14 de setembro de 2015 | N° 18294
MARCELO CARNEIRO DA CUNHA
O DESAFIO DE NARRAR A AMÉRICA LATINA
A Colômbia é um dos lugares mais fascinantes e complicados de todos, e é lá que se passa a série Narcos, produzida pelo nosso José Padilha. Ponto para Padilha, que converteu o sucesso de Tropa de Elite em uma carreira forte lá fora e emplacou esse projeto com a poderosa Netflix, agora em expansão pelo mundo.
Narcos navega essa pobre beleza sul-americana, mostrando como ela se converte no mundo ultraviolento e desregrado do narcotráfico, quando ele ameaça engolir as frágeis repúblicas do continente. Narcos faz isso mostrando a trajetória do primeiro imperador narcotraficante, Pablo Escobar, e da combinação de fatores que o tornaram uma ameaça a praticamente tudo o que existe por aqui.
Por ser uma produção americana, o narrador é um good cop que combate o mal. Por ser uma produção voltada também para o mercado latino, atores colombianos, mexicanos e ao menos um brasileiro juntam seus sotaques em uma certa cacofonia para os ouvidos dos hispano-hablantes. Wagner Moura solta mais um de seus ótimos desempenhos, a série é bem filmada e funciona. É, de longe, a melhor série produzida/dirigida por um brasileiro.
Eu encrenco com a narração toda, o voice-over que doa a Tropa de Elite e explica demais. Acho a narrativa um tanto linear, meio documental demais por vezes. Mas, e isso importa, funciona. A série se faz ver e nos traz surpresas, com a participação do sanguinolento Pinochet no começo dessa história toda.
Narcos mostra o que pode acontecer quando começarem a fazer séries igualmente boas no Brasil, sobre o Brasil. Histórias não faltam, e se não somos aquela Colômbia, somos muitas coisas, algumas delas parecidas demais. Que venha a primeira série como essa, com maior teor de conteúdo nacional. Eu, pelo menos, já estou sentado e esperando pra ver.
A todos, uma dica: vejam.
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