quarta-feira, 20 de janeiro de 2016


20 de janeiro de 2016 | N° 18420 
MOISÉS MENDES

O pacto


Tenho um pacto com o jornalista Regis Nestrovski. Regis foi colega e amigo de Paulo Francis em Nova York. Assumi com ele que farei a minha parte para que a guerra à corrupção seja também uma homenagem à memória de Francis.

Falo disso porque faz agora um mês que a PF anunciou a Operação Sangue Negro, com a promessa de desvendar os mistérios da Petrobras nos anos 1990. Meu compromisso é este: de vez em quando, perguntar aqui, em voz alta, como anda a investigação, para que a promessa da PF não seja largada num canto.

O anúncio da Operação Sangue Negro tem, vergonhosamente, quase 20 anos de atraso. A PF deveria estar investigando a Petrobras desde o ano de 1997 da Era Tucana, quando Francis alertou sobre os roubos. O delator Pedro Barusco já confessou: exatamente em 1997, ele começou a roubalheira na Petrobras.

Defendi aqui neste espaço que a ação retardatária da PF deveria se chamar Operação Paulo Francis. Regis leu e me mandou um e-mail em que fala de seu tempo de Globo em Nova York e da convivência com ele. E relata o último telefonema, poucos dias antes da morte do colega, que andava amargurado e deprimido.

A direção da Petrobras decidira processá-lo, e o jornalista teve um infarto meses depois. A denúncia de Francis foi desprezada por seus próprios colegas de reportagem investigativa. Francis foi vítima da indiferença de muitos que achavam (achavam mesmo?) que, naquela época, tudo era normal. Nada era normal.

Regis relembra no e-mail a última imagem que tem de Francis: “Ele estava deitado no caixão de uma funerária na 2ª Avenida. Levei cravos vermelhos e os dei a sua mulher, que os espalhou pelo corpo de nosso amado amigo e colega. Por isso, nomear (a ação da PF) de Operação Paulo Francis seria uma doce vingança que ele gostaria e muito. Excelente ideia. Faça a sugestão ao japonês”.

A questão é: até onde irão os colegas do japonês nessa investigação, se até agora nada de novo se acrescentou ao caso?

Só se sabe da delação de Nestor Cerveró sobre a compra da petroleira argentina Pérez Companc pela Petrobras em 2002. Disse Cerveró que o negócio rendeu comissão de US$ 100 milhões a propineiros do governo FH. Mas ele falou ao Ministério Público, e não à PF.

E agora? Como Cerveró não teria apresentado provas, nada se investiga? Fica por isso mesmo, assim como ficou a denúncia de Francis em 1997? Desqualifica-se a informação de Cerveró?

Em pouco tempo, saberemos se a Operação Sangue Negro tem força para ir adiante, ou se em algum momento precisará de transfusão.

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