sábado, 2 de janeiro de 2016



03 de janeiro de 2016 | N° 18403 
MOISÉS MENDES

O fim do Brasil


A revista britânica The Economist pintou um quadro terrível para o Brasil em 2016. É uma análise profunda que remete, pelo conjunto de desgraças, para o fim sem volta. A imprensa brasileira repercutiu a informação nos últimos dias do ano.

A Economist é a revista do pensamento liberal, que só funciona na sua forma genuína como pensamento, com todas as suas variações. Funciona como aqueles videntes de turbante que jogam búzios no fim do ano: a maioria presta atenção no que eles dizem em entrevistas na TV, ouve respeitosamente, mas se pergunta: qual é o fundamento?

Os búzios da Economist afirmaram em 2008 que o Brasil escaparia da crise mundial dando cambalhotas. Mas, antes, não previram nada da crise de 2008, assim como ninguém da mesma turma previu que a economia quebraria junto com a quebra do banco Lehman Brothers.

O que uma previsão sobre o fim do Brasil significa? Que as forças internas destruidoras da política, que paralisaram o país, ganham o reforço das visões de fora. Internamente, que se fragilize o governo para que, pela consequente desorganização da economia, destruam-se demandas, expectativas e sonhos. Externamente, que se procure atender às necessidades mais imediatas dos “investidores”. É a visão financista do mundo, de um sistema que funciona apenas para si mesmo.

Enquanto isso, ações disruptivas (essa é a palavra agora) trituram modelos. Dos serviços de táxis à música, à saúde, às comunicações, à TV, ao cinema. Tudo, inclusive o jornalismo, é assombrado por inovações. O Uber, a Netflix, o Skype, o Facebook e o WhatsApp pulverizam, recriam e atingem todas as áreas. Menos o sistema financeiro.

Bancos, especuladores, derivativos, bolsas sem conexão com a economia real e os que falam por eles – tudo se mantém como está. Repete-se, em nome da manutenção do esquema, o que os escravistas diziam, no século 19, inclusive em Londres, sobre o possível fim de seus negócios: o mundo acabaria sem escravidão.

O mundo visto pela Economist nos convence de que não poderemos viver sem o sistema financeiro do jeito que existe. Os automóveis já andam sem motorista, daqui a pouco todos teremos um chip na cabeça, mas o modelo de transferência de renda para o sistema é intocável.

O tal sistema aperfeiçoou a capacidade de convencer os próprios usurpados de que assim avança o capitalismo e que a normalidade mundial depende das suas virtudes. Os submetidos ao garrote dos bancos avalizam a própria miséria e se deliciam com a economia liberal das revistas.

Otimistas com a ruptura chegam a antever que teremos, em breve, a destruição disso tudo. Estaríamos próximos da economia colaborativa, que só se viabilizaria sem a intermediação medieval que os bancos ainda exercem, sendo privados ou estatais.

Aguardemos, porque capitalistas mesmo, no sentido de que correm riscos, submetem-se a mercados, disputam consumidores (e enfrentam os bancos), são os donos de padarias, lavouras, mercadinhos, ferragens, restaurantes.

Todos somos reféns dos bancos. Se quebrarem, todos quebram junto, como aconteceu em 2008. Espera- se que um dia, quem sabe, os acionadores de processos, produtos e mentes disruptivas os desafiem. Mas os profetas londrinos estariam preocupados? Os búzios dizem que não.

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