quarta-feira, 16 de setembro de 2015



16 de setembro de 2015 | N° 18296 
MOISÉS MENDES

Ex-valentes


O Brasil tem dois valentes a menos e dois covardes a mais. O empresário Marcelo Maktas Melsohn e o engenheiro José João Armada Locoselli foram dois leões da noite de 28 de junho até a manhã de 11 de setembro. Na tarde de 11 de setembro, saíram do foro de São Paulo como dois poodles.

Os ex-valentões ficaram célebres no Brasil pelos insultos ao ex-ministro Guido Mantega em um restaurante de São Paulo. O vídeo em que berram e chamam Mantega de ladrão, palhaço e sem-vergonha bateu recordes na internet.

Eram os dois cabras-machos capazes de enfrentar o ministro que atraiu para si os ódios da extrema-direita. Os adoradores da dupla terão de procurar outros valentes. Os dois foram confrontados na Justiça com o que disseram, pediram perdão a Mantega e entregaram os pontos.

Foi agora, dia 11 de setembro. Conseguiram ser valentes por 75 dias, desde os insultos de 28 de junho. Acovardaram-se. O gesto de grandeza não é deles, mas de Guido Mantega, que poderia ter levado o caso até o fim e arrancado uma boa grana dos garganteiros. O desfecho do caso serve para alguma coisa?

Outros valentões continuam agindo, ao vivo ou camuflados nas redes sociais. Os gritões são uma das faces patéticas do fenômeno produzido por maus perdedores.

Não são os atordoados pela crise, nem os jovens empolgados com a chance de demonstrar virilidade virtual. São também homens feitos, como os dois arrependidos de São Paulo, anabolizados pelo discurso do impeachment e do golpismo a qualquer custo.

Em Brasília, um valente famoso é o advogado Matheus Sathler, que não conseguiu se eleger deputado federal pelo PSDB. Há um vídeo em que o sujeito pede que a presidente se mate, ou ele irá arrancar sua cabeça com uma foice e um martelo e dependurá-la num poste.

O tucano de Brasília é o que Umberto Eco vê como o imbecil agressivo que a internet transformou em fenômeno de massa. Os raivosos, que choram quando veem imagens de náufragos de mares distantes (bem longe deles, claro) saltaram da mesa do bar para o palco do Facebook. Sentem-se grandões pelo poder de multiplicar aliados ao projeto de degolar a presidente.

Muitos estão sendo processados e logo vão acompanhar os covardes do restaurante de São Paulo. São matilhas de bravateiros. A valentia nunca foi uma virtude da direita extremada.

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