sábado, 2 de janeiro de 2016



03 de janeiro de 2016 | N° 18403 
CARPINEJAR

Corno manso, mansinho

Contar ou não contar que o seu xará de trago e ressaca está sendo traído? eis o maior dilema da amizade. Antecipar o pior ou deixar o pior acontecer? Melhor ser um corno pontual ou um corno retardatário? Há diferença em desvendar a infidelidade antes ou depois? A antecipação diminui o estrago? O colega que não fala que viu a traição estará quebrando o voto de lealdade?

Quantas dúvidas numa só questão.

Meu amigo telefonou desesperado:

– Você está com a sua mulher aí ao seu lado?

– Não, ela está viajando. Por quê?

– Pois é, difícil a situação, não sei se deveria contar. Mas não posso lhe ver sofrer e ser enganado. Pensei duas vezes antes de ligar...

– O que foi?

– Acabei de passar pela calçada da fama em Gramado... Ah, deixa pra lá!

– Desembucha, meu!

– Vi a tua esposa abraçada a um cara, andando abraçada a um cara, em plena luz do sol, nem aí para a multidão! Muito descaramento. Desculpa, meu velho, não queria ser o portador desta notícia.

– Não precisa se desculpar. – Uma vaca, cara, não merece isto!

– Calma, calma, como era ele? – Sua altura, barba cerrada, cerca de 50 anos, cabelos pretos...

– Ele está de jaqueta de couro, jeans e bota? – Sim.

– Previsível. A minha mulher se amarra no estilo selvagem da motocicleta.

– Bah, que m.! Não fala assim que choro.

– Ele não vive rindo? – Sim, parece muito feliz.

– Ele não está com ray-ban? – Como que descobriu?

– Cara, imagino quem seja... – Você já estava desconfiado?

– Faço terapia, tem coisas que não tem como suportar sozinho.

– Você aceita que ela saia com um outro?

– Meu irmão, o que posso fazer? Impossível competir com ele. É batalha perdida. Ele é o homem da vida dela, serei sempre o segundo.

– Como assim, velho? Enlouqueceu? Agora deu para ser corno manso?

– Nada a ver, é que conheço as minhas limitações!

– Não vai fazer nada? Nenhum barraco, não mandará a vadia embora?

– Ela não é vadia, é a mulher que amo.

– Recebe um par de chifres e ainda defende a traidora? Não estou lhe reconhecendo, velho, precisa ser internado. Pirou na batatinha.

– Estou conformado. Há coisas que não há como mudar na vida.

– Não acredito que tem sangue de barata.

– Faz um favor, então, para mim? – Faço!

– Volta lá, cumprimenta a minha mulher e dá um recado para ela.

– Pode deixar comigo! Ela vai ver com quem se meteu... O que falo?

– Diz para ela aproveitar o passeio com o seu pai e avisa que venho morrendo de saudade.

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