sábado, 5 de setembro de 2015


05 de setembro de 2015 N° 18285 
DAVID COIMBRA

Uma trégua para o Rio Grande


Os japoneses, quando estão diante de um problema, não procuram culpados: procuram soluções.

O que não quer dizer que não identifiquem e punam responsáveis por ilícitos. Identificam e punem, sim, embora as taxas de violência por lá sejam irrisórias: menos de mil pessoas são assassinadas por ano, contra quase 57 mil no Brasil.

O que importa é que eles são práticos, e isso os faz pensar no futuro, ainda que não se esqueçam do passado, como diria o Paulinho da Viola. Japoneses não cevam problemas; resolvem-nos.

No caso do Rio Grande do Sul, pouco adianta remanchar na lama dos erros já cometidos. Decerto que cada governador teve sua parcela maior ou menor de responsabilidade pela péssima situação do Estado, mas esse é um debate que só leva a ressentimentos. Existe um adjetivo para definir o homem que se justifica pelo erro alheio: mesquinho. A prática política no Brasil, e em especial no Rio Grande do Sul, tornou-se mesquinha.

O governador Sartori tem esse entendimento. Na quinta-feira, ele me enviou alentada correspondência respondendo à coluna que publiquei naquele dia, em que critiquei sua estratégia. Em cima desse texto, publicado ontem integralmente por Zero Hora, ponderei: como um analista frio e funcional como um oriental encararia essa questão? Que perguntas ele faria?

Creio que, basicamente, duas.

A primeira: qual é o problema?

A segunda: qual é a solução?

A resposta para a primeira é simples: o Rio Grande do Sul gasta mais do que arrecada.

A resposta para a segunda é que é complicada.

Quais seriam as opções? O que tenho lido e ouvido é o seguinte:

1. Uso dos depósitos judiciais. É uma medida paliativa. Serve para pagar um ou dois meses da folha salarial e, como Sartori ressaltou em sua carta, trata-se de um empréstimo a juros altos.

2. Elevação do ICMS. É a medida proposta pelo governador, pelo menos como solução parcial. Mas empresários e trabalhadores não gostam da ideia. Impostos mais altos tornam os preços mais altos, e o consumo, mais baixo.

3. Demissão de funcionários e venda de patrimônio. Quase todas as empresas privadas adotam essa saída em momentos de crise, mas isso não é tão fácil no caso do Estado. Em primeiro lugar, porque os funcionários têm estabilidade garantida. Em segundo, porque existe forte resistência ideológica. E, em terceiro, porque qualquer movimentação no patrimônio público exige aprovação da Assembleia ou até plebiscito.

4. Novos empréstimos. Estão descartados, a princípio, até porque só aumentariam a dívida.

5. Disputa judicial com a União. É briga perdida, já que todo o poder está com a União. A União, se quiser, pode estrangular financeiramente o Estado, e já demonstrou que não hesitaria em fazê-lo, se precisasse.

E agora, José Ivo? Qual a saída? Talvez seja a soma de um pouco de cada uma dessas medidas, talvez haja alguma outra saída que ainda não tenha sido sugerida, não sei. Mas sei que, neste momento, o Estado paralisado, o ônibus incendiado e o grito de insulto só servem aos que querem ganhar com o caos, aos mesquinhos que se justificam no erro alheio, à oposição destrutiva. 

Com a população em pânico e os servidores revoltados, o governador terá de usar sua liderança a fim de pedir um pouco de paz, uma trégua, porque viver como o Rio Grande está vivendo, em meio ao rancor e à busca inútil de culpados, não levará à solução. Levará, apenas, à dor. Cada vez mais dor.

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