sábado, 26 de setembro de 2015



26 de setembro de 2015 | N° 18306 
NILSON SOUZA


Vargas Llosa sempre me impressiona. Desde que li Tia Júlia e o Escrevinhador, sou fã do escritor peruano por seus textos criativos, elegantes e lúcidos. Mais do que romancista e ensaísta, ele é um pensador. Independentemente de suas posições políticas – ele é um liberal assumido –, seus artigos e seus ensaios convencem porque têm profundidade, são elaborados com argumentos palpáveis e visíveis. 

Outro dia, li A Civilização do Espetáculo e tive que revisar conceitos até mesmo relacionados ao meu ofício. Agora acabo de ler, em artigo publicado pelo El País, sua análise sobre as migrações que assombram a Europa e comovem o mundo.

Defensor das fronteiras abertas, ele reconhece que mesmo países ricos como a Alemanha não terão infraestrutura e emprego para todos os que fogem da miséria e da violência em suas regiões de origem. E lembra que apenas receber os refugiados não afeta a causa do problema, representada por regimes ditatoriais e corruptos que, guiados pelo fanatismo político e religioso, submetem milhões de seres humanos ao terrorismo e à fome. Aquelas pessoas que se amontoam em precárias embarcações no mar agitado e formam procissões imensas de desesperados por terras desconhecidas estão tentando apenas salvar suas vidas e as de seus familiares.

Elas não fogem da miséria gerada por catástrofes naturais ou falta de oportunidade. Fogem de países empobrecidos por elites exploradoras, que se impõem pela brutalidade e pelas armas para chegar ou se manter no poder.

É contundente a conclusão do peruano: “Essas massas que afluem à Europa, denotando um heroísmo extraordinário, prestam, na maioria dos casos sem saber, uma grande homenagem à cultura da liberdade, dos direitos humanos e da coexistência na diversidade, que tem trazido desenvolvimento e prosperidade ao Ocidente”.

A gente lê isso e olha em volta, com certo constrangimento. Temos os nossos problemas, é verdade. Estamos enfrentando uma crise econômica preocupante, nossos representantes políticos parecem perdidos, a violência urbana é uma ameaça constante e a corrupção parece não ter fim. Mas não temos motivos para fugir. Ainda dispomos de suficiente liberdade para encarar os desafios, para consertar o que está errado e para transformar este país num lugar digno onde se viver.

Nenhum comentário: