15 de janeiro de 2016 | N° 18415
DAVID COIMBRA
O trunfo do PT
O PT acabou, os regimes populistas de esquerda da América Latina estão se esfarelando. Não surpreende. O populismo pode durar, mas não perdurar, porque simplesmente não funciona.
Mas por que se repete? Por que viceja há tanto tempo, na América Católica?
É o que é necessário entender.
A resposta correta talvez nos leve adiante. Pense no nosso caso. No caso do Brasil. Desde Getúlio Vargas, quase todos os governantes foram populistas. Getúlio era; Dutra, não. Dutra era um anódino, um peão, estava para Getúlio como Dilma está para Lula. Depois, os três jotas, Juscelino, Jânio e Jango, todos eram populistas, à esquerda e à direita. Médici, o astro do governo militar, foi populista de extrema-direita.
Castelo era tão populista, que o comparavam a Getúlio. Na redemocratização, elegemos Collor, um novo Jânio. Itamar e Fernando Henrique não eram populistas, eram aspirantes a algo parecido com a moderna social-democracia europeia. Lula é populista ortodoxo, tanto que também gosta de se comparar a Getúlio. Dilma? Já disse: Dilma é Dutra.
Então, repito a pergunta: por que, volta e meia, nos socorremos dos populistas?
Resposta: porque demandas fundamentais da população continuam sem atendimento. O populista, aparentemente, oferece isso. Ele oferece caridade a quem é carente.
O fato é que, ao Estado, não adianta garantir apenas a liberdade ao indivíduo e a estabilidade ao mercado. Um homem não dá nenhum valor à liberdade se seu filho passa fome. E, se é verdade que a igualdade material é superestimada, também é verdade que um país só será justo se assegurar igualdade de oportunidades.
Aí está algo que é preciso ser compreendido. O petismo no Brasil e o peronismo na Argentina deram um mínimo a quem nada tinha. É um alívio para milhões, ainda que não seja, nem jamais será, a solução para o país. Essa é a lição que ensinam esses anos de populismo – o desenvolvimento econômico, por si, não resolve todas as pendências.
Lembro de uma frase famosa de Delfim Netto nos anos 1970, quando ele era o superministro:
– É preciso fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo.
Isso nunca deu certo. O bolo crescia e seus donos sempre ficavam com tudo para eles. Como fazer o bolo crescer, isto é, desenvolver o país através do mercado, e, ao mesmo tempo, assegurar que todos tenham pelo menos uma fatia pequena com que sobreviver?
É aí que entra o Estado.
É certo que o Estado tem de fazer caridade apenas em último caso, quando todos os recursos da sociedade civil já tiverem sido utilizados. Mas também é certo que o Estado tem algumas obrigações incontornáveis. Em primeiro lugar, tem de fornecer segurança para todos. Em segundo, proteção (não benevolência) a quem precisa. Principalmente às crianças. Se todas as crianças do Brasil tiverem educação de qualidade, boa alimentação e atendimento de saúde até os 16 anos, bem, no resto dá-se um jeito.
É o básico que se espera de uma nação justa.
Para um povo livrar-se de vez do populismo, tem de não precisar do populismo.
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