22 de janeiro de 2016 | N° 18422
MARCOS PIANGERS
Uma pequena tragédia
Acho que todo divórcio é uma pequena tragédia. Vai ser melhor pros dois. Estávamos brigando demais. Não dava mais pra aguentar. Encontrei outra pessoa. Existem sempre motivos. Mas isso não me impede de achar uma pena. Toda separação é uma tristeza. Uma lástima não ter dado certo.
Eu acho sempre que eles ainda se amam. Tenho certeza de que amaria minha mulher para sempre. Procuraria em outras o jeito dela. Tentaria repetir com outras as nossas histórias. As nossas viagens. As vezes em que eu comprava rosas às segundas-feiras. As vezes em que ela me ensinou a comer sushi. Acredito que eu amaria pra sempre o que vivemos juntos.
Não consigo me imaginar morando longe das minhas filhas. A procura por apartamentos, todos caros e pequenos. Uma vergonha ao explicar que estou indo morar em outro lugar. A primeira vez chegando em casa do trabalho, a falta do barulho que elas faziam. A primeira noite longe delas. O primeiro fim de semana sem ninguém. Deve dar um arrependimento.
Acredito que toda separação é uma pequena tragédia porque acho que pessoas podem mudar. Acho que homens podem descobrir o prazer de abandonar tudo pela família. Trabalhar menos, sair menos pra beber, ser mais carinhoso, respeitar mais a mulher. Acho que mulheres são ainda mais capazes de tentar arrumar as coisas. Sou a favor de chances. De ultimatos. De não aguento mais. De ou você muda, ou a gente se separa. De me desculpa. De quero voltar. De não sei viver sem você. De vou mudar. De você mudou mesmo. De eu te amo.
A gente se separa porque quer estar sempre em outro lugar. E nos outros lugares fica procurando outras coisas. E outras pessoas nas pessoas que estão conosco. Acho que todo divórcio é uma pequena tragédia. E toda paixão duradoura é um pequeno milagre.
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