sábado, 26 de setembro de 2015



26 de setembro de 2015 | N° 18306
ARTIGOS -  LEANDRO DE LEMOS*

CHEGAMOS AO FIM?

A conjuntura econômica brasileira apresenta o mais intenso e complexo somatório de negativos desempenhos das últimas décadas. A pergunta que nós, economistas, mais recebemos é: quando será o fim deste processo de crise e quando se inicia a retomada do crescimento? 

Já passamos por outras crises nos últimos 50 anos. Mas a complexidade da atual é mais profunda. Somando-se o fato de que a sociedade brasileira ainda não conhece seu real tamanho e o caminho para sair dela.

Nos anos 1980, por exemplo, tínhamos um processo de superinflação crônica com baixo crescimento. A solução advinda lá no Plano Real foi gestada e debatida durante muitos anos e experimentada – dentro dos mesmos preceitos econômicos – em planos anteriores, como o Cruzado, o Bresser, o Verão e outros, até acertarmos. 

No entanto, mesmo depois do Real, não resolvemos o problema do baixo crescimento do PIB e os problemas estruturais foram encobertos com mais gasto público desde 1994 até agora. O enfraquecimento do debate sobre o desenvolvimento econômico brasileiro deveu-se a um falso dilema – neoliberalismo versus estatismo – que centralizou o palco das atenções de eleitores cada vez mais ávidos por gastos públicos. 

De tal forma que, hoje, todas as classes sociais dependem de “bolsas”, seja para sustentar a competitividade empresarial ou sobrevivência social. Segundo o respeitado economista Raul Veloso, 120 milhões de brasileiros dependem de benefícios diretos do Estado. Exatamente aí reside a principal necessidade de mudança na qual esses teriam que perder renda e benesses para voltarmos ao equilíbrio. Esse modelo, em crise, é que chegou ao seu fim.

Sua origem está na intensidade frágil do debate e na ausência de construção de propostas. São muitas as reformas a serem aprovadas por um corpo político que se empobreceu em termos de visão e se exilou na armadilha da irracionalidade econômica. Nela, reina a crença de que devemos recuperar a capacidade de gastos públicos para continuar a gastar mais. O fim, portanto, depende de a sociedade superar a negação da morte de um período e passar a construir os caminhos de um novo estágio de desenvolvimento sustentado.

Economista, professor da PUCRS*

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