jurista e terá respostas variadas.
O que permite que mafiosos com forte lastro político na direita atuem livremente no Brasil? Por que empreiteiros, banqueiros e outros delinquentes somente correm riscos se um dia se aproximarem de quadrilhas da esquerda no poder e, por desgraça, forem parar nas mãos do juiz Sergio Moro?
Há outras imunidades. Por que todos os grandes partidos já se encalacraram em investigações sobre corrupção, e o PSDB passa quase ao largo de investigações e punições, desde a época em que foi governo? Que religião sustenta a crença de que, apesar de provas, indícios e suspeitas, o partido seja o último reduto da moralidade?
No final de 2015, finalmente o ex-governador do PSDB Eduardo Azeredo foi condenado a 20 anos de prisão no processo do mensalão de Minas, que desviou o equivalente hoje a R$ 14 milhões de dinheiro público no final dos anos 90. Isso muda o quê?
Por que o tucano, denunciado em 2007, só foi julgado depois que o processo sesteou por anos no STF? O que o desfecho do caso na Justiça Comum significa (apesar dos recursos que manterão Azeredo solto)? Rompeu-se o biombo erguido em torno do PSDB?
Será que, como a Polícia Federal anunciou, a Operação Sangue Negro finalmente vai investigar o período do governo tucano na Petrobras? Também o caso Furnas, de suspeita de pagamento de propinas a tucanos, pode enfim ser esclarecido, e não escamoteado como vem ocorrendo há muito tempo?
E os R$ 10 milhões que teriam sido repassados pela empreiteira Queiroz Galvão ao senador Sérgio Guerra, em 2009, para que ele trancasse a formação da CPI da Petrobras na época? A CPI, de fato, não saiu.
Três (TRÊS) delatores já contaram a história dos R$ 10 milhões. Guerra era presidente do PSDB. Morreu em 2014. Qual o interesse de três delatores em manchar a imagem de um morto? Que história é essa?
Ficaremos sabendo quem recebeu propinas do cartel do metrô de São Paulo, em sucessivos governos do PSDB? Quem vai levar adiante a denúncia do delator Carlos Alexandre de Souza Rocha, mandalete do doleiro Alberto Youssef, de que o senador Aécio Neves recebia dinheiro vivo da empreiteira UTC?
Por que Ricardo Teixeira e seu amigo Del Nero encerraram 2015 como indiciados, mas pelo Ministério Público americano? Muitas perguntas de 2015 foram empurradas para 2016. Por tudo isso, tem algum fundamento a sensação, que continua a circular pelas ruas e pela internet, de que 2015 foi um ano de cerco incompleto da PF, do MP e da Justiça à corrupção.
E tudo isso – o incômodo, as perguntas sem resposta, as coisas estranhas – não está acontecendo na Venezuela.
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