quarta-feira, 13 de janeiro de 2016



13 de janeiro de 2016 | N° 18413 
DAVID COIMBRA

Quem na verdade é Sartori

Sartori é uma esfinge. Nós, Édipos. Conseguiremos decifrá-lo? O que significa quando ele fala, fala, fala e nada diz? Tenho pensando nisso. Cheguei a três alternativas:

1. Significa que ele sabe o que tem de ser feito, mas não diz por compreender que, se disser, enfrentará oposição violenta e sabotagem ao seu governo.

Neste caso, Sartori seria uma espécie de malandro caboclo. Estaria se fazendo de vacilante, quando na verdade tem um plano, e só espera o momento certo de colocá-lo em prática. Ou seja: Sartori seria um jogador de xadrez, um calculista matreiro, à espreita para dar o xeque-mate e transformar a estrutura do Estado de vez.

2. Mas pode significar, também, que ele sabe o que tem de ser feito e não diz por sentir medo de fazer. Isto é: iriam assombrá-lo, exatamente, as tais oposição violenta e possível sabotagem ao seu governo. Assim, Sartori sabe que não fará, ou fará apenas o possível, apenas o que não gerará o confronto mais corrosivo. Nesta hipótese, ele continuaria sendo o malandro caboclo, só que sem coragem para ousar. As mudanças seriam tímidas e o Estado continuaria mais ou menos como está.

3. A última possibilidade é aterradora: Sartori NÃO SABE o que fazer. Ele estaria perplexo com a situação do Estado e imobilizado diante do perigo. O Estado não mudaria, e a tendência seria piorar.

Não acredito na alternativa número 3. Sartori sabe o que tem de ser feito e sabe que, pelo menos a princípio, não se tornará mais popular se o fizer. Terá coragem suficiente para encarar essa impopularidade? Esse é o verdadeiro enigma da esfinge.

Sartori, portanto, pode vir a acertar, e muito – só que no futuro. No presente, sei onde está errando, e muito – na segurança pública. Este erro pode empanar qualquer acerto de sua administração a médio e longo prazos.

A segurança pública é emergencial. É agora. Na segurança pública, Sartori tinha de ser arrojado como provavelmente não sabe ser um malandro caboclo. Se conseguisse, de alguma forma, valorizar as polícias e fazer com que sua presença seja sentida nas ruas, se conseguisse apenas isso, que é uma parte do tanto de que se precisa nesse setor, se conseguisse isso, Sartori reuniria condições de fazer o mais difícil, de colocar o seu presuntivo plano em prática e enfrentar o combate que virá.

Porque, sim, o combate virá.

Se Sartori for o jogador frio que espero que seja, ele não terá dias fáceis. Não há como dar para um lado sem tirar de outro. Para que o Estado possa fornecer o mínimo necessário para todos, alguns terão de perder o máximo de vantagens que têm.

Se essa esfinge for corajosa, ela haverá de devorar muita gente nos próximos anos. Se não for, o precipício está logo ali.

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