segunda-feira, 11 de janeiro de 2016


11 de janeiro de 2016 | N° 18411 
MOISÉS MENDES

O neto e o avião


O avião é apenas o pretexto nos ataques furiosos à presidente que veio ver o neto recém-nascido em Porto Alegre. Disseram nas redes sociais que Dilma não poderia ter usado o avião presidencial para vir conhecer Guilherme. Deveria ter usado avião de carreira. Mas o motivo da agressividade deve ser outro.

Avião é uma obsessão tucana. Só eles podem voar em aviões oficiais à vontade. A Folha de S. Paulo descobriu no ano passado que o então governador Aécio Neves usou avião do governo para viajar 124 vezes ao Rio de 2003 a 2010. É um exagero. E Aécio não tem netos no Rio.

Aécio viajou dezenas de vezes para Angra dos Reis e Florianópolis. Em Florianópolis, morava a namorada, com quem viria a se casar. Não se sabe por que viajava a Angra.

Outro exemplo recente de voos tucanos. Dona Lu Alckmin, mulher do governador paulista, usou avião ou helicóptero do governo por 132 vezes entre 2011 e 2015 como passageira principal (dona Lu é presidente do Fundo Social de Solidariedade do Estado). É quase o dobro de todas as viagens somadas de todos os secretários de Alckmin, que viajaram 76 vezes no período.

Tucanos têm, talvez por causa do mascote do partido, grande fissura por voos. Aécio, para voltar ao que voa mais, viaja também a Cláudio, cidade mineira onde a família tem fazenda e onde ele, como governador, construiu por perto um aeroporto.

Apenas aviões com a família descem no aeroporto, construído numa área que havia sido dos Neves. O aeroporto tinha porteira com cadeado controlado por um tio de Aécio. O mais simbólico de tudo é o cadeado. Nas últimas eleições, Aécio perdeu em Minas, mas venceu em Cláudio. De cada 10 votos válidos para presidente em Cláudio, oito foram para Aécio.

Se tucanos estão sempre voando, por que Dilma não pode voar de vez em quando? Por isso é de desconfiar que o ataque focado no avião presidencial é só uma desculpa de gente propensa a fazer agressões sistemáticas.

Talvez, como diria aquele freudiano, enfrentem questões não resolvidas. Podem ter sido ou são netos ou avós desnaturados. Se Aécio ia até duas vezes por mês ao Rio para visitar não se sabe quem, por que a presidente da República não teria o direito de vir conhecer Guilherme?

Não falta mais nada, ou talvez falte. Só falta aparecer algum jurista pedindo o impeachment de Dilma porque seria crime viajar em avião presidencial para trocar as fraldas do neto recém-nascido.

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