22 de janeiro de 2016 | N° 18422
DAVID COIMBRA
O ataque do urso
Acena do ataque do urso no filme O Regresso, estrelado por Leonardo DiCaprio, vai entrar para a história do cinema mundial. Já entrou.
Não se preocupe, não é spoil, posso falar da cena sem estragar o filme, porque ela é definidora da ação. É como dizer que o tubarão em, bem... Tubarão, comia gente.
O personagem interpretado por DiCaprio existiu. Foi um caçador, aventureiro e comerciante de peles de animais chamado Hugh Glass. É relativamente conhecido nos Estados Unidos. Há livros escritos sobre ele e sobre sua quase inacreditável saga de sobrevivência. Mas nisso não me alongo, ou serei mesmo um maldito spoiler.
O que posso dizer, e digo, é que Glass, na vida real e na ficção, foi atacado por um urso pardo de mais de dois metros de altura, no meio de uma floresta gelada do Missouri.
Antes de o filme ser lançado, circulou nos Estados Unidos o boato de que o personagem teria sido estuprado pelo urso. Duas vezes, inclusive. Adianto, para seu alívio (ou decepção, sei lá), que tal não acontece. Mas me deixa intrigado. Por que essa história foi inventada? Poderá mesmo um urso violentar sexualmente um ser humano ao atacá-lo? Neste caso, puxa vida, que coisa desagradável. Não basta o cara ser arranhado, mordido, dilacerado e quebrado, o urso tem que ir lá e abusar da gente? Além disso, o urso é um animal de grande porte. É todo... avantajado, se é que você me entende.
Não é justo. Em todo caso, mantenha-se longe dos ursos.
Esse é um conselho que precisa ser levado em consideração, se você mora nos Estados Unidos. Tem bastante urso por aqui, e ninguém há de ter certeza acerca de suas intenções. Não em Nova York ou em Los Angeles, claro, mas, não muito tempo atrás, fui passar uns dias nas White Mountains, no vizinho estado de New Hampshire, e a dona da pousada onde iria ficar alertou:
– Não deixem comida nos carros. Se deixarem, os ursos virão.
Os ursos virão. Putz.
Mas o que interessa, agora, é a asfixiante cena do ataque do urso em O Regresso. Quando emprego o termo “asfixiante”, não exagero. Você fica mais de cinco minutos quase sem conseguir respirar, tais a tensão e a angústia provocadas pelo que se passa na tela.
Glass/DiCaprio está sozinho na floresta, com um rifle na mão. De repente, começa a ouvir ruídos estranhos. Rugidos de fera. Ele olha para os lados, olha para trás, olha no entorno, e nada vê, além das árvores. Então...
Veja o filme.
E, se puder, leia um pouco a respeito desse Hugh Glass. Ele foi um homem melhor e mais sábio do que o personagem retratado no século 21. Passou por todas aquelas dificuldades extremas, passou por todas as provações, mas as enfrentou com uma grandeza suave que nem Hollywood, com todo o seu engenho, conseguiu reproduzir.
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