Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2016
06 de janeiro de 2016 | N° 18406
PAULO GERMANO
A verdade sobre o amarelo
Toda vez que alguém aparece de amarelo, toca o telefone na RBS TV. Atende um jornalista.
– Pois não? – Hoje foi no Globo Esporte, aquela apresentadora. Já disse que não pode. – Perdão, senhor, não pode o quê?
– Já falei mil vezes, já liguei para aí mil vezes: eu sou o dono do amarelo! O amarelo é meu, e ninguém me pediu autorização para usar o amarelo!
– Como assim, senhor? – Como assim o quê? Escute aqui: eu inventei o amarelo, sou o dono do amarelo, e nenhuma pessoa tem o direito de usar o amarelo sem minha permissão!
– Mas, senhor, o figurino é definido conforme as cores do cenário e da...
– NÃO ME INTERESSA!!! Você gostaria que pegassem uma coisa sua e enfiassem na TV sem consultá-lo? – Não, mas...
– Gostaria que pegassem uma porcaria de uma câmera, fossem a sua casa e filmassem suas gavetas, seus armários, seus pertences e botassem tudo no ar, ganhando dinheiro com o que é seu, ganhando audiência com o que é seu, sem nunca informar às pessoas que aquilo de fato é seu? Você gostaria disso? Responda, gostaria disso?
– Não, senhor, claro que não. – Então avise esses picaretas, avise essa moça do Globo Esporte, avise todos que o amarelo é meu! É meu, entendeu? O amarelo é meu!
– Só um pouquinho, pera lá. O amarelo é mais do que isso, é como um patrimônio da humanidade.
– Eu sei, obrigado, mas é revoltante atravessar tantos anos sem esse reconhecimento. Por isso, vou processá-los.
– Mas, meu amigo, então o senhor deveria processar o Van Gogh. Ele usava muito o amarelo.
– Só que o Van Gogh sempre me agradeceu.
– Quê? – Jamais escondeu de ninguém quem era o dono do amarelo. Tanto que, quando assinei o Contrato de Cessão de Direitos sobre o Amarelo, ele fez questão de pendurá-lo na parede do ateliê.
– Alô? – Vou levar sua reclamação à instância responsável, senhor.
– Não é uma reclamação, é uma exigência. Uma exigência do dono do amarelo!
Tudo isso é real: articulado e ligeiro no raciocínio, esse homem acredita mesmo ser o proprietário da cor dos girassóis e da camisa da Seleção. Ele sofre por isso, vive para isso – e não há quem possa demovê-lo de sua certeza. É como os donos da verdade.
São tão iludidos e intransigentes como o dono do amarelo. Nunca houve tantos por aí, vociferando dogmas imutáveis, elegendo esquerda ou direita como remédios únicos, rugindo contra qualquer divergência, convictos de que uma só verdade dá conta do mundo.
Seria lindo se todos convivessem com o vermelho e com o azul. Porque nem só de amarelo é feita a vida. E porque a verdade – como o amarelo – não é propriedade de ninguém.
* O colunista David Coimbra está em férias.
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