segunda-feira, 25 de janeiro de 2016



25 de janeiro de 2016 | N° 18425 
MOISÉS MENDES

Argentinos e amigos


Neste verão, eu queria muito ser argentino. Mas não queria, de jeito nenhum, ser amigo do Lula. Queria ser argentino com dólares em casa. Como esses que invadem nossas praias de novo em seus carros voadores. São os dolarizados, que ficaram 40% mais ricos de um dia pro outro, no começo do governo de Mauricio Macri.

O presidente liberal assumiu, liberou o dólar, e o peso se derreteu. A alta do dólar aqui é fichinha perto do que aconteceu na Argentina.

Macri deixou os ricos mais ricos e os pobres mais miseráveis. A classe média com dólares vive a sensação de que também é rica. Argentino adora dólar. Por isso eu queria, só neste veraneio, ser um argentino dolarizado.

E agora explico por que não gostaria de ser amigo do Lula. Amigos do Lula não terão paz. Serão chamados, um a um, a depor na Polícia Federal. O próprio Lula, até o fim do ano, terá dado 93 depoimentos à PF.

Vão chamar os amigos do Lula, os parentes, os filhos, os vizinhos. Mas não chega nunca a hora em que, faltando amigos do Lula, chamarão também os inimigos do Lula. É ruim pensar que isso tudo pode virar a Operação Lava-Só-Alguns.

O melhor é ser amigo de um amigo do Aécio. Serve até ser amigo do Zé Agripino. Nunca uma amizade foi tão importante.

Já li cinco vezes a entrevista do procurador Roberson Pozzobon na Zero de domingo. Releio para me certificar de que meu espanto tem fundamento. A repórter Juliana Bublitz quis saber, com perguntas certeiras, se a Lava-Jato irá fundo no período de Fernando Henrique na Petrobras. As respostas cambaleantes do procurador conduzem a esta síntese: não tenham muita esperança no desvendamento da corrupção tucana.

São estas as explicações que ele dá. Roubaram há muito tempo no governo FH e muita coisa pode prescrever. O Ministério Público escolhe casos de maior valor e mais recentes. Hoje, a corrupção teria “uma dimensão maior”; e a corrupção tucana, com dimensão menor, fica pra depois. E mais esta frase de estragar um domingo e um verão inteiro: “Atuamos no que tem mais chance de ser esclarecido”.

Por esse critério, o que seria do jornalismo, da medicina, da polícia, do futebol e da nossa vida? E se você que me lê decidisse fazer apenas o que tem mais chance de dar certo? Imagine se Deus, no terceiro dia, desistisse e desse depois essa desculpa (não se sabe a quem). Apesar de que o MP, dizem, está cada vez mais parecido com Deus.

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